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políticos. Estou me aposentando disso tudo artistas estão presentes, mas em espaços
e, tenho esperança, de me tornar jovem nova- de poder, como o Comitê Consultivo, no qual,
mente”, conta, sorrindo. dos sete membros, quatro são artistas, um é
Nesses mais de 20 anos no Castello di Rivoli – físico e os demais, curadores, algo bastante
ela entrou em 2002, como curadora-chefe, após raro no Brasil.
dois anos no ps1, de Nova York – os museus em “O museu pertence aos artistas”, defende
geral passaram por uma intensa transforma- Carolyn. “Como diretora de museu, esse é
ção. Caminhar pela coleção do próprio museu o elemento primário. Nossa função é como
italiano reflete essas mudanças, deixando de fazer para um trabalho de arte comunicar
contar uma história da arte norte-americana e ao mundo o que ele significa para o artista.
eurocentrista, para se abrir a outras narrativas, Trata-se de como torná-lo vivo, não inerte,
entre elas a do chamado “sul-global”, termo morto”, explica.
que Carolyn não gosta muito. Ela prefere usar Essa abertura para produções além do
a expressão “inconformados com o cânone padrão ocidental teve origem, de certa forma,
eurocêntrico”. Desse grupo, ela cita o artista quando ela organizou a Bienal de Sydney, na
sul-africano William Kentridge, o australiano Austrália, em 2007 e 2008. Foi no deserto, ao
Richard Bell, o norte-americano Jimmie Durham conhecer a produção aborígene com a amiga
(1940- 2021) e a brasileira Maria Thereza Alves, e curadora aborígene Hetti Perkins, que ela se
todos seus amigos e com os quais já trabalhou deu conta de que os objetos por eles produ-
diversas vezes. zidos, mesmo que para serem vendidos para
Enquanto virou politicamente correta a turistas, alcançavam resultados para a comu-
inclusão desses “inconformados” no circuito nidade, como a construção de um hospital, e
da arte, muitas vezes essa seleção pare- que, portanto, tinham um sentido importan-
ce mais uma ação de marketing cultural, já te. Ao mesmo tempo, ela entendeu ainda que
que instituições usam essa estratégia como mesmo objetos da cultura ocidental tinham
ação de publicidade. Não é o caso de Rivoli. um sentido mágico, como o crucifixo. “Então
“Não quero me vangloriar de ter amizade com passei a olhar para a arte europeia, ou italiana,
artistas, mas essa é minha vida, e essas são de forma mais antropológica”, resume.
alianças que construo há muito tempo”, relata. Outro momento importante para a constru-
Com isso, não é apenas na coleção que os ção de suas alianças foi quando ela defendeu,