Entrevistas, depoimentos históricos e ensaios inéditos compõem um banquete editorial sobre José Celso Martinez Corrêa — o Zé Celso, fundador do Teatro Oficina. Lançado em maio de 2025, o livro da Edições Sesc presta homenagem ao famoso encenador, que marcou a história da arte brasileira por suas críticas políticas, pela antropofagia posta em palco e pela escolha de uma poética que celebrava a liberdade. O devorador: Zé Celso, vida e arte é organizado pelo jornalista Claudio Leal e compila textos de autorias diversas para nos servir um retrato multifacetado do artista, que faleceu em julho de 2023 aos 86 anos.
Nascido em 1937, em Araraquara (SP), José ingressou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco nos anos 1950; mas ao invés de tornar-se advogado, uniu-se a outros estudantes para criar um grupo teatral. Em 1961, profissionalizaram o Teatro Oficina,“destinado a questionar, provocar, inverter, convulsionar tudo”, como pontua o escritor e jornalista Ignácio Loyola Brandão.
A companhia mudaria sua composição e sua linguagem estética ao longo dos anos, persistindo ainda hoje como importante coletivo artístico. Se em 1964, o crítico de arte Sábato Magaldi se referiu a uma das montagens do grupo — Pequenos burgueses, do dramaturgo Máximo Gorki — como “o melhor espetáculo realista que o Teatro Brasileiro já encenou”; em 1967, eles surpreenderam. Mudaram os rumos do teatro nacional com a primeira encenação de O rei da vela, texto de Oswald de Andrade. As diversas peças que se seguiram na história do Oficina, propuseram resistência artística à ditadura civil-militar brasileira e uma crítica latente à classe média. Nos anos 1990, deram traços brasileiros à tragédia grega, com a icônica encenação de As bacantes, de Eurípedes e, nos anos 2000, reconstruíram Os sertões, de Euclides da Cunha, para pensar o massacre de Canudos e as possibilidades de desmassacre nas Canudos modernas. Desde a fundação, como grupo amador, Zé esteve na linha de frente da companhia. “Foram mais de trinta grandes espetáculos e ele se excedeu em cada um”, destaca Ignácio Loyola Brandão. No dia de sua morte, consequência de um incêndio no apartamento onde morava, Zé seguia trabalhando, desta vez dedicado a uma montagem teatral de A queda do céu, de Davi Kopenawa e Bruce Albert.
Assim como nesta matéria, em O devorador, o diretor e o Teatro Oficina são duas esferas que por vezes se misturam. A história do criador e da criatura não são a mesma, mas se entrelaçam e atravessam. Isso talvez seja explicado pelo fato de que, como escreve Bete Coelho para o livro, Zé tinha um “modo de viver em que não se separa vida da profissão”.
O banquete
Em um dos primeiros textos dessa leitura, o músico José Miguel Wisnik nos alerta sobre outra característica central de Zé: “seu apetite de vida em ato era assombroso”. A publicação parece espelhar isso, já que só redigir um perfil do artista não daria conta dessa fome de mundo.
Como conta a artista Monique Gardenberg, “Zé era seu interesse pelas coisas, pelo outro. A quantidade de perguntas que me fazia. Quando falávamos ao telefone, ficávamos horas. O mundo precisava parar, ele queria saber de tudo. O que eu estava lendo, se estava gostando, por que estava gostando, o que tinha achado de determinado filme, no que estava trabalhando”. O devorador se constrói assim, propõe uma longa conversa, que vai do íntimo de José — com textos pessoais de familiares e amigos de longa data, bem como fotos da infância — às esferas amplas de seu trabalho teatral e os registros fotográficos do mesmo.
A publicação leva o título um passo além e parece trazer para si o instinto antropofágico, ao devorar características do próprio Teatro Oficina. Como as peças da companhia, é de longa-duração: construída em 11 atos em mais de 500 páginas altas — um livro de grande estatura, que nos remete à arquitetura da sede do grupo, projetada por Lina Bo Bardi e Edson Elito na Jaceguai 520. Fazendo par aos numerosos coros das peças de Zé Celso, traz um numeroso conjunto de autores e entrevistados — 49 para sermos exatos. Dentre esses nomes, estão grandes artistas da MPB, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia; nomes que marcaram a história do teatro, como Gerald Thomas e Ruy Cortez; figuras centrais no Teatro Oficina do ontem — como Ítala Nandi e Renato Borghi — e do hoje — como Camila Motta e Sylvia Prado; teóricos que acompanharam Martinez Corrêa na história da arte brasileira e Marcelo Drummond, que acompanhou José nos amores da vida.
O livro conta ainda com projeto gráfico de Mateus Valadares, que revela uma lombada de costuras aparentes, uma capa tripla que se desdobra em pôster e um caderno de imagens colorido com fotos de diversos períodos da vida-obra do encenador.
A boca que tudo come
“Perdoem este texto pessoal, não tem outro jeito”, grafa Ignácio Loyola Brandão em seu relato sobre o amigo Zé Celso. Não perdoamos, mas agradecemos. Há beleza em sermos conduzidos por alguns textos neste tom, que mergulham no íntimo da celebridade teatral brasileira para nos lembrar que “o Zé era uma pessoa normal. Precisava comer, cagar, tomar banho. Horas no banho enquanto não secasse a Cantareira”, como relata Marcelo Drummond.
Em paralelo, textos como os dos professores Silvia Fernandes e Paulo Bio Toledo permitem um olhar teórico às contribuições do encenador para a cena artística e política nacional. Nos conduzem por suas referências, o contato com Glauber Rocha, o contexto que permitiu o nascimento do Teatro Oficina — junto ao Teatro de Arena e paralelo ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Assim, transformam o livro em um importante material de estudo para pesquisadores da área, para além de um memorial bonito e nostálgico.
Somos ainda conduzidos a descrições detalhadas e históricas de quem viveu montagens dirigidas por Zé Celso, como é o caso do texto de Camila Mota sobre Os sertões; ou lutou ao lado dele pelo Parque do Bixiga, como a arquiteta Marília Piraju. Nos deparamos também com ensaios poéticos e inventivos em linguagem, como o de Letícia Coura, artista do Teatro Oficina, e os escritos do próprio Zé Celso (que com seus negritos, caixas altas e espaçamentos, dão corpo à palavra).
Isso porque, o encenador não deixaria um ensaio literário como esse sem alguns momentos de sua interrupção. Ao longo do livro, Claudio Leal cuidadosamente costura textos antigos de Zé, que complementam o panorama de cada capítulo. Assume também a ousadia de colocar no livro concordâncias e discordâncias dessas visões de mundo do homenageado.
