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GUERRA CULTURAL CARIRI
maioria trabalha nos serviços, na educação, no comércio
e no artesanato. É uma sociedade que respeita e cultua
os mestres, cidadãos que trouxeram para a comunidade
suas histórias familiares de cultura popular.
Em 2003 foi decretada a Lei Tesouros Vivos, que
reconhece mais de 120 mestres da região e lhes outor-
ga uma bolsa vitalícia com um salário mínimo, uma
espécie de aposentadoria que lhes permite continuar
passando sua sabedoria e serem uma referência para os
jovens. Dezenas de artesãos oferecem seus trabalhos
no Centro Mestre Noza, Associação dos Artesãos de
Juazeiro do Norte.
Na Floresta Nacional, o Mestre Galdino, especialista
em biodiversidade, conhece tudo sobre animais, plantas
medicinais, flores e abelhas e se tornou um dos guias
mais importantes da região.
Em Potengi, ao lado da Lagoa de Sassaré, Mestre
Antônio Luiz, o mais antigo representante do Reisado do
Couro (uma das tradições criadas junto ao Reisado do
Congo), nascido em 1957, ensina os rituais para as novas
gerações que aprendem a “brincar” com as mesmas
máscaras, vestimentas e os entremeios, construídos
ainda em 1978.
A lenda do Reisado originalmente é europeia, aqui
no Brasil é revisitada nos bairros mais pobres desde
o Século xix, onde, através de “caretas”, máscaras
típicas, as crianças se transformam em reis durante
as apresentações.
No Crato, o Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esme-
raldo foi erguido durante a pandemia, inaugurado no
dia 1º de abril de 2022 e integra a rede de equipamentos
culturais da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará.
Está instalado um prédio histórico desativado, de cerca
de 50 mil metros quadrados, construído na década de
1940 para abrigar o Seminário da Ordem da Sagrada
Família de ensino religioso e fechado em 1969. A partir
de 1973 funcionou como o Hospital Manoel de Abreu e
acabou sendo desativado em 2014.
“O Centro Cultural do Carirí é gerenciado através de
uma parceria entre a Secretaria de Cultura do Governo
do Ceará, a Secult Ceará e o Instituto Mirante de Cultura
e Arte, que entende a necessidade de investir como
política pública na educação, na saúde, no território, FOTOS: PATRICIA ROUSSEAUX
numa estratégia de sobrevivência onde a Cultura é o
resultado de diversas ações estruturais para o desen- Ateliê de
volvimento humano”, diz Rosely Nakagawa, diretora do máscaras
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