Page 72 - ARTE!Brasileiros #48
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO






             SÉRGIO SISTER E SUAS


             ARMAS DE RESISTÊNCIA





             AS OBRAS AUSTERAS E RIGOROSAS QUE HOJE SISTER PRODUZ GUARDAM,
             DAS PINTURAS E DESENHOS DO SEU PERÍODO INICIAL, A MESMA FORÇA


             POR TADEU CHIARELLI




             OPORTUNA A MOSTRA QUE SÉRGIO SISTER realiza na Gale-
             ria Nara Roesler, em São Paulo (até 5 de outubro), apresentando
             pinturas que realizou no final da década de 1960 e desenhos pro-
             duzidos na prisão, entre 1970 e 1971. Oportuna por dois motivos,
             pelo menos: em primeiro lugar porque, nesses dias em que tentam
             negar os desmandos cometidos pela última ditadura civil-militar
             brasileira (sendo que alguns buscam negar que ela tenha de fato
             ocorrido), é didático colocar o público frente a testemunhos de
             vítimas daquele período que jamais será apagado da história do
             país; um segundo motivo para a relevância da mostra é que ela
             apresenta os dois primeiros momentos da trajetória de um artista
             então muito jovem (Sister nasceu em 1945) e que, com o passar dos
             anos, viria a ser reconhecido como uma das principais referências
             da pintura no Brasil.
             Visitando Imagens de uma juventude Pop: pinturas políticas e dese-
             nhos da cadeia, o que de início chama a atenção são as diferenças de
             abordagens plásticas usadas por Sister nas pinturas e nos desenhos.
             No primeiro grupo é espantosa a vivacidade que emana daquelas
             pinturas que, atentas ao burburinho da metrópole, aos flagelos da
             sociedade de massa e aos perigos da ditadura, (que aos poucos mos-
             trava sua cara), demonstram a crença no fazer pictórico, acreditam
             no que denunciam e em como denunciam. Nelas é notável como
             Sister – a exemplo de alguns colegas de geração – conseguia filtrar
             e torná-los seus, os códigos das vertentes então mais em voga (a
             Pop, a Nova Figuração etc.), tudo crivado por um tipo de arquitetura
             do campo plástico que – passível de ser associada à estrutura das
             paginas de histórias em quadrinho –, nada me tira da cabeça que
             poderia ser debitada igualmente à experiência concreta, ainda forte
             em São Paulo à época (talvez o mesmo débito de Claudio Tozzi, em
             suas primeiras produções).
             Essa concepção forte, no entanto, como que se liquefaz nos dese-
             nhos produzidos por Sister no período em que passou no antigo
             Presídio Tiradentes, em São Paulo, de triste memória. Se nas


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