Page 8 - ARTE!Brasileiros #54
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mergulhaDos em um país à Deriva, envolto na mentira e no cinismo,
com mais de 2 mil mortes diárias e sem políticas decentes de proteção à
população, descobrimos que o que nos permite estar em pé é possuir uma
por patriCia rousseaux, diREtoRA EditoRiAl CARTA DA EDITORA
ética capaz de almejar um mundo melhor.
Todas as matérias desta edição mostram a pincelada singular que artis-
tas e gestores jovens, fotógrafos, críticos e acadêmicos imprimem ao seu
trabalho tentando superar o sofrimento e, através de iniciativas sensíveis,
compreender o humano.
Há também uma leitura do passado, como no redescobrimento da obra
de Glauco Rodrigues, onde suas imagens “transcendem as especificidades
de sua época, forma ou conteúdo para abordar o presente de maneira
inquietante”. Esta frase, dita pelo crítico Peter Eleey a respeito da expo-
sição September 11, realizada no MOMA PS 1 (Nova York), é lembrada pelo
filósofo Hal Foster em seu último livro, O que vem depois da Farsa. O crítico
se referia a como imagens da fotógrafa Diane Arbus, de 1956, ali expostas,
eram ressignificadas para o espectador quase 50 anos depois, após os acon-
tecimentos da derrubada das Torres Gêmeas.
Aliás, o livro de Foster, comentado nesta edição por Fabio Cypriano, crítico
de arte e jornalista, traça um panorama sobre os aspectos sombrios e as
reações de artistas e instituições culturais a “um mundo que nos fugiu de
controle”, onde “nada está garantido”. Ainda assim ele formula uma reflexão
fundamental que nos convoca a ir em frente: “É aqui que meu outro termo
‘debacle’ entra em cena [o autor faz referência ao termo chave do livro,
‘farsa’]. Também deriva do francês ‘queda, colapso, desastre’ mas sua raiz
é débâcler, ‘libertar’. Debacle poderia inclusive indicar uma dialética entre
romper e fazer diferente em relação a convenções, instituições e leis. Tal
é a oportunidade no período presente de convulsão política: transformar a
emergência disruptiva em mudança estrutural, ou pelo menos, pressionar as
brechas na ordem social em que é possível resistir ao poder e reelabora-lo.”
Como resposta a esta ambígua disrupção, resolvemos investir numa
divisão de arte formação. Um Programa de Extensão Cultural de ensino
a distância onde, com especialistas e professores renomados, possamos,
além de informar, sistematizar conceitos fundantes da arte em conversa
permanente com outras disciplinas como a psicanálise, a filosofia, a his-
tória e a ciência. O lançamento acontece em abril com o primeiro curso,
ministrado pelo curador e pesquisador Moacir dos Anjos e pelo filósofo e
professor Ernani Chaves. Serão 36 horas em 16 encontros ao longo dos meses
de abril, maio e junho.*
No atual contexto, é possível ver uma única vantagem em tanto tempo de
isolamento. Tivemos acesso à tecnologia de forma a torná-la menos uma vilã
e mais uma ferramenta de apoio na solidão, para podermos manter contato
com os amigos, as equipes de trabalho, poder ver mostras virtualmente e
ouvir palestras e debates e acesso a uma educação permanente. FOTOS: PPXCOPOXCPOXCPOXCPCO
Se há um espaço onde a mentira não se sustenta e podemos exercer
nossa influência, é na arte e na cultura.
*Para saber mais https://artebrasileiros.com.br/cursos