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MARTHA ARAÚJO, BRASIL, HÁBITO/HABITANTE (HABIT/INHABITANT), 1985








                             também na Pinacoteca (instituição que de longe   abertura maior para outras formas de pensar e
                             realiza a programação mais feminista de 2018),   produzir arte”, diz ela. Essa mudança decorre de
                             Rosana Paulino lembra que durante anos teve   múltiplos fatores, como uma maior consciência
                             seu trabalho – baseado em experiências vividas   política e social, o arrefecimento do formalismo
                             por ela e por grupos próximos, como as mulheres  como caminho único e a internacionalização da
                             negras – mais reconhecido no exterior do que no   produção. “Não dá mais para ignorar esta nova
                             País. Ela conta ter recebido vários convites para   postura mundial, fingir que isto não existe, com o
                             estabelecer residência fora e que só ficou por   risco de ficar preso no século XX quando o resto
                             teimosia. “Resolvi ficar porque achei que a cena   do mundo já entrou no XXI”, constata.
                             brasileira necessitava de discussões como a que   Esse descompasso histórico, a necessidade de
                             eu propunha. E confesso que não me arrependo   dar continuidade a mobilizações iniciadas déca-
                             desta escolha. É muito bom, surpreendente até,   das atrás, é algo também levantado por Josely
                             ver a produção que está vindo por aí. Achei que   Carvalho, cuja exposição “Diário de Cheiros – Teto
                             não veria isto em vida. E é claro que isto reflete   de Vidro” é um dos destaques da temporada no
                             em minha produção, quando opto por discutir   MAC. A artista, que muda para os EUA após o
                             temas que a sociedade brasileira sempre varreu   golpe militar e vive em Nova York desde a década
                             para debaixo do tapete, como as marcas deixadas  de 1970, onde se engaja no movimento feminista
                             pela escravidão no país”, afirma.             de arte contemporânea, se diz “assombrada por
                             A artista considera que essa maior abertura   estarmos falando a mesma coisa do que nos
                             decorre do caráter urgente das questões com   anos 1980”. Incomodada com o fato de ter sido
                             que trabalha e de uma maior liberdade de esco-  longamente rotulada de “feminista” no Brasil,
                             lha do caminho a ser seguido. “Vivemos uma   ela acredita que vivemos um momento propício


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