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CRÍTICA À NORDESTE
UMA CURADORIA
POR ARACY AMARAL
VISTA DE PARTE DA EXPOSIÇÃO QUE ESTÁ EM CARTAZ NO SESC 24 DE MAIO.
UMA CURADORIA NÃO É TAREFA FÁCIL DE SER CONCEBIDA. Sobretudo se o número de
participantes for extenso, o espaço difícil, e grande a relutância em deixar de lado tudo
o que poderia ser selecionado. Em especial quando se enfoca uma exposição como
À Nordeste, atualmente no SESC 24 de maio. Região vasta em criatividade, o anseio,
percebe-se, foi incluir tudo! Mesmo se com dificuldade de apreensão pelos visitantes
daquilo que está exposto. A ideia que passa é que nada deveria poder escapar aos
curadores, mesmo se não digerível pelo visitante. Que se sente envolvido num
redemoinho que lhe empurra olhos e ouvidos abaixo todas as expressões de criadores
nordestinos não distinguindo nenhum em particular. Assim, expressões populares,
cordel, pintura figurativa, pintura concreta, arte conceitual, vídeo, em todos os níveis
e dimensões envolvem violentamente o visitante. Que se sente física e visualmente
tragado pela dificuldade do espaço atravancado em tentar – em vão – privilegiar um ou
outro criador com olhar que se perde pela montagem labiríntica que nos é proposta.
O sistema de display acumulativo é preferência de alguns curadores - mas não de
todos. E temos duvidas sobre o acerto desse ponto de vista. A boa visibilidade de uma
obra incluída deveria ser uma preocupação. Assim, descobrir subitamente, em meio a
uma exposição como esta do Sesc 24 de Maio, os Retirantes de Portinari,
da coleção do MASP, é uma surpresa. Assim como ver um pequeno Sérvulo Esmeraldo
ao mesmo tempo em que confessamos a dificuldade em localizar Brennand, João
Câmara, ou Miguel dos Santos.
E de repente encontramos Montez Magno, entre uma multidão de criadores
diversificados inesperados, sem qualquer lógica de apresentação no espaço. O
oposto ao didatismo aguardado de exposição que atrai uma multidão de visitantes
heterogêneos que mereceriam uma orientação clara para sair com uma noção sobre
a expressão artística em região tão extensa e ampla em sua criatividade. Talvez esta
mostra se configure antes como não se deve fazer uma exposição (e não poderia ter
sido dividida em etapas de acordo com a diversidade de linguagens?). Na verdade, uma
curadoria não é tarefa fácil de ser concebida.
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