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GUERRA CULTURAL POLÍTICA













                                    Uma série de exposições e eventos relembra os 60
                                    anos do golpe militar, revisitando traumas e heranças e
                                    conectando o passado às recentes ameaças à democracia

                                    por maria hirszman




            REPETEM.


            É BOM LEMBRAR












            o golpe militar de 1º de abril de 1964 inaugurou um   O Memorial da Resistência de São Paulo, além de
            longo período de autoritarismo, repressão, desmandos   dar continuidade a sua programação normal, se espraia-
            e violência no país. Oficialmente, o regime durou 21 anos.  rá para além de seus limites, realizando eventos em
            Mas seus ecos e consequências se fazem sentir até hoje,  parceria com outras instituições, como sua vizinha
            intensificados pelos recentes desvios autoritários do   Estação Pinacoteca. No terceiro andar do prédio que foi
            governo Jair Bolsonaro, que culminaram com a tentativa   ocupado pelo deops, acontecerá uma ampla mostra da
            fracassada de sublevação e tomada de poder de 8 de janeiro   coleção de Alípio Freire, que foi recentemente doada ao
            de 2023. O ressurgimento de discursos (e ações) de caráter  Memorial e que reúne uma serie de memórias da luta,
            autoritário acabou por ampliar a dimensão simbólica do   da prisão e da resistência produzidos pelo jornalista,
            aniversário de 60 anos do movimento civil-militar, refor- artista e militante político. O Memorial também realiza
            çando ainda mais a importância dos eventos planejados   parceria com a puc-sp, que leva ao espaço do museu
            para refletir e tratar dos feitos e efeitos do golpe.  a exposição Resistências, uma exposição que conta a
              Antes de mais nada, existe uma rede de instituições   trajetória da puc e trata de momentos importantes de
            espalhadas pelo país que tem por função primordial   resistência da instituição aos desmandos da ditadura.
            investigar e denunciar os desmandos do período e que   O Memorial da Democracia de Pernambuco, institui-
            planejam ações de peso para este ano, com a realização   ção inaugurada no final de 2022, também programou uma  FOTOS: ARQUIVO PÚBLICO | SILVIO MACEDO, ACERVO BIBLIOTECA FAUUSP DO ESTADO DE SÃO PAULO
            de exposições, debates e publicações. A esse esforço   série de ações rememorativas da data da sublevação. Em
            permanente se somam mostras ocasionais, com forte   primeiro de abril será inaugurada a praça da democracia
            sintonia com o tema, ou criações poéticas pontuais,  em Abreu e Lima (pe), mesmo local em que aconteceu o
            esforços de reflexão e arregimentação de conteúdos que   primeiro ato do movimento pelas Diretas Já, e realizado
            ajudam a iluminar, em termos históricos e conceituais,  um ato em favor da democracia e repúdio à ditadura. Nos
            esses momentos de inflexão da história. Concretiza-se   dias subsequentes, serão abertos no novo espaço uma
            assim um esforço prático e construtivo de se rememorar  mostra literária e a exposição Arte e Resistência.
            o passado como ferramenta – teórica e política – para   Outra instituição cuja trajetória está intimamente
            que ele não nos assombre permanentemente, comba- ligada ao antagonismo à ditadura – sendo inclusive
            tendo o negacionismo e o recalque.              tombada pelo município e pelo estado de São Paulo

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