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Mariana Palma,
                                                                                                  Sem Título, 2012,
                                                                                                  e Mariana Palma,
                                                                                                  Sem título, 2017.

                 Nas pinturas de Mariana Palma, os
                 campos são trabalhados com requinte
                 e se sobrepõem, se interpenetram,
                 criando múltiplos planos de sedução.
                 Como escreve Paulo Reis, sua obra
                 é uma “pintura de ourivesaria”.











                  da arte, combinando alusões que   jorram sobre duas bacias repletas de   suas composições do caráter sin-
                  vão dos primorosos planejamentos   um azeite escuro e apenas iniciam um   tético e um tanto enigmático de
                  renascentistas, à pintura setecentis- mergulho que promete ser profundo,  suas composições. Também evita
                  ta holandesa – com seu amor pelos   e uma enorme tela na qual brotações   propositalmente a inclusão da figura
                  detalhes – e um evidente inebria- da mesma natureza são representa- humana em seus trabalhos. Suas
                  mento, que a aproxima tanto dos   das em tons extremamente sutis que   narrativas prescindem dela, parece
                  barrocos como dos românticos.   vão do cinza claro ao quase negro,  que a tornariam menos densa. Os
                    Há na exposição alguns inte- algo surpreendente para alguém que   objetos, muitas vezes vistos numa
                  ressantes encontros entre as obras,  costuma de entregar com vontade à   proximidade asfixiante, falam por si   EDOUARD FRAIPONT | COLEÇÃO PARTICULAR
                  como aquele que se dá entre a úni- uma profusão de cores.       só de nossos desejos. Táteis, visuais,
                  ca peça escultórica, na qual galhos   Curiosamente Mariana evita o   afetivos. E parecem comprovar que,
                  de palmeira (em uma inquestionável   uso de títulos. Como se qualquer  na ausência, o humano talvez se faça
                  referência ao sobrenome da artista)   sugestão narrativa fosse desviar  mais presente.


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