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BIENAIS 58ª BIENAL DE VENEZA



































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             DOPPELGÄNGER                                uma ópera que se passa em uma praia falsa, ao
             Além das fake news, outra temática dessa edição   longo de oito horas, mas que dura uma hora. Sun
             de Veneza, são os duplos, o que significa tratar   et Sea (marina), de Rugilé Barzdziukaité, Vaiva
             de com questões como cópia e clonagem. Nesse   Grainyté e Lina Lapelyté, é uma performance sobre
             sentido, um dos bons trabalhos da mostra é o   a simplicidade de estar à beira do mar, desde passar
             novo vídeo de Stan Douglas, Doppelgänger, sobre   protetor solar até reclamar de não conseguir rela-
             a astronauta Alice que é teletransportada para   xar. Basicamente ela é sobre o nada, mas cantado
             uma nave espacial, mas não age como sua figura   como se tudo fosse importante.
             original, em uma encenação futurista.       Ao transitar de forma delicada entre o espetacular
             A ideia de duplo se materializa também no con-  e a simplicidade, a performance ganhou merecida-
             ceito curatorial no espelhamento dos dois grandes   mente Leão de Ouro, misturando quinze cantores
             espaços da mostra, Arsenale e Pavilhão Central,   com outros vinte e poucos figurantes, entre eles
             no Giardini, ambos com os mesmos artistas. A   diversas crianças, em uma ação que segue um
             dupla projeção Doppelgänger, por exemplo, está   roteiro, mas está repleta de improvisações.
             no Pavilhão Central, enquanto no Arsenale Dou-  Já Bárbara Wagner & Benjamin de Burca, com Swin-
             glas é visto com fotos encenadas da série Scenes   guerra, empoderam um Brasil marginal a partir da
             from the Blackout. A cenografia exagerada do   cultura popular do nordeste do país, especificamente
             Arsenale, aliás, com imensas chapas de madeira   de um movimento chamado swingueira. O vídeo
             aparente, escondendo a grandiosidade do local,   apresenta várias narrativas, criadas em parceria
             é outro ponto baixo da mostra.              com os integrantes desse grupo, misturando sonho e
                                                         realidade, mostrando como esses espaços da música
             REPRESENTAÇÕES NACIONAIS                    e da dança são locais que contradizem todo o atual
             Em anos de mostra principal fraca, as represen-  discurso oficial do país de exclusão e preconceito.
             tações nacionais costumam compensar. Não foi o   A arte no pavilhão do Brasil não é ilustração, mas
             caso agora em 2019, salva raras exceções, entre   uma experiência vital de resistência e compreensão
             elas o Brasil e o pavilhão vencedor da Lituânia,   do humano, tudo o que faltou na mostra principal.


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