Page 41 - ARTE!Brasileiros #46
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NA PÁGINA ANTERIOR, ALTO, RESIDÊNCIA ARTÍSTICA CRIADA POR
MARIANNE SOISALO, LOCALIZADO NAS MONTANHAS DE ALTO PARAÍSO
DE GOIÁS. À ESQ., OBRA DA ARTISTA MANUELA MEDEIROS E ABAIXO,
OBRA DO ARTISTA ROMAIN DUMESNIL
com a terra e com a sustentabilidade. É o caso, por exem- da fita de Moebius, onde dentro e fora se constitui
plo, da escritora inglesa Olivia Sprinkel, que irá passar como mesmo espaço. Enquanto a obra de Clark é em
um tempo lá nos próximos meses, escrevendo sobre o papel, a revisão de Medeiros é com folhas de árvores
aquecimento global,. de Bananeira.
Contudo, não são apenas ativistas os convidados, mas Se por um lado a experiência em Alto do Paraíso é
também aqueles interessados na temática, como foi o deslumbrante, por conta da diversidade das florestas e
caso dos artistas Manoela Medeiros e Romain Dumes- cachoeiras da região, ela também é desafiadora frente
nil, que passaram duas semanas por lá no final do ano aos conflitos com o agronegócio. Foi ele, provavelmente,
passado, a convite de Dutra. Juntos, eles possuem o o responsável pelo incêndio ocorrido em outubro de
Átomos, um espaço de arte autônomo, no Rio de Janeiro. 2017, que destruiu 35 mil hectares de vegetação do
Já passaram pela residência a convite de Dutra as artis- cerrado no Parque Nacional dos Veadeiros, logo após
tas Marcia Ribeiro, Julie Beaufils, Daniela Fortes e Bia sua expansão em cerca de três vezes. Especula-se
Monteiro, sendo que, ainda em 2019, está programada que o incêndio, iniciado ao mesmo tempo em muitos
a vinda do artista Ivan Grilo. lugares diferentes, teria sido uma contraofensiva dos
“Acho importante deslocar para fora dos grandes centros fazendeiros.
urbanos os espaços de produção e reflexão em arte”, Com essa situação de polarização, o que afinal é o
defende Dutra. retrato do Brasil atual, ALTO se torna uma experiência
Uma das obras criadas por Medeiros na residência é de imersão em um santuário ecológico que, longe de
uma releitura de Caminhando, obra emblemática criada ser mero turismo, é afinal outra forma de vivenciar os
por Lygia Clark, em 1964, por sua vez uma apropriação conflitos e dilemas mais centrais do país.
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