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INSTITUIÇÃO ENTREVISTA
TRABALHAR COM MEMÓRIA É
TRABALHAR COM O PRESENTE
O CURADOR PORTUGUÊS JOÃO FERNANDES, NOVO DIRETOR ARTÍSTICO DO INSTITUTO MOREIRA SALLES
(IMS), PRETENDE TRABALHAR COM ACERVOS DA INSTITUIÇÃO PARA REFLETIR O MOMENTO ATUAL
POR FABIO CYPRIANO
novas narrativas na história da arte.
Conhecedor da arte brasileira em
profundidade, visitante regular do
país desde 1998, quando indicou a
representação portuguesa na bienal
que tratou da Antropofagia, Fernan-
des conta seus novos planos em sua
nova função:
ARTE!Brasileiros — Como é chegar em um
momento tão dramático no Brasil, que até
a noite chega no meio da tarde?
JOÃO FERNANDES — Eu fiquei admi-
rado, não sabia o que estava pas-
sando, imaginei que no inverno
São Paulo escurece às 15h da tarde
(risos) como ocorre na Alemanha.
Pois é, mas chegar em meio a tudo isso
não carrega uma certa urgência, apesar
JOÃO FERNANDES PARTICIPOU DO V SEMINÁRIO ARTE!BRASILEIROS: ARTE ALÉM DA ARTE EM 2018 de o IMS ter tido mostras muito relevantes
sobre a história e o momento brasileiro
DESTRUIÇÃO DA AMAZÔNIA, guerra contra as artes. como Corpo a Corpo, Conflitos ou mesmo da Claudia Andujar, A
Apesar do clima de catástrofe, o curador João Fernan- luta Yanomami, nos últimos dois anos?
des chega otimista. “O Brasil no meio de toda dimensão Eu vim para o Brasil porque achei que era importante
trágica de sua história, sempre conseguiu criar formas estar no Brasil. Reconheço que o convite me surpreen-
de superar esses traumas”, observa de sua nova sala, deu, estava longe de minha expectativa sair do Reina
na avenida Paulista, exatamente do outro lado da sede Sofia tão cedo. Mas quando João [Moreira Salles] e
do Instituto Moreira Salles. Flávio [Pinheiro] me pediram para pensar na possibili-
Respeitado no circuito internacional, Fernandes esteve dade de assumir a diretoria artística do instituto, há um
à frente da Fundação Serralves, no Porto, entre 1996 e ano, confesso que fiquei muito fascinado. Isso porque
2012, hoje uma das mais renomadas em arte contempo- conhecia uma parte dos acervos do instituto e da sua FOTO MARINA MALHEIROS
rânea, e atuou seis anos como diretor artístico do Reina programação e, ao mesmo tempo, acho que o instituto
Sofia, em Madri, instituição essencial para a criação de tem uma condição ideal em sua autonomia com seus
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