Page 74 - ARTE!Brasileiros #50
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NAS BORDAS VILA ITORORÓ
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Como rotular a vila itororó?
Como Casa de Cultura? Teatro?
Museu? Sabemos das limitações
das políticas públicas que precisam
encaixar em rubricas burocráticas
uma realidade singular que foge à
regra geral. Porém, entre uma ges-
tão e uma outra, houve um contínuo
esforço da Secretária Municipal da
Cultura (SMC) para adequar os dois
lados da equação.
É impossível olhar para a
complexa história da Vila Itotoró
sem levar em consideração que o
local sempre foi um lugar de mora-
dia (popular e burguês) e de lazer
(tendo uma das primeiras piscinas
da cidade). É lamentável que o reco-
nhecimento da importância da Vila
como patrimônio passou pela reti-
rada do que faz dela ser justamente
um patrimônio – os seus moradores.
É como se o desejo (de preservar)
matasse o seu objeto (a Vila). Não
por acaso, a Vila atravessou os tem- uma cidade repleta de canteiros da história da cidade”, para elabo-
pos justamente por ter ficado um abandonados, de políticas públicas rar novas perguntas: o que pode
tanto à margem da especulação descontinuadas e de promessas não ser agora? Como sua história e as
imobiliária – o relativo abandono cumpridas… E quando São Paulo necessidades atuais da cidade infor-
foi seu maior fator de preservação. vai ficar pronta? O poder público mam seu potencial? Como ativá-lo?
Hoje, estando sob os holofotes, é se sente na obrigação de propor O que é público? O que é cultura?
preciso ter cuidado para não des- respostas como se um plano irrea- – e assim inventar o que o arquiteto
truí-la de vez. lizável reconfortasse mais do que Yona Friedman chama de “utopias
uma mirada realista sobre as nossas realizáveis”, um exercício radical de
o Futuro não existe capacidades de agir no presente. imaginação, porém, dentro de uma
Quando vai ficar pronto? O que vai possiblidade de atuação que visa
ser? São as primeiras perguntas a espessura Do presente dar espessura ao presente.
que os visitantes fizeram ao aden- Tentar responder a uma pergunta
trar o canteiro de restauro da cen- errada é a garantia de que nunca o Centro Cultural
tenária Vila Itororó quando abriu encontraremos a resposta certa. Por temporário
seus portões ao público em 2015, isso, o projeto Vila Itororó Canteiro O galpão anexo à Vila virou um ARQUIVO MILU LEITE | CAMILA PICOLO
já esvaziada dos seus moradores. Aberto evitou respostas superfi- experimento, em escala real, do
É curioso como a crença no futuro ciais como “residência artística”, que poderia ser a Vila uma vez reno-
persiste apesar de vivermos em “centro cultural público”, “museu vada… ou melhor, habitada. Muitas
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