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BIENAIS 58ª BIENAL DE VENEZA
STAN DOUGLAS, DOPPELGÄNGER, 2019
DOPPELGÄNGER uma ópera que se passa em uma praia falsa, ao
Além das fake news, outra temática dessa edição longo de oito horas, mas que dura uma hora. Sun
de Veneza, são os duplos, o que significa tratar et Sea (marina), de Rugilé Barzdziukaité, Vaiva
de com questões como cópia e clonagem. Nesse Grainyté e Lina Lapelyté, é uma performance sobre
sentido, um dos bons trabalhos da mostra é o a simplicidade de estar à beira do mar, desde passar
novo vídeo de Stan Douglas, Doppelgänger, sobre protetor solar até reclamar de não conseguir rela-
a astronauta Alice que é teletransportada para xar. Basicamente ela é sobre o nada, mas cantado
uma nave espacial, mas não age como sua figura como se tudo fosse importante.
original, em uma encenação futurista. Ao transitar de forma delicada entre o espetacular
A ideia de duplo se materializa também no con- e a simplicidade, a performance ganhou merecida-
ceito curatorial no espelhamento dos dois grandes mente Leão de Ouro, misturando quinze cantores
espaços da mostra, Arsenale e Pavilhão Central, com outros vinte e poucos figurantes, entre eles
no Giardini, ambos com os mesmos artistas. A diversas crianças, em uma ação que segue um
dupla projeção Doppelgänger, por exemplo, está roteiro, mas está repleta de improvisações.
no Pavilhão Central, enquanto no Arsenale Dou- Já Bárbara Wagner & Benjamin de Burca, com Swin-
glas é visto com fotos encenadas da série Scenes guerra, empoderam um Brasil marginal a partir da
from the Blackout. A cenografia exagerada do cultura popular do nordeste do país, especificamente
Arsenale, aliás, com imensas chapas de madeira de um movimento chamado swingueira. O vídeo
aparente, escondendo a grandiosidade do local, apresenta várias narrativas, criadas em parceria
é outro ponto baixo da mostra. com os integrantes desse grupo, misturando sonho e
realidade, mostrando como esses espaços da música
REPRESENTAÇÕES NACIONAIS e da dança são locais que contradizem todo o atual
Em anos de mostra principal fraca, as represen- discurso oficial do país de exclusão e preconceito.
tações nacionais costumam compensar. Não foi o A arte no pavilhão do Brasil não é ilustração, mas
caso agora em 2019, salva raras exceções, entre uma experiência vital de resistência e compreensão
elas o Brasil e o pavilhão vencedor da Lituânia, do humano, tudo o que faltou na mostra principal.
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