Page 12 - ARTE!Brasileiros #45
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O TRABALHO DE SER LIVRE

             POR PATRICIA ROUSSEAUX, DIRETORA EDITORIAL













             A ARTE AJUDA A SE LIBERTAR E A LIDAR COM O SOFRIMENTO. Há alguns anos
             vivemos uma grande reviravolta no Brasil e no mundo com a convocação de diferentes
             forças, tanto políticas, como religiosas e sociais, que optaram por ideários e estratégias
             ideológicas já ultrapassadas há mais de 50 anos.
             De repente, nossa falta de soluções econômicas, nossa decepção com a administração do
             Estado e o comportamento de partidos e instituições e o fracasso das elites, incapazes
             de dividir nada, se tornaram terreno propício para a escolha pelo atraso, ao contrário
             de países desenvolvidos que tiveram o papel de zelar pelo cidadão comum, produzindo
             certo avanço na democracia e nos costumes.
             É interessante ver que, apesar de tudo ter começado como um argumento de certos
             grupos isolados que enalteciam a luta contra a corrupção, rapidamente isto se mostrou
             “secundário” e até falso.
             As máscaras caíram, como na pintura de Andre Griffo, nas páginas desta edição, e o
             verdadeiro discurso apareceu: “a ideologia é pior que a corrupção” disse nas midias
             oficiais Jair Bolsonaro, Presidente eleito no Brasil por 1/3 dos votos no país.
             Não tenha a menor dúvida, o que importa é a ideologia. A ideologia de cada um é nosso
             capital cultural, o que pensamos sobre... no que acreditamos... o que valorizamos e a
             quem. O quanto nos indignamos com o sofrimento que nos é impingido e aos outros.
             Quais são nossos valores? Nossa ética. E, é verdade, dependendo de tudo isso, você
             até também vai ser um corrupto.
             Na arte, a capacidade de criar e falar é infinita. Por isso, também a arte é passível de
             censura. À arte nada escapa. A arte tem a capacidade de fazer pensar, antes de obedecer.
             E tem a capacidade de criar disrupções molestas seja quando é explícita ou quando é
             sutil. O fato de entrarmos em contato com a obra já é mobilizador.
             Não obstante, em momentos agudos de enfrentamento, a arte se torna um canal
             libertador e muitos artistas escolhem a obra e seu trabalho como forma de militância.
             Não por nada, de um jeito ou de outro, nossas edições deste ano trazem exposições e
             coletivas plenas de significados.
             Hoje, nos perguntamos. Quem decidiu que este é um País de brancos? Os brancos.
             Quem decidiu que este é um País de indivíduos sem autonomia na escolha de gênero?
             Os incapazes de respeitar as diferenças. Quem decidiu que a escola não vai ser um
             espaço democrático para discutir as diferentes ideologias? Os incapazes de respeitar
             as diferenças e que têm, sim, uma determinada ideologia. Quem decidiu que o Estado
             não é mais laico? Os incapazes de respeitar as diferenças, que têm uma determinada
             ideologia e que defendem sim, uma religião só.
             Na contra mão, nós, vamos em frente, com tudo aquilo que aprendemos, acompanhamos
             e respeitamos  do que é produzido e criado na diversidade deste país. Como símbolo,
             está aí na capa, Rubem Valentim, brasileiro, negro, pintor da década de 50/60, maravi-
             lhoso, seja como construtivista ou exímio representante da sua “ideologia”. E dentro da
             edição uma coletânea de textos, artigos, memórias, exposições e obras que representam
             em toda sua magnitude uma enorme quantidade de trabalho pelo desejo de liberdade.
             Boa leitura!





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