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EXPOSIÇÃO RIO DE JANEIRO






             RIO EXPLICITA CONFLITOS DO PAÍS





             MUSEU DE ARTE DO RIO E GALERIA ATHENA ORGANIZAM MOSTRAS COM CONTEÚDO
             POLÍTICO CONTUNDENTE EM CURADORIAS DE MOACIR DOS ANJOS E LISETE LAGNADO


             POR FABIO CYPRIANO



             SEMPRE ME PARECEU CONTRADITÓRIO que as condi-
             ções da violência política e social no Brasil, especialmente
             os homicídios contra jovens e pobres trans, negros e indí-
             genas, não gerassem obras e mostras contundentes com
             essa temática.
             Claro, há casos isolados, e duas edições recentes da Bienal
             de São Paulo, 2014 e 2016, trouxeram essa questão de
             forma bastante explicita, em obras contundentes, como
             Apelo, de Clara Ianni e Débora Maria da Silva na Bienal
             Como... coisas que não existem, de 2014. Mesmo assim,
             em um circuito tão intenso e vibrante, não são temáticas
             de fato presentes como se vê, por exemplo, em Israel, que
             também vive sob forte situação de conflito e onde muitos
             trabalhos abordam esses dramas de forma crítica, muitas
             vezes se opondo ao próprio papel do Estado.
             O Rio de Janeiro, sob intervenção federal deste o início
             deste ano, é possivelmente onde essas contradições se
             tornem visíveis de maneira mais evidente e não é, portanto,
             uma surpresa, que duas mostras tenham sido inauguradas
             em setembro passado explorando feridas que costumam
             frequentar apenas as páginas policiais ou da política, e
             não da cultura: Arte Democracia Utopia - Quem não luta
             tá morto (até 05/2019), no Museu de Arte do Rio, e Com
             o ar pesado demais para respirar (20/09 a 24/11), na nova
             sede da galeria Athena.
             São exposições bem distintas, uma institucional, fruto de
             uma longa pesquisa do curador Moacir dos Anjos, outra
             comercial, mas com um processo de construção que partiu
             de uma provocação de Lisette Lagnado.
             “Como o noticiário tem atingido seu cotidiano”, perguntou
             a curadora a cada um dos artistas representados pela
             galeria, que “viveram sua maioridade durante o período
             em que o país teve um governo de esquerda que assumiu
             como programa a redução da miséria e da fome”, segundo
             sua constatação no texto que acompanha a mostra.
             Com essa estratégia, a exposição alcança uma temperatura


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