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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO















             QUE INTRANSIGÊNCIA une mais de cem artistas
             e ativistas em torno de, em exposição na Pinaco-
             teca do Estado? O esforço desafiador das cura-
             doras Cecilia Fajardo-Hill, venezuelana radicada
             nos EUA e Andrea Giunta, argentina, resultou no
             resgate de vários sujeitos, que atuam em cenários
             diferentes, mas ligados a desejos de experiências
             feministas, lutas pessoais, políticas e libertárias
             comuns. A tensão entre território e subjetividade
             perpassa pelo corpo feminino que carrega várias
             camadas de lugares. As 125 artistas e coletivos,
             vindos de quinze países, se expressam por meio
             de performances, vídeos, pinturas, fotografias,
             esculturas, cerâmicas, desenhos. Segundo Cecilia
             Fajardo, muitas obras produzidas por mulheres
             têm sido marginalizadas por uma história da
             arte dominante, canônica e patriarcal. No caso
             da América Latina, a relação entre corpo e violên-
             cia é central. Andrea Giunta cita prisões ilegais,
             torturas, nascimentos em centros de detenção
             secretos, roubo de crianças, em muitos casos,
             nunca solucionados. “ Essas são algumas das
             circunstâncias que marcaram a situação do corpo,
             em geral, e do corpo feminino, em particular, sob
             as ditaduras latino-americanas”. Motivação ritua-
             lística, feminista e política movem os trabalhos de
             María Evelia Marmolejo, presente na abertura da
             mostra, cuja obra Cecília Fajardo conhece bem e,
             evoca em nossas conversas, uma das mais vicerais,
             a 11 de Marzo. Para ela, a performance é como um
             ritual, uma celebração do corpo feminino e papel
             central das mulheres na origem da vida. María
             Evelia apresentou na conversa com jornalistas,
             algumas das razões que construíram o trauma na
             sua obra. Ela, quando jovem, tinha uma menstrua-
             ção caudalosa e sempre manchava, manchava a
             roupa, os lugares onde sentava e isto era objeto
             de bullying, numa época em que o bullying não
             era reconhecido ou combatido. Sua história é uma
             história feminina não necessariamente feminista.
             Em montagem correta, se estende em salas da


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