“O Zé provocava. Ele não tinha problema com a adversidade, tampouco com a diversidade”, diz Bete Coelho. E, assim, encontramos diversidade e adversidade ao folhear o livro. As opiniões conflitantes das atrizes Myriam Mehler e Ítala Nandi sobre os gestos radicais no Teatro Oficina são um exemplo. Bem como a sequência de textos sobre O rei da vela. Nela, somos confrontados com a dura preferência de Augusto de Campos pelas poesias e escritos de Oswald frente à encenação histórica do Teatro Oficina e, na página seguinte, é Tom Zé que nos pega à mão, conduzindo pelo pranto emocionado que viveu em 1967 ao sair do teatro de “coração rasgado” com a peça que revolucionaria o teatro brasileiro.
É com essas contracenações que O devorador: Zé Celso, vida e arte conta a história de Martinez Corrêa, da infância às prospecções de um futuro – agora sem Zé. Como pontua o ator Renato Borghi, “Zé Celso mudou o panorama do teatro brasileiro”. De agora em diante, como diz Camila, é preciso “adorar seu trabalho e seu legado que está presente em muitos corpos, estilhaçado em mil pedaços, devorado por muita gente”.
Ítala Nandi lembra que quando o Teatro Oficina pegou fogo, em 1966, enquanto ela e outros atores choravam, “Zé sumiu e voltou de terno. Ele ficou tirando fotos em cima dos escombros, dizendo: ‘Aqui vai surgir um novo Teatro’”. Frente ao novo incêndio, de 2023, a companhia segue trabalhando essa herança teatral e essa força para fazer um novo teatro. Como encerra Camila Mota, “vai dar um trabalhão… Tudo a fazer!”.
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O Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB) inaugura a exposição “Memória: relatos de uma outra História”, um dos acontecimentos centrais da Temporada França-Brasil 2025. Com curadoria de Nadine Hounkpatin
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O Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB) inaugura a exposição “Memória: relatos de uma outra História”, um dos acontecimentos centrais da Temporada França-Brasil 2025.
Com curadoria de Nadine Hounkpatin e Jamile Coelho, a mostra reúne 20 artistas negras da diáspora africana e do continente africano, que se apropriam das artes visuais como campo de elaboração da memória e de reconstrução simbólica do mundo. Suas produções instauram um pensamento decolonial, no qual a arte atua como forma de escuta, reescrita e reexistência.
Participam: Amélia Sampaio, Barbara Asei Dantoni, Barbara Portailler, Beya Gille Gacha, Charlotte Yonga, Dalila Dalléas Bouzar, Enam Gbewonyo, Fabiana Ex-Souza, Gosette Lubondo, Josèfa Ntjam, Luana Vitra, Luisa Magaly, Luma Nascimento, Madalena dos Santos Reinbolt, Maria Lídia dos Santos Magliani, Myriam Mihindou, Na Chainkua Reindorf, Selly Raby Kane, Tuli Mekondjo e YêdaMaria.
Após itinerar por Bordeaux, Abidjan, Yaoundé e Antananarivo, a exposição chega a Salvador — cidade em que a herança africana se manifesta como fundamento estético e artístico — para instaurar um novo capítulo do projeto. No MUNCAB, essas artistas constroem um território de enunciação e reparação, no qual imagem, corpo e gesto tornam-se instrumentos de reconfiguração das narrativas históricas e de afirmação das subjetividades negras.
A exposição é uma realização do Ministério da Cultura, Petrobras e Embaixada da França no Brasil, em parceria com o MUNCAB, sob gestão da Amafro.
Serviço
Exposição | Memória: relatos de uma outra História
04 de novembro a 1º de março de 2026
Terça a domingo, das 10h às 16h30, sábado das 10h às 17h
Período
Local
Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira: MUNCAB
R. das Vassouras, 25 - Centro Histórico, Salvador - BA
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A última exposição de 2025 da Pinacoteca, “Trabalho de Carnaval”, é uma coletiva com obras de 70 artistas de diferentes gerações e origens, como Alberto Pitta, Bajado, Bárbara Wagner, Ilu Obá
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A última exposição de 2025 da Pinacoteca, “Trabalho de Carnaval”, é uma coletiva com obras de 70 artistas de diferentes gerações e origens, como Alberto Pitta, Bajado, Bárbara Wagner, Ilu Obá de Min, Heitor dos Prazeres, Juarez Paraíso, Lita Cerqueira, Maria Apparecida Urbano, Rafa Bqueer e Rosa Magalhães.
A mostra no edifício Pina Contemporânea expõe 200 obras dentre adereços, projetos de decoração e documentação histórica em fotografia e vídeo, além de comissionamentos de projetos inéditos dos artistas Adonai, Ana Lira e Ray Vianna.
Dividida em quatro temas – Fantasia, Trabalho, Poder e Cidade, “Trabalho de Carnaval” apresenta a maior festa popular do país como uma cadeia produtiva que envolve o trabalho das muitas mãos desde antes mesmo da festa acontecer, ao mesmo tempo em que alude à precariedade e invisibilidade desses profissionais.
NÚCLEOS TEMÁTICOS
O núcleo Fantasia faz referência a dois elementos característicos do carnaval: o ato de se fantasiar e a força da imaginação. Projetos e croquis integram a parte central da Grande Galeria, como os estudos de J. Cunha para o carnaval de Salvador e Joana Lira para as decorações de rua do Recife.
Discussões sobre as condições de trabalho da festa são apresentadas no núcleo Trabalho, no qual são apresentadas obras que trazem à tona a representatividade dos trabalhadores.
A relação entre carnaval e espaço urbano ou rural aparece no núcleo Cidade por meio de representações de blocos, cordões, afoxés e outras formas de cortejos. O núcleo reúne obras como as fotografias realizadas por Diego Nigro no bloco de carnaval Galo da Madrugada (2025).
Por fim, o núcleo Poder celebra os encontros de trabalhadores dos canaviais em Pernambuco transformando-se em reis e rainhas do maracatu, assim como mulheres negras e grupos periféricos marginalizados se tornando, por alguns dias, as figuras de comando durante a festa na Bahia: Deusas de Ébano, Reis Momos, Rainhas do Carnaval.
