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BIENAIS MERCOSUL
A 12ª BIENAL DO MERCOSUL VAI
EXPLORAR ENCONTROS POSSÍVEIS
A EXPOSIÇÃO SEDIADA EM PORTO ALEGRE VAI DAR ÊNFASE À PRODUÇÃO LATINO AMERICANA
POR LEONOR AMARANTE
DESDE O MOMENTO em que o curador de Já demos alguns passos nesse sentido”. A
arte atingiu o protagonismo de um diretor curadora fala do envolvimento de coleções
de cinema, saber quem comandará uma institucionais “deslumbrantes”, que nunca
mostra internacional tornou-se primordial. estiveram em uma bienal ou nas universida-
Ao escolher Andrea Giunta para a cura- des. Por experiência, ela vai levar em conta
doria geral da 12ª Bienal do Mercosul, que a importância da relação entre a curadoria,
ocorrerá de 9 de abril a 5 de julho de 2020, as exposições, a pesquisa e também entre
a exposição volta às suas origens. Forte- as escolas. A curadora acredita que pode
mente ligada à produção latino-americana, a crítica e levar à bienal experiências que somam, como a recente
pesquisadora argentina vai explorar as relações entre curadoria, de Mulheres Radicais “que teve a dimensão de
arte, feminismo e emancipação. Eu pergunto como ela uma bienal em relação ao número que artistas envolvidos”.
fará isso. “A bienal já deu início, na semana passada, Além disso, Giunta diz contar com a equipe experiente da
com um seminário onde colocamos em pauta os temas Bienal do Mercosul, que formou muitos jovens. Diante da
que nos interessa explorar. Um dos sentidos em que eu situação política atual, pergunto como a crítica argen-
entendo o termo emancipação, além da emancipação tina pretende abordar os temas e as obras impregna-
no sentido político, é o ligado ao conhecimento”. Para das de carga ideológica. “Não posso dizer que não me
Giunta, o conhecimento contribui para a transformação preocupa o cenário em que este projeto se desenvolverá.
de estruturas do pensamento. “Trabalharemos a partir Mas também creio que é uma oportunidade para manter
do feminismo, do conceito de um sujeito ampliado que ativa a cultura e o pensamento. Seguramente teremos que
contempla não apenas a mulher, mas inclui os corpos buscar comunidades de interlocução que compreendam o
e os afetos demarcados e tudo aquilo que o discurso sentido do que apontamos. É um momento para trabalhar
monolítico marginaliza”. Como parte do projeto da Bienal sobre a cultura do diálogo, não a da confrontação”. Giunta
está sendo organizado um Seminário para debater estes diz que o tema invoca, sem dúvida, um sentido pedagógico.
temas. Trabalhar em uma bienal é algo complexo e esta E, para ela o desafio será encontrar formas de diálogo que
é a primeira experiência de Giunta em uma exposição transformem o estado de beligerância em que estamos
desta natureza, nesse sentido, ela pretende utilizar sua submersos. “Não somente no Brasil, como em muitos
experiência e suas metodologias de pesquisa. Pesquisar outros países, a arte também é um espaço de reflexão
intensamente, explorar o potencial de uma cidade como da comunidade. Espero alcançar esse clima poético, que
Porto Alegre, com recursos que não estiveram presentes é também político”.
em nenhuma outra bienal. Depois que os armazéns do porto não foram mais cedi-
Giunta faz um comentário clássico de alguns curadores dos à Bienal, a exposição foi reduzida em quase 60%,
internacionais que passaram pelas nossas três Bienais, em relação aos espaços expositivos, e tornou-se mais
a de São Paulo, Curitiba e a de Porto Alegre. “ Não quero enxuta e hoje se resume, praticamente ao Museu de Arte
que a bienal aterrisse como um Óvni na cidade, mas que se do Rio Grande do Sul, Memorial do Rio Grande do Sul e
integre no cenário criativo e institucional onde está locada. Santander Cultural.
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Book_ARTE45.indb 22 26/11/18 14:08