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EXPOSIÇÃO RIO DE JANEIRO
À esquerda, Oceano de
Thiago Costa. Na pág. ao lado
acima, Estrangeiro I, de Arjan
Martins. Abaixo, Puxada de
rede de Nádia Taquary
nos amplos salões em estilo rococó hollywoodiano, que, como é de seu costume, parte de memórias fami-
que parecem cenário de um musical de Fred Astaire e liares para tratar de questões sobre identidade e a
Ginger Rogers, 12 artistas negros e negras abordam o condição afro-atlântica.
trauma da escravidão no período das navegações, na A sala tem na área central uma abóboda de 18 metros
mostra Um oceano para lavar as mãos, com curadoria acima do piso, feita para reverberar o som das fichas
de Marcelo Campos e Filipe Graciano. e do gelo nos copos da então elite carioca. Agora tor-
A exposição inaugura o Centro Cultural Sesc Qui- nou-se um espaço de reflexão sobe questões sociais
tandinha, em Petrópolis (RJ), com uma área expositiva que muitos dos que lá pisaram devem ter tido respon-
de cerca de 3 mil metros quadrados, que funciona no sabilidade direta sobre o racismo estrutural que segue
andar térreo da edificação com o exterior em estilo no país. Ou mais precisamente, como aponta Campos,
normando-francês. “o modo como os artistas negros lidam com o período
Construído em 1944 para ser o maior hotel casino da das navegações”.
América do Sul, o Palácio Quitandinha durou pouco em Ainda segundo o curador, a exposição também
sua principal função, já que o presidente Dutra, em 1946, busca também “repensar Petrópolis”, conhecida por
proibiu os jogos no país, dificultando a vida do próprio ser a cidade imperial, já que durante o verão era lá
hotel, que em 1962 fechou suas portas. Transformado que vivia D. Pedro 2º, tornando-se assim a capital
em condomínio de luxo, as áreas sociais atualmente do país. Ao mesmo tempo, a região abrigou vários
são administradas pelo Sesc. quilombos, entre eles Tapera, no Vale das Videiras,
Para a mostra, o maior espaço do Quitandinha, onde comunidade quilombola reconhecida pela Fundação
funcionava o salão de jogos do casino, é ocupado por Palmares, em 2011. Ao menos outros três quilombos
uma imensa instalação com seis telas de Aline Motta, são conhecidos na área.
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