Page 92 - ARTE!Brasileiros #57
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INTERNACIONAL EXPOSIÇÕES













            Em momento de relativa trégua
            da pandemia que nos assola
            há quase dois anos, Paris
            aproveitou para apresentar
            algumas de suas novidades com
            jóias da contemporaneidade








            estamos fartos De saber que os países desenvol-
            vidos cultuam sua história, e que vários desses movi-
            mentos foram às custas da nossa própria existência
            como países subdesenvolvidos, seja porque levaram
            nossas obras, nosso ouro ou nossas terras.                              Detalhe da instalação de Urs
               Não obstante, é impossível não ficar impressionado                   Fischer, 2011-2020, na rotunda
            com o respeito à memória e o cuidado que exercem pelo
            que foi construído por seus antepassados. O Estado
            forte serve entre outras coisas para, em parcerias públi-
            co-privadas, remodelar, reformar e manter o patrimônio
            arquitetônico e cultural desses países.            Agora, após três anos de reformas e restaurações
               É até por isso que tem sido fundamental reclamar e   feitas pelo arquiteto japonês Tadao Ando, o edifício
            criar movimentos pela restituição de várias das obras   reabre suas portas e ganha uma linguagem contempo-
            africanas e latino-americanas em posse de alemães,  rânea sem macular um único espaço da sua estrutura
            franceses e outros europeus. Em novembro passa- original. Hoje, o átrio comporta sete galerias ao longo
            do, por exemplo, 26 obras de arte do antigo Reino de   de três andares, um grande salão e um restaurante no
            Dahomey, que estavam expostas no Museu du Quai   último andar.
            Branly, em Paris, foram devolvidas ao Benim. Desde   A exposição Overture marca, além da transformação
            2020, por iniciativa do presidente francês Emmanuel   do prédio, a busca do colecionador Pinault por valorizar
            Macron, está em vigor uma lei que facilita a devolução   e defender valores sobre a liberdade, ligados à diver-
            de obras apreendidas no período colonial.       sidade, a posições emergentes. Como em uma ópera,
              Já a reabertura da Bourse de Commerce (Bolsa de   a exposição traz vários “momentos” e “atmosferas”,
            Comércio) de Paris, na rue de Viarmes, com a expo- assim como diferentes práticas artísticas como escul-
            sição da coleção François Pinault, é sem dúvida um   turas, vídeos, instalações, performances, fotografias e
            exemplo do cuidado com a memória. O edifício central   pintura, muita pintura.
            foi construído como um grande celeiro a céu aberto   Estão lá não só artistas europeus de renome como
            no século 18 e, a posteriori, fechado com uma grande   Maurizio Cattelan, Marlene Dumas, Pierre Huyghe, Phili-
            cúpula de ferro.                                ppe Parreno, Rudolf Stingel e Tatiana Trouvé, entre outros,
               O interior da rotunda cujos afrescos representam a   mas também representantes da nova cena de artistas
            história do comércio entre os cinco continentes foram   negros como o norte-americano Kerry James Marshall
            pintados na época por Alexis-Joseph Mazerolle, Évariste   e os brasileiros Antonio Obá e Paulo Nazareth. No centro
            Vital Luminais, Désiré François Laugée, George Clairin   da rotunda encontra-se a instalação de Urs Fisher, Unti-
            e Hippolyte Lucas e restaurados em 1998.        tled (Giambologna), de 2011, que é uma réplica exata da

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