Serviço
Exposição | Trabalho de Carnaval
De 8 de novembro de 2025 a 12 de abril de 2026
Quarta a segunda, das 10h às 18h
Período
Local
Pinacoteca Contemporânea
Av. Tiradentes, 273, Luz, São Paulo - SP
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A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a exposição Nascimento de Antonio Obá, que ocupa todo o espaço da galeria na Barra Funda com obras inéditas e emblemáticas.
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A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a exposição Nascimento de Antonio Obá, que ocupa todo o espaço da galeria na Barra Funda com obras inéditas e emblemáticas. Os trabalhos, desenvolvidos com técnicas distintas como pintura, desenho, instalação e filme, dão continuidade à investigação do artista sobre a construção da identidade nacional, e suas contradições e influências, por meio de ícones e símbolos presentes na cultura brasileira.
O título da exposição surge da ideia de nascimento como marco de um momento, de uma nova existência sobre a Terra. Este evento milagroso também carrega a contrapartida da fortuna e da sorte, que nos acompanha desde a concepção. Para Obá, “Estar sujeito a isso não diz a respeito de uma escolha. Estar sujeito a isso diz a respeito de uma irreverência ao inevitável. Então, o que podemos fazer é demarcar essas várias sortes através do rito, da celebração, do símbolo, da linguagem.”
Cada obra que compõe a exposição confere a essa tentativa de situar a ideia de sorte, fortuna, ora como uma prece, ora com um ritual que celebra isso.
Uma instalação inédita, localizada em um espaço fechado, no fundo da galeria, se refere diretamente a ideia de jogo e de sorte. Nela, colunas de búzios se derramam sobre peneiras de bronze douradas, carregando ovos de cerâmica pintados de vermelho. Os búzios representam elementos de tentativa de leitura da sorte, do destino e da sina, e simbolizam a moeda de troca, que também se transforma em oferenda. Na disposição que se encontram no espaço, os búzios formam colunas que estão ascendendo, como um território de elevação espiritual e de ressignificação da vida ante ao que ela propõe de fatal.
Na entrada do espaço expositivo, um caminho de espadas de São Jorge e Iansã, conduzem até um novo objeto instalativo: um altar com dois troncos que simbolizam o pelourinho. Os troncos estão inteiramente cravejados de pregos — em um deles, os pregos estão voltados para fora; no outro, para dentro — simbolizando proteção e punição e a dificuldade de harmonizar tensões. Entre os pelourinhos, cabos suspendem uma cabeça de bronze com um prumo na ponta. Esta instalação é uma oferenda ao senhor do caminho, portanto, tem uma relação com Exu.
A instalação Ka’a porá (2024), apresentada pela primeira vez na mostra itinerante Finca-Pé: Estórias da terra no CCBB Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, ocupa lugar de destaque na exposição. Esculturas de pés, representando tanto o pé humano quanto o de uma árvore, enfatizam a conexão com o solo. A configuração da obra lembra um pequeno jardim, com troncos dispostos de forma aparentemente aleatória, cada um sugerindo uma direção diferente dentro de um labirinto. O título da instalação deriva do termo tupi ka’a porá, que se refere a um indivíduo que se estabelece e se ancora à terra. A expressão também remete à figura mítica da Caipora, protetora das florestas na mitologia indígena brasileira. Outro elemento simbólico da instalação revisita o conceito de poda, entendido aqui como um ato de violência que rompe com a vida e a natureza.
Telas de diferentes tamanhos e técnicas compõem a narrativa visual da mostra. Um conjunto de 22 pinturas de pequeno formato apresenta a leitura de Obá sobre o Tarô. Nas obras, o artista utiliza de uma mistura de técnicas junto a folhas de ouro, conferindo um tom mágico e fantasioso único às cartas do oráculo. Além dessas, a exposição reúne novas pinturas de grandes dimensões, bem como uma obra pintada diretamente sobre uma das paredes do espaço expositivo. Nessas peças, figuras e símbolos que compõem a identidade brasileira sugerem novas interpretações. A mostra também inclui desenhos inéditos feitos com carvão, nanquim, lápis e têmpera e sobre tela.
O filme Encantado (2024) apresenta uma performance do artista que propõe reflexões sobre sistemas simbólicos — especialmente os religiosos. A ação performática evoca uma perspectiva ritualística, centrada na figura do peregrino, que, em seu gesto, sintetiza elementos de crença, cultura e tradição associados ao imaginário do romeiro.
Com esse conjunto de obras, que atravessa diferentes mídias e simbologias, a exposição reafirma a potência da produção de Antonio Obá na construção de uma poética que investiga identidade, território e espiritualidade.
Serviço
Exposição | Nascimento
De 8 de novembro a 14 de março de 2026
Terça a sexta, das 11h às 19h, sábado das 10h às 17h
Período
Local
Mendes Wood DM
Rua Barra Funda, 216, São Paulo – SP
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Na exposição Tania Candiani: Subterrânea, na Vermelho, Tania Candiani, por meio de bordados, desenhos, vídeos, obra sonora e instalação, transforma as redes subterrâneas das raízes em uma cartografia
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Na exposição Tania Candiani: Subterrânea, na Vermelho, Tania Candiani, por meio de bordados, desenhos, vídeos, obra sonora e instalação, transforma as redes subterrâneas das raízes em uma cartografia tátil de emaranhamentos, na qual a matéria se torna sinal das energias que permeiam o solo.
As obras da individual mapeiam essas teias vivas em que sistemas naturais, não humanos e sonoros convergem, revelando as vibrações e ressonâncias invisíveis que atravessam o domínio subterrâneo.
Cada bordado da série Roots Systems é construído em torno de uma linha do horizonte, uma fronteira entre o que vemos e o que permanece oculto, onde estruturas se expandem pelo solo formando redes que ultrapassam a escala da planta visível. O bordado à máquina carrega o som e a vibração dessas redes em constante movimento.
A mesma série se desdobra em dois conjuntos de desenhos, um em tinta spray e outro em nanquim. No primeiro, raízes de diferentes indivíduos da mesma espécie são gravadas em papel de algodão. São dípticos em que cada indivíduo ocupa uma moldura, mas ambos parecem à beira do toque, expandindo-se a partir de um centro comum. O sopro do spray sugere difusão e indefinição, criação e dissolução. O encontro entre os indivíduos se torna uma zona de passagem e de criação, um espaço intermediário onde algo se comunica, se transforma ou nasce. Candiani fala desses desenhos como expressões de uma comunicação celular, emaranhada, que se aproxima das nebulosas, como sinapses cósmicas.
