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REPORTAGEM ACERVO LAGE
ACERVO DA LAJE
CONQUISTA VISIBILIDADE
PARA PRODUÇÃO
PERIFÉRICA
Museu-casa-escola do Subúrbio Ferroviário de Salvador,
presente em cinco exposições importantes nos últimos dois anos,
projeta até obras que estavam descartadas por seus autores
por fabio cypriano
presente em ao menos cinco exposições recentes, são conhecidos. Já a mostra do mar é uma espécie de
três delas ainda em cartaz, o baiano Acervo da Laje é uma passo a diante, pois, ao se dedicar a um dos artistas no
das mais originais iniciativas no circuito da arte e cultura Acervo, César Bahia, com mais de 200 obras produzidas
do país. Ele está na mostra Ensaios para o Museu das entre 2010 e 2023, passa a dar visibilidade e inserir seu
Origens, no Instituto Tomie Ohtake e no Itaú Cultural, em nome de maneira institucional.
Dos Brasis, no Sesc Belenzinho, e César Bahia, no Museu Pelos seis locais onde o Acervo da Laje é exposto, já
de Arte do Rio (mar), além de ter participado de A Memória que uma das mostras se divide em dois espaços, pode-se
é uma Invenção, no Museu de Arte Moderna do Rio (mam perceber como o circuito percebe a relevância e a origina-
Rio), e A Parábola do Progresso no Sesc Pompeia, ambas lidade desta iniciativa. Ele é apresentado em seu site como
no ano passado. “um espaço de memória artística, cultural e de pesquisa
Criado em 2010 pelos educadores Vilma Santos e José sobre o Subúrbio Ferroviário de Salvador”. Nesta região
Eduardo Ferreira dos Santos, o Acervo da Laje reúne, em vive cerca de 10% da população da capital baiana.
duas casas compradas pelo casal, uma coleção de centenas Entre os curadores que passaram pelo Acervo, estão
de obras que foram doadas pelos artistas ou seus amigos, ao menos duas que cuidaram da Documenta de Kassel,
muitas delas também encontradas para descarte. Como a como Ruth Noak e Marina Fokidis, e três envolvidos em
primeira casa era em uma laje, o nome vem dessa situação. edições passadas da Bienal de São Paulo, como Lisette
Tudo começou com uma pesquisa a partir do doutorado Lagnado, Pablo Lafuente e Paulo Miyada.
em Saúde Pública de José Eduardo. Seu orientador, Gey Atualmente, 611 obras de 30 artistas estão acessíveis
Espinheira (1946-2009), o estimulou a estudar a beleza do no site, além de outras categorias gerais como Azulejaria,
Subúrbio Ferroviário. “Junto com Vilma e o fotógrafo Marco Coleção Inicial, Brinquedos ou A Beleza do Subúrbios,
Illuminati começamos a fotografar o território, em 2010. entre outras. Esta última sessão, por exemplo, reúne foto-
Vilma e eu, diante da morte de cinco diferentes artistas do grafias digitais que participaram da exposição A Beleza do
território, começamos a procurar pela cidade em brechós Subúrbio realizada com alunos de São João do Cabrito e
e mercados as obras desses artistas para que as pessoas Itacaranha que participaram de uma mostra em dezembro
do Subúrbio as conhecessem”, conta ele. de 2013, no bairro do São João do Cabrito.
Das cinco mostras citadas, quatro são coletivas, José Eduardo, que estava na abertura de Dos Brasis,
que apresentam o Acervo da Laje em meio a outras em agosto passado, mandou um depoimento por e-mail
coleções e territórios, apontando para seu caráter como sobre o projeto, a partir de uma pergunta bem ampla,
um lugar fora do eixo que se coloca como um espaço que dizia respeito a como o Acervo foi criado e se obras
que dá visibilidade a uma série de artistas/artesãos – que pertencem a ele são vendidas. Para ajudar na leitura,
a categoria aqui não é o que mais importa – que não fizemos algumas divisões temáticas na reposta:
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