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Na página anterior, a
instalação Um por um todo,
Marcos Zacariades, 2005
lado de grandes empresários modernos, como foi Ivoncy tradição do diamante, do cascalho de Herberto Sales,
Ioschpe, como é a família Setúbal com o Itaú Cultural, como na inovação de Kátia, da Pipoca Moderna, um carrinho
foi Julio Landmann na condução da Bienal de São Paulo, de pipoca adaptado que fica na praça e na escola com
e outros que fazem essa conversão de capital financeiro livros à disposição das crianças.
em capital simbólico, como uma forma de devolução à Então o que fica para mim é que Marcos Zacariades
sociedade de parte do que afere com o trabalho coletivo. produz algo absolutamente inesperado. Uma exposição
Igatu é um lugar de mulheres modernas. Digo moder- que é um grande argumento em favor da recondução
na no sentido da mulher que não tem medo de trabalhar da civilização brasileira, que é capaz de lançar um grito
para sobreviver. Lá eu conheci figuras inspiradoras como contra todo tipo de violência, todo tipo de destruição,
Nívia, diretora de uma escola e também grande doceira, todo tipo daquilo que faz mal à sociedade, que faz mal
e Dona Zelita, com seus quase 90 anos, ainda cuidando aos corpos. É uma exposição que diz que é possível um
da casa, do seu pé de araçá. É a mulher que melhor sabe diálogo entre as diferenças, um diálogo que vem do mais
profundo rincão, que é um centro exemplar do mundo
FOTO: RAFAEL MARTINS que “se precisa, se preserva”, que dá nome a uma das também. O centro do mundo é sempre onde está um
arear uma bacia em Igatu e tem a máxima de que aquilo
obras de Zacariades. Tudo é muito entrelaçado, a tradi- grande artista. Para mim o grande desafio agora é dar
conta dessa complexidade. Será que é possível reduzir
ção de Igatu é também a sua modernidade. Através de
essa exposição a palavras?
Marcos, Igatu pensa uma modernidade que se finca na
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