Os desenhos a nanquim se baseiam em raízes superficiais, que são sistemas radiculares que se espalham próximos à superfície do solo, em vez de se desenvolverem em profundidade. São raízes que se expandem horizontalmente em busca de água e nutrientes em ambientes áridos e solos rasos, são redes que buscam sustento na escassez.
Diferentes campos do conhecimento, como a biologia, a filosofia e as artes, aproximam a arquitetura das raízes superficiais das redes neurais. Estruturalmente, essas raízes se expandem em múltiplas direções, formando tramas conectadas semelhantes às sinapses da malha cognitiva.
Assim como os neurônios trocam impulsos elétricos, as raízes comunicam-se por sinais químicos e bioelétricos entre si, e com fungos e bactérias do solo. Essa rede subterrânea atua como um “cérebro ecológico”, que percebe e adapta o organismo vegetal ao ambiente. Tanto a rede neural quanto o sistema radicular superficial configuram formas de vida rizomáticas, baseadas no emaranhamento: expansões laterais que constroem sentido e continuidade por meio da conexão.
A comunicação subterrânea também é o eixo das obras Subterra: Roots, um vídeo circular e uma paisagem sonora multicanal que ampliam a percepção dessa rede viva. O vídeo, circular como uma escotilha, apresenta um fluxo contínuo de raízes, fungos e microrganismos em movimento, em um mergulho gradual pelas camadas do solo. A paisagem sonora, composta por vibrações subsonoras de baixa frequência, cria uma atmosfera imersiva que evoca o zumbido inaudível das redes subterrâneas em movimento, como um campo de ressonância onde as diferentes matérias se comunicam.
Também integra Subterra: Roots um grande rizotron duplo, construído especialmente para a exposição, no qual crescem plantas de milho. O dispositivo — uma caixa com amplas janelas de vidro onde se desenvolvem as plantas — é utilizado em pesquisas científicas para observar o crescimento radicular e permite acompanhar, em tempo contínuo, o que normalmente permanece oculto no solo.
Nesse trabalho, o sistema radicular deixa de ser apenas representação e se apresenta como corpo vivo em transformação. Ao integrar o processo de crescimento vegetal à experiência expositiva, Candiani aproxima ciência e sensibilidade, incorporando o tempo do movimento subterrâneo que atravessa toda a mostra. Com o longo período de duração da exposição, o rizotron transformará a paisagem da montagem a cada visita a Subterrânea.
A exposição fica em cartaz até o dia 19 de dezembro de 2025 e entre 12 de janeiro e 13 de fevereiro de 2026.
Serviço
Exposição | Tania Candiani: Subterrânea
De 13 de novembro a 13 de fevereiro de 2026
Segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 17h
Período
Local
Galeria Vermelho
Rua Minas Gerais, 350, São Paulo - SP
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A DAN Galeria apresenta a exposição O Brasil dos modernistas, com curadoria de Maria Alice Milliet. Reunindo cerca de 50 obras de emblemáticas de nomes fundamentais como Tarsila do Amaral,
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A DAN Galeria apresenta a exposição O Brasil dos modernistas, com curadoria de Maria Alice Milliet. Reunindo cerca de 50 obras de emblemáticas de nomes fundamentais como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Victor Brecheret, Cândido Portinari, Guignard, Alfredo Volpi, Anita Malfatti e outros, a coletiva traça um panorama da arte moderna no país e destaca o papel do movimento que, a partir da década de 1920, redefiniu a linguagem artística nacional e acrescentou ao imaginário coletivo visões atualizadas do imaginário popular brasileiro.
O Brasil dos modernistas toma como ponto de partida das transformações que marcaram o surgimento da modernidade artística no Brasil, um movimento que se consolidou no confronto entre o conservadorismo cultural e o impulso de renovação de um país em transição. A Semana de Arte Moderna de 1922, é retomada aqui como marco simbólico desse embate: vaiada pelo público, expôs a resistência às novas linguagens e à ruptura com os padrões tradicionais, inaugurando uma produção voltada à atualização estética e à construção de uma identidade artística brasileira.
O percurso curatorial retrata como os primeiros modernistas, em busca de formação e reconhecimento, voltaram-se aos grandes centros artísticos da Europa. Foi a partir dessa experiência que muitos passaram a perceber a força e a originalidade da diversidade cultural brasileira para construção de suas próprias identidades artísticas. “Os nossos modernos não precisaram buscar em lugares exóticos os conteúdos populares ou étnicos que tanto encantavam os europeus. Encontraram em nossas paisagens e costumes os ingredientes para a constituição de uma visualidade de caráter nacional”, afirma a curadora Maria Alice Milliet.
Embora influenciada pelas vanguardas europeias, a arte moderna no Brasil manteve-se fiel à figuração. O contato com o movimento de “retorno à ordem”, no período entre guerras, levou os artistas a explorar linguagens expressionistas, cubistas e, mais tarde, surrealistas, em um processo que definiu as bases estéticas do primeiro modernismo brasileiro.
Dentre os destaques da mostra, está o Retrato de Judite (1944), de Alfredo Volpi. Pintado no ano em que o artista se casou com Benedita da Conceição, conhecida como Judite, o trabalho retrata sua esposa nua entre cortinas, de braços abertos, como se apresentasse as pinturas que a cercam. Volpi, que iniciou a carreira decorando fachadas paulistanas, desenvolveu uma linguagem própria, marcada pela geometrização e pelo uso refinado da cor. Seu trabalho simboliza a passagem da pintura figurativa para uma modernidade madura, iluminada e de forte identidade brasileira.
“É inegável que Tarsila, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Rego Monteiro, Brecheret, Portinari, Guignard constituíram um corpus iconográfico identificado com o Brasil. Mais que isso, o modernismo acrescentou ao imaginário nacional visões atualizadas da nossa realidade sociocultural. Ou seja, quando pensamos na mulher brasileira, vem à nossa cabeça a sensualidade das morenas pintadas por Di Cavalcanti; a história da conquista do nosso território realiza-se no Monumento às Bandeiras, de Brecheret; nossos mitos são os de Tarsila; nossas praias são as de Pancetti; e as festas populares têm no colorido das bandeirinhas de Volpi sua melhor expressão”, completa Maria Alice Milliet sobre o eixo expositivo.
Ao reunir obras fundamentais do período, a mostra O Brasil dos modernistas destaca a relevância histórica e cultural do movimento que redefiniu os rumos da arte no país. A coletiva reforça o papel dessa geração de artistas na construção de uma identidade visual e reafirma a atualidade de seu legado na formação do que se entende por brasilidade.
