Page 77 - ARTE!Brasileiros #43
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Jean-François Charnier, diretor da Agência de
Museus França, entidade responsável pela con-
trapartida francesa no acordo de construção da
nova instituição.
No total, a mostra permanente espalha-se por 12
galerias, além de O Grande Pátio, começando por
As Primeiras Vilas, onde encontra-se a impressio-
nante Estátua Monumental com duas cabeças,
emprestada pelo Departamento de Antiguidades
da Jordânia, de cerca de 6.500 a.C., que lembra
as esculturas delgadas de Giacometti, até Um
palco global, com obras contemporâneas, nem
todas tão unânimes em qualidade, como o arroz
de festa Ai Weiwei, com uma escultura de luzes
inspirada na Torre de Babel _como sempre o efeito
se sobrepondo ao conteúdo.
No percurso das 12 galerias a diversidade de fato é
uma tônica, e algumas peças como Leão de Mari-
-Cha, produzida na Andaluzia ou no sul da Itália
por volta do século 11 que, acredita-se, produzia
som. “Ela representa esse encontro de culturas
durante a Idade Média, uma peça islâmica pro-
duzida no Ocidente”, explicou Souraya Noujaim
GRAND VESTIBULE, LOUVRE ABU DHABI na galeria 6 Do Mediterrâneo ao Atlântico, onde
ela se encontra.
sintonia, desde o início, como organizar uma instituição Apesar de Salvatore Mundi ainda não estar em
dessas no século 21”, disse Souraya Noujaim, diretora exibição, outra pintura de Leonardo da Vinci reina
executiva do Louvre Abu Dhabi, a um grupo de jornalistas, na galeria 7, O Mundo em Perspectiva. Trata-se
em março passado, que incluía ARTE!Brasileiros. Escolhida de La Belle Ferroniere, realizada em Milão entre
para o cargo em fevereiro passado, Noujaim trabalhava 1495 e 1499, e que é uma das 300 obras em
no projeto já há quatro anos pelo lado francês no acordo comodato do Louvre em Abu Dhabi, provavel-
binacional, sendo curadora para arte islâmica na Agência mente a mais valiosa.
de Museus da França. Além da mostra permanente, o Louvre Abu Dhabi
O percurso na mostra permanente é cronológico, com exce- tem ainda duas galerias para exposições tempo-
ção da primeira sala, chamada O Grande Pátio, onde obras rárias. Em março passado, “From one Louvre to
de distintos períodos são agrupados por temas. Entre os another” (de um Louvre para outro) abordava de
destaques estão três peças que tratam da maternidade: forma comparativa o nascimento do Louvre, em
uma escultura egípcia da deusa Iris com seu filho Horus Paris, em 1992, com o novo nos Emirados Árabes,
(800 – 400 a.C.), uma imagem de marfim da Virgem com 224 anos depois.
Jesus (1320 – 1330) e uma peça em madeira da República Já “Globes, Visions of the World” (Globos, visões
do Congo de Phemba (século 19), a figura da maternidade do mundo) apresentou a história da relação entre
do povo Yombe. a noção astronômica da esfera e a criação de
O trio representa bem o conceito do Louvre Abu Dhabi como objetos com0 os globos, astrolábios e mapas em
“museu universal”, já que apresenta desde como a materni- um percurso que mistura fé e ciência.
dade era representada na civilização egípcia séculos antes Seja nesta última mostra, seja na exibição per-
de Cristo, passando pela religiosidade católica e chegando manente, a arte e a produção francesa ganham
FOTO MARC DOMAGE à cultura africana da região do Congo. sempre certo destaque, mas afinal ninguém
vende uma marca por meio bilhão de dólares e
“Para demonstrar o que a humanidade tem em comum,
não a valoriza.
Louvre Abu Dhabi usa o caminho da universalidade”, afirma
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