Page 48 - ARTE!Brasileiros #50
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EXPOSIÇÕES SÃO PAULO






                  AS TRAMAS




                  VISUAIS DE




                  MARIANA PALMA









                              A artista mostra um resumo coeso de sua produção
                              em exposição no Instituto Tomie Ohtake

                              por maria hirszman












                  um Dos Destaques da jovem pin- inusual, criando harmonias precisas,  e livre dos preceitos da ciência.
                  tura brasileira, movimento que sur- porém instáveis, ora preenchendo   Ela apresenta ao público compo-
                  giu com força nos primeiros anos   todos os espaços numa composição   sições inusitadas, como uma mescla
                  do século 21, Mariana Palma mostra,  claustrofóbica, ora submergindo-os   improvável entre uma pena de pavão
                  no Instituto Tomie Ohtake, um con- num vazio intrigante.        e uma concha, em associações de
                  junto amplo e impressionantemente   Em suas pinturas, os campos   um erotismo sugestivo e que pare-
                  coeso de trabalhos, construídos ao   são trabalhados com requinte e   cem pautadas por uma premência
                  longo de uma carreira que já dura   se sobrepõem, se interpenetram,  em captar o momento preciso entre
                  duas décadas. Explorando múlti- criando múltiplos planos de sedu- a vida e a morte, o desabrochar e o
                  plas linguagens, mas atenta a um   ção. Como escreve Paulo Reis, sua   fenecer.  Não por acaso a curadora
                  universo muito familiar de questões,  obra é uma “pintura de ourivesaria”.  Priscyla Gomes associa em seu texto
                  motivos e referências, a artista con- Nos desenhos, vídeos e fotografias,  o conjunto de obras de Mariana com
                  segue ao mesmo tempo seduzir e   o processo parece inverter-se e o   o mito de Orfeu e Eurídice, subli-
                  confundir o público.            vegetal representado reina sozi- nhando a fugacidade e intensida-
                    Como uma espécie de ilusio- nho no centro de um grande vazio   de do encontro, o equilíbrio que
                  nista, Mariana parte sempre de   branco (leite) ou negro (azeite), de   em vários trabalhos Mariana tenta
                  elementos aparentemente saídos   forma a amplificar os detalhes como   encontrar entre a vitalidade do novo
                  de uma intimidade associada ao   nos desenhos ricamente trabalha- e a certeza da finitude.
                  feminino: flores, folhas, brotos, teci- dos dos cientistas viajantes. Com   Além das claras remissões aos
                  dos, peles, azulejos, abstrações que   a diferença que Mariana apenas   grandes mestres do desenho de
                  remetem aos papéis marmorizados,  aparenta buscar a fidelidade, quan- botânica como Albrecht Dürer e
                  valorizados nas capas dos livros   do na verdade reconstrói a natureza   Margareth Mee, são múltiplas as
                  antigos. E os combina de maneira   por meio de um olhar bem pessoal   referências que ela faz à história


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