Artistas presentes
Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Candido Portinari, Cícero Dias, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto De Fiori, Ismael Nery, José Pancetti, Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret.
Serviço
Exposição | O Brasil dos modernistas
De 19 de novembro a 19 de janeiro
De segunda a sexta, das 10h às 19h, aos sábados, das 10h às 13h
Período
Local
DAN Galeria
Rua Estados Unidos, 1638 01427-002 São Paulo - SP
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Nome central da história do cinema, com filmes que marcaram gerações, Agnès Varda (1928–2019) também é autora de uma extensa produção fotográfica, tendo inclusive começado sua carreira como fotógrafa. Ao
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Nome central da história do cinema, com filmes que marcaram gerações, Agnès Varda (1928–2019) também é autora de uma extensa produção fotográfica, tendo inclusive começado sua carreira como fotógrafa. Ao longo dos anos, consolidou-se como cineasta, mas a fotografia continuou presente em sua trajetória, seja em seus filmes, seja nas instalações artísticas que produziu no século 21. Essa faceta de sua obra, ainda menos conhecida pelo público, é apresentada na mostra Fotografia AGNÈS VARDA Cinema, que abre no IMS Paulista, com entrada gratuita.
A exposição Fotografia AGNÈS VARDA Cinema reúne cerca de 200 fotografias tiradas por Varda, principalmente, entre as décadas de 1950 e 1960. O conjunto traz imagens clicadas em viagens, incluindo registros inéditos na China, em 1957, fotos em Cuba, no contexto pós-revolução, e nos EUA, onde a artista documentou os Panteras Negras. Há ainda fotos feitas em Paris, como as de uma peça encenada pelos Griôs, primeira companhia de teatro negro na cidade. Em diálogo, a mostra apresenta trechos de filmes da autora, enfatizando como o comprometimento social, o olhar afetuoso e o humor caracterizam a sua produção.
Serviço
Exposição | Fotografia AGNÈS VARDA Cinema
De 29 de novembro a 12 de abril de 2026
Terça a domingo e feriados das 10h às 20h (fechado às segundas)
Período
Local
IMS - Instituto Moreira Salles
Avenida Paulista, 2424 São Paulo - SP
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A exposição internacional Joaquín Torres García – 150 anos, inédita no país, celebra a trajetória de um dos pilares da arte moderna na América Latina, com cerca de 500 itens, entres
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A exposição internacional Joaquín Torres García – 150 anos, inédita no país, celebra a trajetória de um dos pilares da arte moderna na América Latina, com cerca de 500 itens, entres obras e documentos, incluindo pinturas, manuscritos inéditos, maquetes, desenhos e os célebres brinquedos de madeira produzidos pela família do artista uruguaio.
É a primeira vez que esse conjunto tão amplo e diversificado do artista é apresentado no Brasil, com peças que deixarão pela primeira vez as reservas técnicas do museu uruguaio, revelando ao público aspectos pouco conhecidos da produção do artista.
Com curadoria de Saulo di Tarso em colaboração com o Museo Torres García, a mostra aprofunda o entendimento sobre o “universalismo construtivo” e apresenta Torres García como um pensador de alcance global. A pedagogia do Taller Torres García, que defendia que os artistas da América Latina desenvolvessem uma arte própria sem depender das influências europeias e norte-americanas, também é explicada na exposição. A proposta era incentivar cada artista a buscar suas raízes, símbolos e referências locais, criando uma produção mais autêntica e conectada com a cultura do continente — algo que dialoga diretamente com a seleção presente na exposição.
Instituições como o Museo Torres García (Uruguai), o Museu d’Art Contemporani de Barcelona (Museu de Arte Contemporânea de Barcelona), o Institut Valencià d’Art Modern [Instituto de Arte Moderna de Valência], o Museo de la Solidaridad Salvador Allende (Chile), além de coleções brasileiras como o MASP e a Pinacoteca de São Paulo, contribuem com empréstimos essenciais.
Este projeto conta com incentivo da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet e patrocínio da BB Asset.
Serviço
Exposição | Joaquín Torres García – 150 anos
De 10 de dezembro a 09 de março de 2026
Aberto todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças
Período
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O Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB) inaugura a exposição “Memória: relatos de uma outra História”, um dos acontecimentos centrais da Temporada França-Brasil 2025. Com curadoria de Nadine Hounkpatin
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O Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB) inaugura a exposição “Memória: relatos de uma outra História”, um dos acontecimentos centrais da Temporada França-Brasil 2025.
Com curadoria de Nadine Hounkpatin e Jamile Coelho, a mostra reúne 20 artistas negras da diáspora africana e do continente africano, que se apropriam das artes visuais como campo de elaboração da memória e de reconstrução simbólica do mundo. Suas produções instauram um pensamento decolonial, no qual a arte atua como forma de escuta, reescrita e reexistência.
Participam: Amélia Sampaio, Barbara Asei Dantoni, Barbara Portailler, Beya Gille Gacha, Charlotte Yonga, Dalila Dalléas Bouzar, Enam Gbewonyo, Fabiana Ex-Souza, Gosette Lubondo, Josèfa Ntjam, Luana Vitra, Luisa Magaly, Luma Nascimento, Madalena dos Santos Reinbolt, Maria Lídia dos Santos Magliani, Myriam Mihindou, Na Chainkua Reindorf, Selly Raby Kane, Tuli Mekondjo e YêdaMaria.
Após itinerar por Bordeaux, Abidjan, Yaoundé e Antananarivo, a exposição chega a Salvador — cidade em que a herança africana se manifesta como fundamento estético e artístico — para instaurar um novo capítulo do projeto. No MUNCAB, essas artistas constroem um território de enunciação e reparação, no qual imagem, corpo e gesto tornam-se instrumentos de reconfiguração das narrativas históricas e de afirmação das subjetividades negras.
A exposição é uma realização do Ministério da Cultura, Petrobras e Embaixada da França no Brasil, em parceria com o MUNCAB, sob gestão da Amafro.
Serviço
Exposição | Memória: relatos de uma outra História
04 de novembro a 1º de março de 2026
Terça a domingo, das 10h às 16h30, sábado das 10h às 17h
Período
Local
Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira: MUNCAB
R. das Vassouras, 25 - Centro Histórico, Salvador - BA
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A última exposição de 2025 da Pinacoteca, “Trabalho de Carnaval”, é uma coletiva com obras de 70 artistas de diferentes gerações e origens, como Alberto Pitta, Bajado, Bárbara Wagner, Ilu Obá
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A última exposição de 2025 da Pinacoteca, “Trabalho de Carnaval”, é uma coletiva com obras de 70 artistas de diferentes gerações e origens, como Alberto Pitta, Bajado, Bárbara Wagner, Ilu Obá de Min, Heitor dos Prazeres, Juarez Paraíso, Lita Cerqueira, Maria Apparecida Urbano, Rafa Bqueer e Rosa Magalhães.
