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Wind, de Joan Jonas, 1968, no Pavilhão da Bienal
plantas cresçam ao longo do ano oferece ao público a Já a obra de Deana Lawson apresentada em Vento
oportunidade de acompanhar os diferentes momentos fará o percurso oposto, seguindo esse esquema de
da transformação da instalação e confere longevidade reincidências. Apresentada pela primeira vez agora, ela
ao trabalho. retornará para a mostra da artista no evento principal da
O trabalho de Garrido-Lecca é feito com sementes bienal, programado para 2021. Neste trabalho em vídeo,
de feijão que eram utilizadas pela civilização pré-incaica a artista evidencia âmbitos distintos da cultura negra
moche em seu sistema de comunicação escrita (algo ao intercalar e sobrepor imagens de rituais religiosos
registrado nas cerâmicas deste povo). Essa mesma no continente africano e registros de grandes eventos
civilização desenvolveu entre os anos 100 e 850 um esportivos e musicais nos Estados Unidos. Como em
avançado sistema de irrigação ao qual a obra também suas fotografias, a observação da artista não é simplista,
se relaciona. O desenvolvimento ininterrupto da obra tendo ao mesmo tempo o olhar de um insider e de um
enfatiza o esforço curatorial da bienal de ser concebida voyeur. Da mesma forma, ela também caminha entre
como um processo: “A luz de novembro não é a mesma o registro documental e uma perspectiva mística ou
de fevereiro; agora cantos tikmũ’ũn ressoam ao redor onírica, na qual o tempo pode até mesmo retroceder.
das plantas, que cresceram, murcharam e voltaram a De modo geral, os trabalhos dentro da curadoria de
crescer”, afirma a organização. Vento reforçam uma resistência não opcional refletida
A repetição e a recombinação não são por acaso. no título da 34ª Bienal: Faz escuro mas eu canto. Além
Ambas foram incorporadas desde os primeiros estágios da pandemia, para os brasileiros 2020 contou com
do evento como uma estratégia conceitual para demons- incêndios criminosos no Pantanal, um apagão de 22 dias
trar que o significado de uma obra se transforma, se no Amapá e os desastres políticos intensificados pela
multiplica, conforme são alterados os contextos sensíveis caminhada das guerras culturais. Perto desse escuro,
e sociais. Isso fica latente tendo em vista a revisitação à as adaptações da bienal não parecem trágicas. Como
série Dilatáveis, de Regina Silveira, produzida durante a diria Joan Didion, “em um mundo perfeito, podemos
ditadura civil-militar brasileira, e a gravação de Palabras ter escolhas perfeitas; no mundo real, temos escolhas
Ajenas, de León Ferrari, que se comunica, agora, com a reais, e as tomamos, e medimos as perdas contra o que
manipulação na era da internet das coisas. poderiam ter sido os ganhos”.
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