Page 26 - ARTE!Brasileiros #51
P. 26

reportagem merCado



            não se sabe. “Provavelmente no futuro vai ter algum   feira caríssima como a Basel? Seria impensável correr
            custo, mas não se compara ao de uma feira normal”,  esse risco presencialmente. Então acho que esse des-
            diz Strina. Desse modo, por mais que o número de   prendimento que o online nos proporciona é também
            vendas tenha sido mais baixo do que o de costume - o   maravilhoso, e nós temos que explorar isso.”
            que é confirmado pelos galeristas -, a quantidade de   Karla Osório, responsável pela realização da edição
            transações necessárias para não sair do evento no   brasileira da Not Cancelled - uma feira criada original-
            vermelho é infinitamente menor, já que os custos se   mente pela agência austríaca Treat e que já teve ver-
            resumem à preparação de fotos, vídeos ou campanhas   sões em outros países - diz perceber também um novo
            de divulgação. “Com bem menos vendas, eu diria que   perfil do público comprador, de faixa etária mais baixa.
            no saldo final nós tivemos resultados melhores na Frieze  “Todos os novos clientes que eu tenho agora no período
            e na Basel esse ano do que no ano passado. Porque   da pandemia, cerca de 20 pessoas, têm no máximo 45
            quando a despesa é zero, você vende uma obra e já   anos”. Segundo artigo publicado recentemente pelo The
            está no lucro”, ressalta Gabriel.               New York Times, uma espécie de conflito de gerações
                                                            estaria ocorrendo no mercado de arte durante a pan-
            outras prátiCas, novos Comportamentos           demia, considerando que colecionadores mais jovens
            Os resultados alcançados pelas galerias são varia- se mostram mais dispostos a comprar virtualmente e
            dos. Algumas passaram em branco em determinado   os mais velhos (em geral com maior poder aquisitivo)
            evento, mas venderam bem em outro. Os galeristas   são mais reticentes. Deste fato decorreria também uma
            percebem também que a rápida evolução nas plata- escolha, por parte de muitas galeristas, de expor nas
            formas disponibilizadas pelas feiras têm ajudado a   feiras obras “mais baratas”, mais suscetíveis de serem
            aumentar as interações. Para Eliana Finkelstein, da   vendidas aos millennials - geração nascida nos anos
            galeria Vermelho, o número de visitações aos viewing  1980 e 1990. “Até um certo limite de preço você conse-
            rooms e os contatos com possíveis novos clientes de   gue trabalhar bem virtualmente”, diz Finkelstein.“Na
            variados países surpreenderam positivamente a galeria,  Not Cancelled levamos só obras de até 16 mil reais.”
            que até agora participou da Frieze e da Not Cancelled.   A constatação de que os colecionadores experien-
            Ela destaca, ainda, a necessidade de se compreender  tes estão mais reticentes a comprar virtualmente, no
            as novas formas de trabalhar no universo digital. “Eu   entanto, não é compartilhada por todos os galeristas
            acho que há obras que se adequam muito bem ao meio   entrevistados. Segundo eles, a prática de vender obras
            virtual, como uma fotografia por exemplo. Outras são   a partir da troca de imagens - basicamente por What-
            mais difíceis.” Alexandre Roesler vai na mesma direção:   sapp - já é corrente muito antes da pandemia. “Eu diria
           “Talvez um quadro ou uma foto sejam mais fáceis de   que 50% das vendas da minha galeria, e posso dizer
            visualizar do que uma escultura, ou uma pequena peça   que de muitas outras também, já acontecia online, com
            de renda, por exemplo”.                         essa troca de fotos”, ressalta Jaqueline. “Claro que isso
               Nesse sentido, o galerista vislumbra ainda outros   é mais raro com novos clientes, mas para um cliente
            caminhos de criação. “É possível conceber experiências   assíduo, que já confia em você e conhece o artista,
            digitais diferentes. Veja o que os programadores de   isso é comum. Então eu acho também que o recuo do
            games são capazes de fazer, por exemplo, com a realidade   mercado não se deu só por esse fato das vendas online,
            virtual”. Para as próximas feiras, portanto - incluindo a   mas porque entramos num caos de saúde, econômico
            sp-Arte, que deve anunciar em breve sua versão online   e político.” Alexandre Roesler diz o mesmo: “A gente já
           -, novas possibilidades passam a entrar na mira dos   vende obras por Whatsapp há vários anos. É raro hoje
            galeristas. Finkelstein ressalta que passa a não haver  em dia o colecionador ir à galeria”. Para ele, isso se
            limites de peso ou espaço para apresentar uma obra;   relaciona, inclusive, com o boom no número de feiras
            Strina considera que uma feira virtual funcionará melhor  nas últimas décadas - eventos em que o comprador
            com obras mais alegres e coloridas; Gabriel destaca a   pode ver em um só lugar centenas de galerias.
            vantagem de poder apresentar obras que estão fisica-
            mente em diferentes lugares do mundo, sem precisar  Crise eConômiCa                              FOTOS: EDUARDO ORTEGA | DIVULGAÇÃO
            transportá-las; Jaqueline, por sua vez, relembra que a   O recuo de mercado destacado por Jaqueline foi citado
            galeria londrina Rodeo apresentou em seu viewing room   também por todos os outros galeristas, especialmente
            na Basel apenas obras sonoras. “Quando eles teriam   no que se refere ao primeiro mês de isolamento social.
            coragem de fazer um investimento físico desse em uma  Todos constatam, também, uma retomada gradual dos

            26
   21   22   23   24   25   26   27   28   29   30   31