A mostra no edifício Pina Contemporânea expõe 200 obras dentre adereços, projetos de decoração e documentação histórica em fotografia e vídeo, além de comissionamentos de projetos inéditos dos artistas Adonai, Ana Lira e Ray Vianna.
Dividida em quatro temas – Fantasia, Trabalho, Poder e Cidade, “Trabalho de Carnaval” apresenta a maior festa popular do país como uma cadeia produtiva que envolve o trabalho das muitas mãos desde antes mesmo da festa acontecer, ao mesmo tempo em que alude à precariedade e invisibilidade desses profissionais.
NÚCLEOS TEMÁTICOS
O núcleo Fantasia faz referência a dois elementos característicos do carnaval: o ato de se fantasiar e a força da imaginação. Projetos e croquis integram a parte central da Grande Galeria, como os estudos de J. Cunha para o carnaval de Salvador e Joana Lira para as decorações de rua do Recife.
Discussões sobre as condições de trabalho da festa são apresentadas no núcleo Trabalho, no qual são apresentadas obras que trazem à tona a representatividade dos trabalhadores.
A relação entre carnaval e espaço urbano ou rural aparece no núcleo Cidade por meio de representações de blocos, cordões, afoxés e outras formas de cortejos. O núcleo reúne obras como as fotografias realizadas por Diego Nigro no bloco de carnaval Galo da Madrugada (2025).
Por fim, o núcleo Poder celebra os encontros de trabalhadores dos canaviais em Pernambuco transformando-se em reis e rainhas do maracatu, assim como mulheres negras e grupos periféricos marginalizados se tornando, por alguns dias, as figuras de comando durante a festa na Bahia: Deusas de Ébano, Reis Momos, Rainhas do Carnaval.
Serviço
Exposição | Trabalho de Carnaval
De 8 de novembro de 2025 a 12 de abril de 2026
Quarta a segunda, das 10h às 18h
Período
Local
Pinacoteca Contemporânea
Av. Tiradentes, 273, Luz, São Paulo - SP
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A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a exposição Nascimento de Antonio Obá, que ocupa todo o espaço da galeria na Barra Funda com obras inéditas e emblemáticas.
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A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a exposição Nascimento de Antonio Obá, que ocupa todo o espaço da galeria na Barra Funda com obras inéditas e emblemáticas. Os trabalhos, desenvolvidos com técnicas distintas como pintura, desenho, instalação e filme, dão continuidade à investigação do artista sobre a construção da identidade nacional, e suas contradições e influências, por meio de ícones e símbolos presentes na cultura brasileira.
O título da exposição surge da ideia de nascimento como marco de um momento, de uma nova existência sobre a Terra. Este evento milagroso também carrega a contrapartida da fortuna e da sorte, que nos acompanha desde a concepção. Para Obá, “Estar sujeito a isso não diz a respeito de uma escolha. Estar sujeito a isso diz a respeito de uma irreverência ao inevitável. Então, o que podemos fazer é demarcar essas várias sortes através do rito, da celebração, do símbolo, da linguagem.”
Cada obra que compõe a exposição confere a essa tentativa de situar a ideia de sorte, fortuna, ora como uma prece, ora com um ritual que celebra isso.
Uma instalação inédita, localizada em um espaço fechado, no fundo da galeria, se refere diretamente a ideia de jogo e de sorte. Nela, colunas de búzios se derramam sobre peneiras de bronze douradas, carregando ovos de cerâmica pintados de vermelho. Os búzios representam elementos de tentativa de leitura da sorte, do destino e da sina, e simbolizam a moeda de troca, que também se transforma em oferenda. Na disposição que se encontram no espaço, os búzios formam colunas que estão ascendendo, como um território de elevação espiritual e de ressignificação da vida ante ao que ela propõe de fatal.
Na entrada do espaço expositivo, um caminho de espadas de São Jorge e Iansã, conduzem até um novo objeto instalativo: um altar com dois troncos que simbolizam o pelourinho. Os troncos estão inteiramente cravejados de pregos — em um deles, os pregos estão voltados para fora; no outro, para dentro — simbolizando proteção e punição e a dificuldade de harmonizar tensões. Entre os pelourinhos, cabos suspendem uma cabeça de bronze com um prumo na ponta. Esta instalação é uma oferenda ao senhor do caminho, portanto, tem uma relação com Exu.
A instalação Ka’a porá (2024), apresentada pela primeira vez na mostra itinerante Finca-Pé: Estórias da terra no CCBB Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, ocupa lugar de destaque na exposição. Esculturas de pés, representando tanto o pé humano quanto o de uma árvore, enfatizam a conexão com o solo. A configuração da obra lembra um pequeno jardim, com troncos dispostos de forma aparentemente aleatória, cada um sugerindo uma direção diferente dentro de um labirinto. O título da instalação deriva do termo tupi ka’a porá, que se refere a um indivíduo que se estabelece e se ancora à terra. A expressão também remete à figura mítica da Caipora, protetora das florestas na mitologia indígena brasileira. Outro elemento simbólico da instalação revisita o conceito de poda, entendido aqui como um ato de violência que rompe com a vida e a natureza.
Telas de diferentes tamanhos e técnicas compõem a narrativa visual da mostra. Um conjunto de 22 pinturas de pequeno formato apresenta a leitura de Obá sobre o Tarô. Nas obras, o artista utiliza de uma mistura de técnicas junto a folhas de ouro, conferindo um tom mágico e fantasioso único às cartas do oráculo. Além dessas, a exposição reúne novas pinturas de grandes dimensões, bem como uma obra pintada diretamente sobre uma das paredes do espaço expositivo. Nessas peças, figuras e símbolos que compõem a identidade brasileira sugerem novas interpretações. A mostra também inclui desenhos inéditos feitos com carvão, nanquim, lápis e têmpera e sobre tela.
O filme Encantado (2024) apresenta uma performance do artista que propõe reflexões sobre sistemas simbólicos — especialmente os religiosos. A ação performática evoca uma perspectiva ritualística, centrada na figura do peregrino, que, em seu gesto, sintetiza elementos de crença, cultura e tradição associados ao imaginário do romeiro.
