Page 10 - ARTE!Brasileiros #59
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DEMOCRACIA E REPARAÇÃO MOSTRAS INTERNACIONAIS
documenta e Bienais de Berlim
e Veneza, apesar de trazerem
concepções até contraditórias do
estado da arte, fazem um panorama
completo da produção atual
fabio Cypriano
MOSTRAS QUE SE
COMPLEMENTAM
três exposições De granDe esCala em cartaz na bienal – iniciada em 1895 –, sendo que a maioria com-
Europa – a documenta de Kassel, a Bienal de Berlim posta por artistas mulheres, além de um significativo
e a Bienal de Veneza – dão conta de um complexo e aporte de negras, indígenas e figuras do Sul Global.
complementar panorama da arte contemporânea. As As mostras alemãs, por outro lado, são muito mais
duas primeiras são realizadas basicamente por fundos contemporâneas de fato.
públicos alemães, o que permite maior independên- A documenta, com seu orçamento multimilioná-
cia – aliás, com curadores escolhidos por processos rio de mais de 42 milhões de euros (R$ 232 milhões)
democráticos com profissionais da área. consegue fazer algo que, desde o início da produção
Já a centenária bienal veneziana, a cargo da curadora contemporânea, lá nos anos 1960, busca-se de fato:
italiana Cecília Alemani, segue próxima do mercado – acabar com a representação para tornar a vivência o
apesar de, nesta edição, em todas as legendas as obras principal sentido da arte. Com cerca de 70 coletivos,
serem identificadas apenas como “cortesia do artista”, que por sua vez mobilizaram mais de 1.500 artistas no
evitando assim o óbvio nexo. De qualquer forma, é total, a mostra em Kassel traz uma energia vibrante
explícito que a mostra italiana continua apresentando para apontar como a arte pode transformar o mundo,
muito mais uma produção objetual, disponível em grande seja através de processos educativos, seja no cuidado
parte nas galerias poderosas do circuito, que vê a figura com o ambiente, entre várias temáticas abordadas.
da artista e do artista como gênios individuais com um Já Berlim aposta na necessidade de denúncia,
trabalho que valoriza o fazer em detrimento do conceito. de apontar para questões que nem sempre estão
Enquanto isso, as exposições na Alemanha enfa- visíveis, seja dos abusos pela polícia norte-ame-
tizam processos, como dos trabalhos colaborativos, ricana contra imigrantes latinos, seja sobre como
no caso da documenta, a cargo do coletivo indonésio algoritmos conduzem o mundo para a direita. Tudo
ruangrupa; ou de denúncia social, como em Berlim, isso, importante dizer, sem abrir mãos de elementos
que tem à frente o artista franco-marroquino Kader estéticos que permitem que esses debates aterrado-
Attia. Contudo, é inegável que ver Veneza é um prazer: res estejam no campo da arte. De qualquer maneira,
a maior parte das obras parte de um acabamento esté- cada uma a seu modo, essas exposições conseguem
tico primoroso, além de estar buscando um efeito de se complementar pois reúnem formas de trabalhar FOTO: PATRICIA ROUSSEAUX
reparação à própria história da bienal. que, mesmo contraditórias em alguns casos, seguem
Isso porque em cerca de 200 artistas presentes, 180 sendo realizadas e constituem a complexa cena con-
nunca participaram desta que é considerada a primeira temporânea atual.
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