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BIENAIS 21ª BIENAL SESC_VIDEOBRASIL
A INTERNACIONALIZAÇÃO DA SESC_VIDEOBRASIL
CONVERSA COM SOLANGE FARKAS: FUNDADORA E DIRETORA
DO PROJETO FALA SOBRE A EVOLUÇÃO NA PESQUISA
SOBRE A ÁFRICA, AMÉRICA, ORIENTE MÉDIO E CARIBE
POR MARIA HIRSZMAN
COM 21 EDIÇÕES E 36 ANOS DE EXISTÊNCIA, o
Sesc_Videobrasil se afirma como um dos mais potentes
e longevos eventos culturais do país. Na atual edição,
que pode ser vista até fevereiro de 2020, no Sesc 24 de
Maio, a mostra realizou algumas importantes mudanças
em sua estrutura. Dentre elas, estão a incorporação
de um tema não só para a seleção dos trabalhos, mas
já anunciado antes que os artistas inscrevessem seus
projetos (Comunidades Imaginadas foi o fio condutor anos 1990, nota-se um certo desapontamento, uma
adotado para a atual edição); a ampliação da equipe frustração da esperança de que o vídeo ocuparia um
curatorial; e — talvez a mais impactante das alterações espaço mais significativo no cenário cultural. “Passamos
— a transformação do evento em uma Bienal. do romantismo ao pragmatismo e, diante da percepção
O termo Bienal, incorporado ao título do evento que de que não íamos ocupar a TV, as pessoas passaram a
passa a ser chamado de Bienal de Arte Contemporâ- investigar e experimentar mais intensamente as espe-
nea Sesc_Videobrasil, não é apenas uma informação cificidades da linguagem”.
de periodicidade ou um golpe de marca. Assumir-se Na esteira desse processo, houve um importante pro-
como um evento do gênero insere a agora bienal numa cesso de internacionalização, primeiro reunindo e
ampla agenda internacional de arte contemporânea. mostrando no Brasil o melhor da cena internacional
É uma maneira de reafirmar-se como parte de um cir- e as bases históricas da videoarte e, na sequência,
cuito amplo e ativo de ação cultural. O Brasil já possui abrindo espaço para uma jovem e intensa produção,
duas outras importantes Bienais, a de São Paulo e a do de difícil acesso, oriunda do sul geopolítico. “Havia
Mercosul, mas o campo do Videobrasil é bem delimi- um desconhecimento, uma ignorância muito grande
tado: atua de maneira clara na contramão dos núcleos sobre a história do vídeo aqui”, conta. O resultado
hegemônicos, congregando basicamente artistas e desse mapeamento pode ser mensurado no arquivo
pensadores da África, América, Oriente Médio e Caribe. de quase três mil trabalhos reunidos no acervo da
“É esse o lugar que temos que pesquisar, temos que Associação Videobrasil, disponível para consulta. “É
investigar”, diz Solange Farkas, idealizadora e atual um amplo material que permite entender esse lugar
diretora artística do projeto. da invisibilidade crítica”, acrescenta.
Ela faz questão de ressaltar a importância de manter o Segundo ela, a estratégia de se assumir como uma bie-
evento sempre pronto a adaptações. O Sesc_Videobrasil nal especializada vem se desenhando há três edições,
já se assemelhou a uma mostra de cinema, já assumiu quando trouxe o trabalho de Olafur Eliasson para o
a identidade de um grande festival e agora conclui uma Brasil. Dentre os desafios que se colocam para o novo
etapa importante desse lento processo de sair da caixa modelo do evento, Solange cita a incrementação dos
preta da sala de cinema e ir para o “cubo branco” do diálogos internacionais e locais, agregando grupos e
espaço expositivo. “A primeira década foi para entender questões tradicionalmente relegadas à margem. “Não
a produção de vídeo no Brasil”, explica Solange. Nos adianta ficar ensimesmado”, conclui.
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