Page 95 - ARTE!Brasileiros #43
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“ALÉM DE UMA VASTA PRODUÇÃO CRÍTICA E ACADÊMICA
NA ÁREA, MARIA ANGÉLICA TAMBÉM CONTRIBUIU
PARA A FORMAÇÃO DE NOMES IMPORTANTES DA ARTE
CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA, COMO CINTHIA MARCELLE,
PAULO NAZARETH E MARILÁ DARDOT”
Kassel, em 2007. Essas sobreposições de histórias,
ao contrário de muitos textos acadêmicos, não
visam uma síntese, mas constroem-se em mosaico.
Com tal estratégia, Melendi acaba criando pequenos
inventários de temais relevantes para a produção
artística como o uso de mapas, não por acaso o
tema do primeiro ensaio “Da adversidade vivemos
ou Uma cartografia em construção”. Nele, a pro-
fessora reúne desde o icônico “Mapa Invertido”
da América do Sul, desenho de Joaquim Torres-
-Garcia, de 1946, ao desconhecido mapa de Marcel
Duchamp, “Adieu à Florine”, de 1918, quando o pai
da arte conceitual deixa Nova York para viver em
Buenos Aires. O grande ponto de interrogação
sobre a América do Sul não deixa de ser um contra-
abandonada, uma ruína, “o membro amputado de ponto divertido frente à inversão de Torres-Garcia.
um corpo que nunca vingou”. A essa ruína ela vai Assim, em cada texto, Melendi agrega ao tema,
agregando várias outras, seja a cidade de Brasília muitas vezes brutal como a violência da ditadura
“congelada e imutável”, seja a cidade de Havana militar, obras, autores e casos que permitem ao
pelas obras de Carlos Garaicoa na 26ª Bienal, de leitor perceber como artistas vem abordando
2003, ou mesmo uma intervenção de Seth Wulsin questões essenciais como a memória, o corpo, ou
em um edifício abandona de Buenos Aires, che- arquivos. Para compreender a arte contemporânea
gando a obra de Ai Weiwei na documenta XII, de é um livro essencial.
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