Com esse conjunto de obras, que atravessa diferentes mídias e simbologias, a exposição reafirma a potência da produção de Antonio Obá na construção de uma poética que investiga identidade, território e espiritualidade.
Serviço
Exposição | Nascimento
De 8 de novembro a 14 de março de 2026
Terça a sexta, das 11h às 19h, sábado das 10h às 17h
Período
Local
Mendes Wood DM
Rua Barra Funda, 216, São Paulo – SP
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Na exposição Tania Candiani: Subterrânea, na Vermelho, Tania Candiani, por meio de bordados, desenhos, vídeos, obra sonora e instalação, transforma as redes subterrâneas das raízes em uma cartografia
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Na exposição Tania Candiani: Subterrânea, na Vermelho, Tania Candiani, por meio de bordados, desenhos, vídeos, obra sonora e instalação, transforma as redes subterrâneas das raízes em uma cartografia tátil de emaranhamentos, na qual a matéria se torna sinal das energias que permeiam o solo.
As obras da individual mapeiam essas teias vivas em que sistemas naturais, não humanos e sonoros convergem, revelando as vibrações e ressonâncias invisíveis que atravessam o domínio subterrâneo.
Cada bordado da série Roots Systems é construído em torno de uma linha do horizonte, uma fronteira entre o que vemos e o que permanece oculto, onde estruturas se expandem pelo solo formando redes que ultrapassam a escala da planta visível. O bordado à máquina carrega o som e a vibração dessas redes em constante movimento.
A mesma série se desdobra em dois conjuntos de desenhos, um em tinta spray e outro em nanquim. No primeiro, raízes de diferentes indivíduos da mesma espécie são gravadas em papel de algodão. São dípticos em que cada indivíduo ocupa uma moldura, mas ambos parecem à beira do toque, expandindo-se a partir de um centro comum. O sopro do spray sugere difusão e indefinição, criação e dissolução. O encontro entre os indivíduos se torna uma zona de passagem e de criação, um espaço intermediário onde algo se comunica, se transforma ou nasce. Candiani fala desses desenhos como expressões de uma comunicação celular, emaranhada, que se aproxima das nebulosas, como sinapses cósmicas.
Os desenhos a nanquim se baseiam em raízes superficiais, que são sistemas radiculares que se espalham próximos à superfície do solo, em vez de se desenvolverem em profundidade. São raízes que se expandem horizontalmente em busca de água e nutrientes em ambientes áridos e solos rasos, são redes que buscam sustento na escassez.
Diferentes campos do conhecimento, como a biologia, a filosofia e as artes, aproximam a arquitetura das raízes superficiais das redes neurais. Estruturalmente, essas raízes se expandem em múltiplas direções, formando tramas conectadas semelhantes às sinapses da malha cognitiva.
Assim como os neurônios trocam impulsos elétricos, as raízes comunicam-se por sinais químicos e bioelétricos entre si, e com fungos e bactérias do solo. Essa rede subterrânea atua como um “cérebro ecológico”, que percebe e adapta o organismo vegetal ao ambiente. Tanto a rede neural quanto o sistema radicular superficial configuram formas de vida rizomáticas, baseadas no emaranhamento: expansões laterais que constroem sentido e continuidade por meio da conexão.
A comunicação subterrânea também é o eixo das obras Subterra: Roots, um vídeo circular e uma paisagem sonora multicanal que ampliam a percepção dessa rede viva. O vídeo, circular como uma escotilha, apresenta um fluxo contínuo de raízes, fungos e microrganismos em movimento, em um mergulho gradual pelas camadas do solo. A paisagem sonora, composta por vibrações subsonoras de baixa frequência, cria uma atmosfera imersiva que evoca o zumbido inaudível das redes subterrâneas em movimento, como um campo de ressonância onde as diferentes matérias se comunicam.
Também integra Subterra: Roots um grande rizotron duplo, construído especialmente para a exposição, no qual crescem plantas de milho. O dispositivo — uma caixa com amplas janelas de vidro onde se desenvolvem as plantas — é utilizado em pesquisas científicas para observar o crescimento radicular e permite acompanhar, em tempo contínuo, o que normalmente permanece oculto no solo.
Nesse trabalho, o sistema radicular deixa de ser apenas representação e se apresenta como corpo vivo em transformação. Ao integrar o processo de crescimento vegetal à experiência expositiva, Candiani aproxima ciência e sensibilidade, incorporando o tempo do movimento subterrâneo que atravessa toda a mostra. Com o longo período de duração da exposição, o rizotron transformará a paisagem da montagem a cada visita a Subterrânea.
A exposição fica em cartaz até o dia 19 de dezembro de 2025 e entre 12 de janeiro e 13 de fevereiro de 2026.
Serviço
Exposição | Tania Candiani: Subterrânea
De 13 de novembro a 13 de fevereiro de 2026
Segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 17h
Período
Local
Galeria Vermelho
Rua Minas Gerais, 350, São Paulo - SP
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A DAN Galeria apresenta a exposição O Brasil dos modernistas, com curadoria de Maria Alice Milliet. Reunindo cerca de 50 obras de emblemáticas de nomes fundamentais como Tarsila do Amaral,
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A DAN Galeria apresenta a exposição O Brasil dos modernistas, com curadoria de Maria Alice Milliet. Reunindo cerca de 50 obras de emblemáticas de nomes fundamentais como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Victor Brecheret, Cândido Portinari, Guignard, Alfredo Volpi, Anita Malfatti e outros, a coletiva traça um panorama da arte moderna no país e destaca o papel do movimento que, a partir da década de 1920, redefiniu a linguagem artística nacional e acrescentou ao imaginário coletivo visões atualizadas do imaginário popular brasileiro.
O Brasil dos modernistas toma como ponto de partida das transformações que marcaram o surgimento da modernidade artística no Brasil, um movimento que se consolidou no confronto entre o conservadorismo cultural e o impulso de renovação de um país em transição. A Semana de Arte Moderna de 1922, é retomada aqui como marco simbólico desse embate: vaiada pelo público, expôs a resistência às novas linguagens e à ruptura com os padrões tradicionais, inaugurando uma produção voltada à atualização estética e à construção de uma identidade artística brasileira.
