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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
CONSTRUÇÃO SOBRE FUNDO VERMELHO, 1957
Para Pasta, que também carrega um gene metafísico Nascido em 1959, Alexandre se lembra que, quando
em sua pintura, é uma fase na qual Dacosta “começa a moraram em São Paulo na década de 60, o casal
evasão do figurativo para a abstração”. Mas, ao invés de tinha um ateliê em seu próprio lar. Em uma espé-
De Chirico – como muitos apontam -, Paulo percebe uma cie de edícula de dois andares, nos fundos da casa,
influência principalmente de Carlo Carrá e completa: “Eu Maria produzia no térreo enquanto Milton produzia
acho que essa escolha dele por uma influência metafisica no andar de cima. É claro, também, que o casal de
responderia também a sua vocação um pouco intimista artistas trocava figurinhas sobre seus estudos e ideias.
e comedida. Acho que é de acordo de todos que ele faz Alexandre define essa proximidade de ambos como
um construtivismo sensível, muito brasileiro naquilo “uma proximidade de alma”.
que ele tem de pudor e discrição”. Também dedicado à pintura, além de outras modalidades
Casado com a pintora Maria Leontina desde o final dos artísticas, o filho afirma que já tentou negar a influên-
anos 40, trabalhou muito ao lado dela. Alguns boatos cia de Milton naquilo que produz. Mas não conseguiu,
espalham que Milton teria se apropriado de caracte- quando viu já estava fazendo um trabalho ligado ao
rísticas da obra da esposa no que produziu na década construtivo, tanto com traços do pai quanto da mãe. “A
seguinte. É nessa década, inclusive, que ele participa fase que estou fazendo agora chama-se desconstrutiva”,
da Bienal de Veneza e ganha o prêmio de melhor pintor conta. Paulo Pasta também acredita que foi influenciado
nacional na II Bienal de São Paulo. Filho do relaciona- de alguma forma por Dacosta. O equilíbrio da luz entre
mento, o multiartista Alexandre Dacosta conta que cores compostas, apesar de usarem paletas diferentes,
algumas pessoas chegam a confundir o trabalho dos dois, é para ele um ensinamento que aprendeu observando o
mas discorda: “Eu acho que não dá pra confundir porque trabalho do pintor que, para ele, “abandonou o realismo,
a pintura dela era uma coisa mais fluida, na dele era mas nunca abandona o real”. A exposição na Almeida e
uma pintura mais assentada no chão, digamos assim”. Dale pode ser visitada até 24 de novembro.
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