Page 48 - ARTE!Brasileiros #41
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
mostrando uma Moema impotente, dominada,
que morre de amor pelo conquistador branco), e
uma fotografia extremamente delicada de Claudia
Andujar, na qual se vê um índio real, em seu con-
texto específico (uma aldeia Yanomami), flagrado
em repouso.
Outros diálogos, espalhados ao longo da expo-
sição, merecem atenção, como a contraposição
entre a imagem de mulher primitiva criada por Ana
Mendieta e a fotografia “O Escultor e a Deusa”, de
Ernesto Neto. A sensualidade da imagem da boca
do artista “emoldurando” uma pequena divindade
feminina não é algo comum na exposição. Eviden-
temente o erotismo e a representação visual do
desejo – tema importante na história da arte – tem
seu lugar na exposição, mas se encontra diluído
em meio a outras tantas questões mais presentes
como a incomunicabilidade, a indiferenciação, o
uso do sexo como poder ou como arma política.
Há uma série de exemplos de denúncia enfática,
como as telas de Descartes Gadelha, que retrata o
caráter grotesco do turismo sexual e pedofília na
praia de Iracema, em Fortaleza, ou a série “Para
Hereges”, de Leon Ferrari, na qual desenhos eró-
ticos são sobrepostos a gravuras de passagens
bíblicas de Dürer, explicitando os vínculos entre
religião, opressão e perversão. Parecem menos
relevantes os trabalhos em que o erotismo e a
sensualidade predominam, como no caso de Alair
Gomes e Tracey Moffat (outro dos grandes encon- A DECISÃO DO MASP de proibir para menores de 18 anos
tros da exposição). Quem for à “Histórias da Sexu- a mostra “Histórias da Sexualidade”, seguiu uma estratégia
alidade” em busca de cenas tórridas ou imagens perigosa. Se toda a discussão em torno da censura aplicada
que se aproximam da pornografia, ficará frustrado. acabou revertendo em uma grande publicidade em torno do
Ao final do percurso, resta ao visitante a sensação museu e da instituição, atraindo novos visitantes curiosos, a
de um certo mal-estar contemporâneo diante de medida acaba por levar a um desgaste da imagem do museu
uma repressão sexual permanente, que agora como instituição independente e autônoma.
renasce com força, e contra a qual os artistas se Há dois pontos a serem considerados em relação a esse
batem de forma um tanto desesperançada, mas assunto: em primeiro lugar a decisão de não seguir o sistema
intensa. Ilustra essa sensação a obra de Sergio de classificação indicativa, em vigor no país há décadas,
mas usualmente aplicado aos setores cinematográfico
e teatral. De acordo com esse sistema, a fiscalização se
Histórias da Sexualidade
De 20 de outubro de 2017 a 14 de fevereiro de 2018 resume a indicar aos pais que aquele conteúdo pode não
Masp ser adequado para determinada idade por conter aspectos
Av. Paulista, 1578, SP como nudez, violência etc, mas cabe ao responsável legal
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