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Segundo dados compilados no Relatório do Gabinete   previu à arte!brasileiros que o período de reconstrução
            de Transição Governamental, divulgado em dezem- não será fácil. “Vamos precisar de pelo menos dois anos
            bro passado, “desde 2016, houve uma perda de 85%   para retomar de fato as políticas necessárias”, contou.
            no orçamento da administração direta e de 38% no   Já para ocupar o Instituto Brasileiro de Museus
            da administração indireta” da Cultura. O documento   (Ibram), até então ocupado pelo colecionador Pedro
            aponta ainda que “o Fundo Nacional de Cultura (fnc),  Mastrobuono, nada afeito a funções públicas, foi esco-
            principal mecanismo de financiamento governamental   lhida a funcionária de carreira no órgão Fernanda Castro
            do setor, teve seu orçamento reduzido em 91%”. O corte   (leia entrevista à página 20), que constava de uma lista
            foi tão acentuado que a maior parte do que restou foi   de sugestões do icom, o Conselho Internacional de
            canalizada para manutenção, tornando inviável qualquer  Museus, o que aponta o respaldo do setor.
            atividade finalística.                              De fato, é conhecido que a gestão anterior se dedi-
               Com tudo isso, sintetiza o relatório, “a perda do setor  cou a nomear gestores que estavam mais voltados para
            cultural estimada para biênio 2020-2021 foi de R$ 69   a destruição de políticas culturais e dos órgãos que
            bilhões”. Além do fim de políticas públicas consistentes,  gerenciavam, sendo um dos casos mais exemplares o
            a pandemia em muito ajudou a arrasar o setor. Ainda   da Fundação Cultural Palmares, que chegou a excluir 27
            segundo o documento, “as estimativas de participa- pessoas de uma lista de personalidades negras, como
            ção do setor cultural na economia brasileira, em 2019,  Milton Nascimento, Elza Soares e Gilberto Gil. Trata-se
            variavam de 1,2% a 2,7% do pib, sendo que o conjunto de   de um verdadeiro escárnio de uma instituição voltada
            ocupados no setor cultural representava 5,8% do total   a combater o racismo e valorizar a produção negra.
            (5,5 milhões de pessoas), atuando em mais de 300 mil   Agora, o militante negro, advogado e presidente do
            empresas”. Com a pandemia, o faturamento do setor  bloco afro Olodum, João Jorge Rodrigues, assumiu como
            se aproximou de zero, já que as únicas atividades que   novo presidente da Fundação Palmares, na missão de
            continuaram faturando foram as relacionadas a serviços   retomar o órgão à sua função original.
            digitais, como streaming de vídeo e música.        Na posse de cada um dessas figuras, houve intenso
               A terra arrasada só conseguiu ser evitada de fato   prestígio do governo, como ocorreu na investidura
            graças à aprovação e implementação das Lei Aldir  de Maria Marighella na Fundação Nacional das Artes
            Blanc 1 e da Lei Paulo Gustavo, que, juntas, destina- (Funarte), que tem sede no Rio, e foi criada em 1975, dez
            ram R$ 6,8 bilhões para o setor cultural, a partir de um   anos antes do próprio Ministério da Cultura.
            esforço com secretários de cultura, parlamentares e   Vereadora licenciada em Salvador, artista, neta do
            agentes culturais.                               deputado Carlos Marighella (1911-1969), assinado por
               Por tudo isso, o retorno do Ministério da Cultura, sob   agentes do Dops em uma emboscada, Maria recebeu
            a administração da cantora Margareth Menezes, primeira   em sua posse, no início de março, a primeira-dama
            mulher negra com essa função, vem sendo marcado  Janja, além de vários deputados federais, lotando a
            pela realocação de recursos por um lado, e a escolha de   Sala Cecília Meireles por duas horas. Sua gestão será
            profissionais com atuação reconhecida na área.    marcada por um colegiado de ampla representatividade,
               No próprio MinC, a presença do cearense Henilton   que inclui do coreógrafo e ex-bailarino do Grupo Corpo
            Menezes, como Secretário de Economia Criativa e   Rui Moreira, na direção de artes cênicas, à curadora
            Fomento Cultural, é um dos ótimos exemplos. Ele é
                                                             indígena Sandra Benites, na direção de artes virtuais.
     FOTOS: TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL | RODRIGO AVELAR  e 2013, além de ter publicado A Lei Rouanet – Muito   tem um que de reparação.
            um dos maiores especialistas de políticas de fomento  Após toda polêmica que envolveu Sandra na curadoria
            no país, tendo já ocupado função no setor, entre 2010  do Museu de Arte de São Paulo (Masp), sua indicação

            além dos (F)atos.
                                                               Foi na posse de Maria Marighella, que Margareth
               Outra das secretarias do MinC que também é ocu- Menezes relembrou da perseguição nos últimos e do
                                                             papel central na nova gestão: “Por que o medo da cul-
            pada por um cearense é a dedicada à Formação, Livro
            e Leitura, com Fabiano Piúba. Ele também já havia
                                                             tura? Porque a cultura é ferramenta de transformação,
            ocupado essa função no governo Dilma Rousseff, e, nos
                                                             de emancipação, de qualificação, além de ser um vetor
                                                             econômico, de que podemos tirar melhor proveito”.
            últimos anos, era o Secretário de Cultura do Ceará. Foi
            lá, durante a inauguração da Pinacoteca, no fim do ano
                                                             Como um mantra, por várias vezes ela ainda repetiu:
            passado, quando ainda não havia sido indicado, que ele  “O MinC voltou”.
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