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INTERNACIONAL PRÊMIO ARTHUR LUIZ PIZA
o artista franCÊs JérémY ChabauD é um dos dois que nos marca, o que a nós nos parece promissor ou
laureados deste ano do Prêmio Arthur Luiz Piza, iniciativa necessário trazer à luz”, diz Nathalie Desmet.
cuja proposta é manter viva a relação dos artistas jovens Deste lado do Atlântico, o gravurista Santídio Pereira
franceses com o Brasil e dos jovens artistas brasileiros é o escolhido pelo Prêmio Piza para viajar para França
com a França – leia matéria na página 80. em 2022 e realizar sua pesquisa e residência. Ele nasceu
Jérémy, que já expôs na França e nos Eua, é o atual em 1996, em Curral Comprido, um pequeno povoado
diretor da Association Jeune Création, entidade de localizado na cidade de Isaías Coelho, no interior do
artistas criada em 1949. A Association, que ele preside, Piauí. Foi um dos jovens favorecidos pelo Instituto Acaia,
acabou de ganhar um espaço na Fondation Fiminco, uma onG sem fins lucrativos que atende crianças e
em Romainville, na região noroeste de Paris, e possui adolescentes residentes próximas ao Ceagesp, local
também um local para residência de artistas em Mar- onde Santídio também trabalhou.
selha, no sul da França. É considerada uma iniciativa “A xilogravura atendeu aos primeiros interesses do
fundamental para artistas que não estão inseridos artista, que desenvolveu procedimentos próprios de
no mercado. “Por 70 anos a Jeune Création está em trabalho, como a que ele denomina ‘incisão, recorte
movimento, se reinventando e sempre deixando-se e encaixe’, ou seja, a composição por meio da combi-
envolver pelas gerações que o atravessam. Ela procura nação de várias matrizes recortadas, como peças de
ser o reflexo cru e sólido do mundo e da sua época”, um quebra-cabeça. Além de proporcionar um jogo de
comenta Jérémy. cores através do acúmulo e justaposição de tinta, essa
Anualmente é realizada uma importante exposição, técnica permite subverter a função de multiplicidade,
agora em sua 71ª edição em 2020/21, que exibe as obras tão característica da gravura. São duas as séries de
de 46 artistas escolhidos por um júri formado por jovens xilogravuras mais representativas de Santídio: Pássaros
artistas e uma convidada, neste caso a crítica de arte e (2018) e Bromélias (2019). A memória afetiva levou o
curadora Nathalie Desmet. A metodologia de trabalho, artista a investir numa pesquisa iconográfica sobre os
comenta Jérémy, é extremamente horizontal, já que a pássaros da caatinga do Piauí. Mais tarde, a partir da
direção e os trabalhos são escolhidos pelo próprio gru- residência artística Kaaysá, realizada em Boiçucanga,
po, que é composto em sua maior parte por artistas no surgiu a série de Bromélias. Já Morros (2021) surgiu com
começo de suas carreiras. “O reconhecimento mútuo é, o sentimento de liberdade ao se deparar com a paisagem
portanto, muito importante. Grande parte da discussão natural de Santo Antônio do Pinhal, Serra da Bocaina e FOTOS: ORANGE IMAGE | JOÃO LIBERATO / CORTESIA GALERIA ESTAÇÃO
é também baseada em assuntos éticos: visibilidade, da Cantareira, todas em São Paulo”, informa a biografia
paridade, representatividade, inclusão. O festival anual do autor no site da Galeria Estação - que o representa
do Jeune Création não é, portanto, apenas uma expo- desde o começo de sua carreira. Santídio acaba de
sição, mas uma espécie de convenção de múltiplas participar de importante exposição em Shangai. Ele
vozes; o reflexo de uma experiência que é tão humana resgata reminiscências de cores, imagens e sensações
quanto é artística, onde as escolhas coletivas acabam e sua obra é ao mesmo tempo quase minimalista, de
se tornando a seleção: um extrato do que nos seduz, o alto teor sensível.
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