Page 72 - ARTE!Brasileiros #45
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO






             AS RAÍZES DE SÔNIA GOMES





             COM CURADORIA DE AMANDA CARNEIRO, A ARTISTA EXPÕE OBRAS NO MASP
             E NA CASA DE VIDRO, AMBOS EDIFÍCIOS DE LINA BO BARDI


             POR JAMYLE RKAIN































             UM DIA, ENQUANTO FINALIZAVA UMA OBRA para a       A exposição Ainda assim me levanto é a primeira que
             exposição vigente, Sônia Gomes percebeu que o corte   faz parte de uma parceria entre as duas instituições. O
             feito na madeira que utilizava não deixava que a peça   projeto consiste em sediar uma mostra simultaneamente
             ficasse em pé. Ela levantou de onde estava sentada para   nos dois locais, uma vez por ano. É também a primeira
             observar melhor e pensou: “Ainda assim me levanto”.   curadoria, no MASP, de Amanda Carneiro, que atua
             Não soube explicar de onde veio aquele sussurro em   como supervisora da Medição e programas públicos.
             sua cabeça, mas não conseguiu parar de pensar nisso.   Ainda assim me levanto traz uma nova fase de Sônia
             A artista, aliás, que seria um ótimo nome para aquela   Gomes, usando, desta vez, pedaços de troncos encon-
             obra e, no fim, para a exposição, que está em cartaz   trados na beirada ou no fundo de rios do interior de
             no MASP e na Casa de Vidro, ambas as construções   Minas Gerais, seu estado de origem. Neles, Sônia faz
             planejadas por Lina Bo Bardi, até março de 2019. A obra   seu trabalho com tecidos, manuseando-os das mais
             em questão se chamou, então Eu me levanto.        variadas maneiras, fluindo com seu trabalho habitual
             Em uma breve pesquisa na internet, depois descobriu   em um outro rumo.
             que a frase era, na verdade, um verso de um poema   A artista não se considera uma artista militante, mas
             da autora e ativista americana Maya Angelou. Teria   não abdica de si como um corpo político, apesar de não
             algo de ancestralidade comum nessa reminiscência?   levar isso ao seu trabalho de forma eminente. Já foi
             Sônia acredita que sim, talvez. Esse acaso a encontra   chamada de artista naïf, artista popular e também de
             da mesma forma que quando ela se descobriu artista:   artesã. Ela dispensa os rótulos: “Isso acontece porque
             “Não teve um momento que eu falei ‘agora eu vou ser   eu sou negra, se eu fosse branca eles não estariam
             artista’, não. Isso chegou para mim”, comenta.    preocupados em me colocar nesse lugar”.


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