Page 28 - ARTE!Brasileiros #51
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reportagem merCado
Trabalhos de Pedro França e Victor Gerhard (ao centro) apresentados pela Galeria Jaqueline Martins na feira Not Cancelled Brazil
negócios nos meses seguintes. Neste sentido, dados ficar, mas não acho que veio para substituir”, diz Gabriel.
recentes mostram um quadro que soa surpreendente “Provavelmente vai haver uma redução no número de
no contexto político e econômico vivido pelo país. Uma feiras, mas as grandes, que tem uma robustez econô-
pesquisa realizada em abril pela The Art Newspaper com mica maior, certamente vão continuar com os eventos
236 galerias ao redor do mundo mostrou que 34% delas físicos, mesmo que com atividades digitais paralelas”.
imaginam que não sobreviverão à crise gerada pela pan- Alexandre Roesler concorda: “Acho possível que elas
demia. Os dados mostram também que as galerias, na continuem acontecendo como um complemento das
média, calculavam uma queda de 72% em suas receitas feiras, até para ampliar o alcance de público. Mas a
anuais em 2020. Uma pesquisa semelhante realizada em experiência de estar presencialmente numa feira é
maio no Brasil - por Tamara Brandt Perlman, da Parte Arte muito diferente. Não é só o fato de ver a obra ao vivo.
e Cultura - revelou um quadro bem menos dramático para É porque você encontra e reencontra gente, mantém
as 47 casas nacionais entrevistadas. Com uma expectativa contato com uma rede de colecionadores, conhece ao
de redução de faturamento da ordem de 30%, apenas 4% vivo alguns artistas. Aí tem a festa, e às vezes você vai
das galerias imaginavam não sobreviver à crise, sendo que para outras cidades do país… Quer dizer, é uma vivência
23% das casas preveem crescimento no ano. que vai muito além de ver as obras ao vivo.”
Segundo a pesquisa, são as galerias menores e Por fim, Gabriel destaca um outro aspecto relevante
com menos anos de atividade as que demonstram dos eventos digitais: “O online tem muita transparência.
menor fôlego financeiro, caso a crise demore a passar. Você sabe o preço antes de perguntar, sabe o que está
Neste sentido, Karla Osório destaca que as feiras online vendido ou não, ou seja, tem uma coisa mais direta,
possuem um caráter de democratização importante, mais reta”. Mas talvez seja essa objetividade digital,
ao colocar todas as galerias no mesmo nível e com justamente, o que jamais poderá satisfazer totalmente
o mesmo espaço de apresentação. Ela não imagina, o mercado de arte. “Uma vez, discutindo sobre esse
no entanto, que a Not Cancelled Brazil, realizada em esgotamento com o diretor de uma feira, ele me disse que
caráter de urgência, passe a fazer parte do calendário as feiras nunca vão acabar porque as pessoas adoram
de feiras, já que eventos tradicionais como sp-Arte e eventos sociais. E é verdade”, conclui Jaqueline. “E não
ArtRio voltarão a acontecer. “Mas elas também terão de digo num sentido vulgar, mas é um lugar onde você vai
repensar seu modus operandi, porque esse momento encontrar pessoas, se comunicar, fazer contatos. E é
mostrou que é possível, com muito pouco gasto, ter difícil imaginar uma outra oportunidade para, em dois
uma presença digital forte”, afirma. ou três dias, se misturar a tantas pessoas de lugares e REPRODUÇÃO DA PÁGINA DO EVENTO
Modelos híbridos, em que presencial e virtual se culturas tão distintas.” Mas, sim, conclui Luisa Strina,
complementem, parecem o caminho mais provável, “a feira virtual veio para ficar, e as pessoas precisam se
segundo os entrevistados. “O formato online veio para acostumar”
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