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EXPOSIÇÃO ARTIGO
releituras de A Negra, nos levando vanguardas artísticas no Brasil é ressaltar sua formação na
a pensar para onde seu trabalho com sua exposição que Europa, na Académie Julian
estava apontando. é considerada um marco na em Paris, com nomes como
Revelando a constante disputa história da arte moderna brasileira André Lhote, Albert Gleizes
teórica sobre em qual momento e o “estopim” da Semana de Arte e, sobretudo, Fernand Léger,
se deu o início do movimento Moderna de 1922, como aponta sempre apontado como um
moderno no Brasil, o curador o historiador Mário da Silva Brito. mestre da artista, inclusive no
da exposição no MoMA, o Tarsila não inventou a arte catálogo da exposição no MoMA.
venezuelano Luis Pérez-Oramas, moderna no Brasil, mas foi, Porém, Tarsila, na mesma
argumenta em seu texto Segundo Aracy Amaral, a entrevista para Revista Veja,
do catálogo da mostra que “pioneira de um estilo modernista afirmou o contrário: “Eu gostava
o Modernismo no Brasil não brasileiro”. O título dessa muito da obra dele, fui muito
surgiu nem antes e nem durante exposição “Tarsila do Amaral: amiga dele, mas não frequentei
a Semana de Arte de 1922, tendo inventando a arte moderna no o atelier do Léger, eu era amiga
surgido anos mais tarde, pois Brasil”, diz muito sobre como da mulher dele também, depois
a modernidade, segundo ele, o MoMA se apropria de narrativas até inventaram que ele tinha
consiste em coisas que vão muito da América Latina recriando desenhado brincos para mim,
além de uma escaramuça elitista. narrativas históricas e definindo etc., imagine! Eu me inspirei em
E diz: “O ensaio presente não se os cânones ao longo do século XX São Paulo mesmo, na sociedade
propõe a resolver a questão até os dias de hoje, como defende fabril e foi uma novidade naquele
do que a modernidade era ou a historiadora Ana Avelar em tempo, no Brasil, o que eu fiz.”
não era no Brasil, mas examina seu livro A raiz emocional, Nesse sentido, ganha força
uma artista, Tarsila – cujo de 2014. Desta forma, a ideia de que o modernismo
trabalho e personalidade artística me pergunto se o MoMA, com brasileiro deve ser entendido
estão inextricavelmente ligados esta exposição da obra de Tarsila, a partir de sua própria história
ao destino do projeto moderno não estaria consumindo nossa e de uma perspectiva
do Brasil e a imagem dessa cultura como um antropófago. independente, que leve em conta
modernidade”. Mario de Andrade desempenhou os múltiplos atores e fatores
Mas o desejo pelo modernismo um papel fundamental que o configuraram, fugindo
começou muito antes, alguns no processo de legitimação de narrativas totalizadoras
historiadores apontam inclusive da sua obra. Ele basicamente e reducionistas. Essa discussão
para o final do século XIX. Muitos indicava através de cartas quais deve ser ampliada e atualizada
desses artistas (várias mulheres, caminhos ela deveria seguir, para entendermos como a leitura
vale pesquisar) desapareceram, ele defendia que era necessário da obra de Tarsila do Amaral
não se legitimaram nesse manter a figura, manter e do modernismo brasileiro
processo modernista. os elementos da brasilidade podem ter mudado ao longo
Alguns eventos antecederam como afirmação da arte brasileira de quase um século. Mas será
o Modernismo Brasileiro, como lá fora, e essa preocupação em que a abordagem do MoMA
a exposição de Lasar Segall, imprimir uma identidade nacional ao longo da história se atualiza?
em 1913, que já flertava com na produção artística brasileira Então, o que de fato significa
as vanguardas alemãs. permanece até os dias de hoje, a Tarsila no MoMA hoje?
Entretanto, será Anita Malfatti, ressoando a declaração feita por
que depois foi praticamente Tarsila, em 1923: “Eu quero MoMA Museu de Arte Moderna (Nova York)
apagada pela história, que em ser uma pintora do meu país”. Tarsila do Amaral: Inventing
1917, recém-chegada da Europa, Outro fator de legitimação Modern Art in Brazil
Até 3 de junho de 2018
abriu as portas para as sempre utilizado com Tarsila
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Book_ARTE42.indb 52 3/22/18 6:10 PM