Page 88 - ARTE!Brasileiros #47
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CRÍTICA À NORDESTE






                              UMA CURADORIA


                              POR ARACY AMARAL





























                              VISTA DE PARTE DA EXPOSIÇÃO QUE ESTÁ EM CARTAZ NO SESC 24 DE MAIO.





                               UMA CURADORIA NÃO É TAREFA FÁCIL DE SER CONCEBIDA. Sobretudo se o número de
                               participantes for extenso, o espaço difícil, e grande a relutância em deixar de lado tudo
                               o que poderia ser selecionado. Em especial quando se enfoca uma exposição como
                               À Nordeste, atualmente no SESC 24 de maio. Região vasta em criatividade, o anseio,
                               percebe-se, foi incluir tudo! Mesmo se com dificuldade de apreensão pelos visitantes
                               daquilo que está exposto. A ideia que passa é que nada deveria poder escapar aos
                               curadores, mesmo se não digerível pelo visitante. Que se sente envolvido num
                               redemoinho que lhe empurra olhos e ouvidos abaixo todas as expressões de criadores
                               nordestinos não distinguindo nenhum em particular. Assim, expressões populares,
                               cordel, pintura figurativa, pintura concreta, arte conceitual, vídeo, em todos os níveis
                               e dimensões envolvem violentamente o visitante. Que se sente física e visualmente
                               tragado pela dificuldade do espaço atravancado em tentar – em vão – privilegiar um ou
                               outro criador com olhar que se perde pela montagem labiríntica que nos é proposta.
                               O sistema de display acumulativo é preferência de alguns curadores - mas não de
                               todos. E temos duvidas sobre o acerto desse ponto de vista. A boa visibilidade de uma
                               obra incluída deveria ser uma preocupação. Assim, descobrir subitamente, em meio a
                               uma exposição como esta do Sesc 24 de Maio, os Retirantes de Portinari,
                               da coleção do MASP, é uma surpresa. Assim como ver um pequeno Sérvulo Esmeraldo
                               ao mesmo tempo em que confessamos a dificuldade em localizar Brennand, João
                               Câmara, ou Miguel dos Santos.
                               E de repente encontramos Montez Magno, entre uma multidão de criadores
                               diversificados inesperados, sem qualquer lógica de apresentação no espaço. O
                               oposto ao didatismo aguardado de exposição que atrai uma multidão de visitantes
                               heterogêneos que mereceriam uma orientação clara para sair com uma noção sobre
                               a expressão artística em região tão extensa e ampla em sua criatividade. Talvez esta
                               mostra se configure antes como não se deve fazer uma exposição (e não poderia ter
                               sido dividida em etapas de acordo com a diversidade de linguagens?). Na verdade, uma
                               curadoria não é tarefa fácil de ser concebida.


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