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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO










































             ACIMA, GISELLE BEIGUELMAN, PERGUNTAS ÀS PEDRAS, SÉRIE 2, 2019, NEÓN. NA PÁGINA AO LADO, RAFAEL PAGATINI, DETALHE DA INSTALAÇÃO TECITURAS, 2019, IMPRESSÃO EM CANVAS




             “OS ARQUIVOS, POR SI SÓ, NÃO TÊM MEMÓRIA. É com   artística surge – com suas peculiaridades – como prática
             eles que você constrói memória”, afirma a pesquisadora e   historiadora, a partir de um desejo de tornar públicas his-
             curadora Ana Pato. E neste processo de leitura, interpre-  tórias pouco conhecidas e de, muitas vezes, questionar a
             tação e significação de documentos e registros – tradicio-  historiografia oficial. Pois, como ressalta Giselle Beiguelman
             nalmente associado à prática acadêmica de historiadores e   em trabalho exposto na mostra, a memória é sempre uma
             outros pesquisadores – os artistas têm papel fundamental,   construção. “O que você esqueceu de esquecer? O que você
             defende Pato, curadora da exposição Meta-Arquivo: 1964-  esqueceu de lembrar? O que você lembrou de esquecer?
             1985 - Espaço de Escuta e Leitura de Histórias da Ditadura.   O que você lembrou de lembrar?”, questionam as frases
             A partir desta constatação, a mostra em cartaz no Sesc   escritas em neons.
             Belenzinho, criada em parceria com o Memorial da Resistên-  A própria artista, na instalação Gaveta de Ossos, “lem-
             cia, reúne trabalhos inéditos de nove artistas, concebidos   bra de lembrar”, através de fotos e áudio, do trabalho de
             a partir de pesquisas em diferentes arquivos públicos e   reconhecimento feito com as ossadas na Vala de Perus,
             privados sobre a ditadura brasileira. “Porque colocar em   onde foram enterrados clandestinamente diversas pessoas
             movimento uma documentação passa sempre por um pro-  assassinadas pela ditadura. Paulo Nazareth, em Inquérito,
             cesso de mediação”, diz a curadora. Os mediadores, neste   discute a criminalização dos negros a partir da leitura de
             caso, são os artistas e coletivos Ana Vaz, Grupo Contrafilé, O   inquéritos policiais encontrados pelo artista e transfor-
             Grupo Inteiro, Giselle Beiguelman, Ícaro Lira, Mabe Bethônico,   mados em áudios – em trabalho feito em colaboração com
             Paulo Nazareth, Rafael Pagatini e Traplev.        Michelle Matiuzzi e Ricardo Aleixo.
             As obras, em variados suportes e linguagens, colocam   Em Escola de Testemunhos, o Grupo Contrafilé reproduz
             em movimento informações e materiais que escancaram   em fones de ouvido – situados em uma “mesa-lousa”
             as violências perpetradas pelo regime militar ao longo de   rodeada de cadeiras escolares – relatos de ex-presos   FOTOS: JULIO KOHL
             21 anos em diferentes âmbitos da vida nacional. A prática   políticos e seus familiares pertencentes ao arquivo do


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