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INSTITUIÇÕES SESC GUARULHOS
ACIMA, FABRICIO LOPES, ESTUÁRIO, 2008-2009. NA OUTRA PÁGINA, À ESQUERDA, DETALHE DA OBRA TROPA, 2017, DE LUISA ALMEIDA.
À DIREITA, EM CIMA, FERNANDO VILELA, SEM TÍTULO, 2012, E OTAVIO ZANI, SEM TÍTULO [OBRA DA SÉRIE REMINISCÊNCIAS], 2018.
Artistas que conseguiram, por meio da troca e do diálogo, Etiópia Sagrada, de Eduardo Ver e pontua toda a exposição.
driblar as barreiras existentes no mercado nacional à arte É Ana Calzavara quem parece aproximar de forma mais
sobre papel e, em particular, à xilogravura, técnica marcada intensa a xilogravura da pintura, como se estivesse fundindo
por um forte viés popular. as duas linguagens, abolindo suas diferenças em uma série
A remissão à natureza e à figura humana – bastante pre- de paisagens amareladas que se sucedem e complementam
sentes nos trabalhos –, mais do que uma referência aos como quadrinhos. Escultura e fotografia também fazem
gêneros acadêmicos dos retratos e paisagens, busca enfati- parte desse processo, com trabalhos densos como as
zar a relação ativa e intensa, estabelecida por essas novas sobreposições de cenas da cidade bruta, com seus prédios
gerações com a cena contemporânea, definindo sua própria acinzentados e maciços, feitas por Fernando Vilela. Ou o
identidade por esse deambular urbano. “Esse pessoal exército criado por Luisa Almeida de mulheres combatentes,
cresceu num clima político muito diferente, se formou num armadas, que se organizam na forma de totens, prontas
ambiente democrático. Andar pela cidade é uma forma de para a luta. As referências imagéticas encontradas nos
dar corporeidade para eles próprios. Não separam mais trabalhos são as mais variadas. Há um evidente diálogo
urbano e rural, natureza e cultura”, sintetiza Mubarac. com a tradição artística e as referências clássicas como
É interessante notar como, a partir desse chão comum o expressionismo. A opção por exibir os gravados sem
temporal, há um grande espraiamento de poéticas, formas moldura reforça esse caráter popular, marginal (no sentido
diversas de explorar a relação com a madeira (muitas de feito à margem), fluido e extremamente comunicativo
vezes lançando mão dos veios como elemento composi- da xilo. E remete a seu uso como arma revolucionária e de
tivo) e a criação de diálogos ricos com outras técnicas. A comunicação por meio dos lambe-lambes.
presença da cor é marcante, bem como o uso de grandes Virtuosísticas (como as gravuras de Francisco Marin-
formatos. É o caso, por exemplo, da obra de Fabricio Lopez, gelli e Ernesto Bonato), experimentais (Otavio Zani) ou
o primeiro a idealizar essa exposição panorâmica e que coletivas (Xiloceasa), as dezenas de obras reunidas até
convidou Mubarac a assumir a curadoria. Lopez exibe setembro no Sesc Guarulhos atestam o vigor da produção
na mostra um amplo painel, uma paisagem que parece contemporânea e as infinitas possibilidades da técnica
inventada, com referências marinhas e montanhosas, simples, que como explica Mubarac, requer “apenas um
num jogo sedutor de cores e formas. A cor também é pedaço de madeira e algo cortante”, mas que está em
protagonista do lúdico mural A Banda Amarela chega à permanente reinvenção.
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