O percurso curatorial retrata como os primeiros modernistas, em busca de formação e reconhecimento, voltaram-se aos grandes centros artísticos da Europa. Foi a partir dessa experiência que muitos passaram a perceber a força e a originalidade da diversidade cultural brasileira para construção de suas próprias identidades artísticas. “Os nossos modernos não precisaram buscar em lugares exóticos os conteúdos populares ou étnicos que tanto encantavam os europeus. Encontraram em nossas paisagens e costumes os ingredientes para a constituição de uma visualidade de caráter nacional”, afirma a curadora Maria Alice Milliet.
Embora influenciada pelas vanguardas europeias, a arte moderna no Brasil manteve-se fiel à figuração. O contato com o movimento de “retorno à ordem”, no período entre guerras, levou os artistas a explorar linguagens expressionistas, cubistas e, mais tarde, surrealistas, em um processo que definiu as bases estéticas do primeiro modernismo brasileiro.
Dentre os destaques da mostra, está o Retrato de Judite (1944), de Alfredo Volpi. Pintado no ano em que o artista se casou com Benedita da Conceição, conhecida como Judite, o trabalho retrata sua esposa nua entre cortinas, de braços abertos, como se apresentasse as pinturas que a cercam. Volpi, que iniciou a carreira decorando fachadas paulistanas, desenvolveu uma linguagem própria, marcada pela geometrização e pelo uso refinado da cor. Seu trabalho simboliza a passagem da pintura figurativa para uma modernidade madura, iluminada e de forte identidade brasileira.
“É inegável que Tarsila, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Rego Monteiro, Brecheret, Portinari, Guignard constituíram um corpus iconográfico identificado com o Brasil. Mais que isso, o modernismo acrescentou ao imaginário nacional visões atualizadas da nossa realidade sociocultural. Ou seja, quando pensamos na mulher brasileira, vem à nossa cabeça a sensualidade das morenas pintadas por Di Cavalcanti; a história da conquista do nosso território realiza-se no Monumento às Bandeiras, de Brecheret; nossos mitos são os de Tarsila; nossas praias são as de Pancetti; e as festas populares têm no colorido das bandeirinhas de Volpi sua melhor expressão”, completa Maria Alice Milliet sobre o eixo expositivo.
Ao reunir obras fundamentais do período, a mostra O Brasil dos modernistas destaca a relevância histórica e cultural do movimento que redefiniu os rumos da arte no país. A coletiva reforça o papel dessa geração de artistas na construção de uma identidade visual e reafirma a atualidade de seu legado na formação do que se entende por brasilidade.
Artistas presentes
Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Candido Portinari, Cícero Dias, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto De Fiori, Ismael Nery, José Pancetti, Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret.
Serviço
Exposição | O Brasil dos modernistas
De 19 de novembro a 19 de janeiro
De segunda a sexta, das 10h às 19h, aos sábados, das 10h às 13h
Período
Local
DAN Galeria
Rua Estados Unidos, 1638 01427-002 São Paulo - SP
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Nome central da história do cinema, com filmes que marcaram gerações, Agnès Varda (1928–2019) também é autora de uma extensa produção fotográfica, tendo inclusive começado sua carreira como fotógrafa. Ao
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Nome central da história do cinema, com filmes que marcaram gerações, Agnès Varda (1928–2019) também é autora de uma extensa produção fotográfica, tendo inclusive começado sua carreira como fotógrafa. Ao longo dos anos, consolidou-se como cineasta, mas a fotografia continuou presente em sua trajetória, seja em seus filmes, seja nas instalações artísticas que produziu no século 21. Essa faceta de sua obra, ainda menos conhecida pelo público, é apresentada na mostra Fotografia AGNÈS VARDA Cinema, que abre no IMS Paulista, com entrada gratuita.
A exposição Fotografia AGNÈS VARDA Cinema reúne cerca de 200 fotografias tiradas por Varda, principalmente, entre as décadas de 1950 e 1960. O conjunto traz imagens clicadas em viagens, incluindo registros inéditos na China, em 1957, fotos em Cuba, no contexto pós-revolução, e nos EUA, onde a artista documentou os Panteras Negras. Há ainda fotos feitas em Paris, como as de uma peça encenada pelos Griôs, primeira companhia de teatro negro na cidade. Em diálogo, a mostra apresenta trechos de filmes da autora, enfatizando como o comprometimento social, o olhar afetuoso e o humor caracterizam a sua produção.
Serviço
Exposição | Fotografia AGNÈS VARDA Cinema
De 29 de novembro a 12 de abril de 2026
Terça a domingo e feriados das 10h às 20h (fechado às segundas)
Período
Local
IMS - Instituto Moreira Salles
Avenida Paulista, 2424 São Paulo - SP
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A exposição internacional Joaquín Torres García – 150 anos, inédita no país, celebra a trajetória de um dos pilares da arte moderna na América Latina, com cerca de 500 itens, entres
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A exposição internacional Joaquín Torres García – 150 anos, inédita no país, celebra a trajetória de um dos pilares da arte moderna na América Latina, com cerca de 500 itens, entres obras e documentos, incluindo pinturas, manuscritos inéditos, maquetes, desenhos e os célebres brinquedos de madeira produzidos pela família do artista uruguaio.
É a primeira vez que esse conjunto tão amplo e diversificado do artista é apresentado no Brasil, com peças que deixarão pela primeira vez as reservas técnicas do museu uruguaio, revelando ao público aspectos pouco conhecidos da produção do artista.
Com curadoria de Saulo di Tarso em colaboração com o Museo Torres García, a mostra aprofunda o entendimento sobre o “universalismo construtivo” e apresenta Torres García como um pensador de alcance global. A pedagogia do Taller Torres García, que defendia que os artistas da América Latina desenvolvessem uma arte própria sem depender das influências europeias e norte-americanas, também é explicada na exposição. A proposta era incentivar cada artista a buscar suas raízes, símbolos e referências locais, criando uma produção mais autêntica e conectada com a cultura do continente — algo que dialoga diretamente com a seleção presente na exposição.
Instituições como o Museo Torres García (Uruguai), o Museu d’Art Contemporani de Barcelona (Museu de Arte Contemporânea de Barcelona), o Institut Valencià d’Art Modern [Instituto de Arte Moderna de Valência], o Museo de la Solidaridad Salvador Allende (Chile), além de coleções brasileiras como o MASP e a Pinacoteca de São Paulo, contribuem com empréstimos essenciais.
Este projeto conta com incentivo da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet e patrocínio da BB Asset.
Serviço
Exposição | Joaquín Torres García – 150 anos
De 10 de dezembro a 09 de março de 2026
Aberto todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças







