Page 105 - ARTE!Brasileiros #49
P. 105

detalhado apresentado por Joaquim Lebreton,   do projeto no ensino dos jovens, habilitando-os
                               chefe da Missão Francesa, em 1816, e inédito até   não apenas à técnica, mas a uma sensibilidade
                               1958. Endereçado ao Conde da Barca, o escrito   formal, desenvolvendo uma qualidade estética
                               apresenta uma proposta detalhada para a funda-  cuja germinação é necessária para o progresso
                               ção de um sistema de ensino no país. Trata-se na   não só econômico, mas também cultural do país
                               verdade de um projeto com duas bases: defende   — que ansiava por uma acelerada atualização e
                               a criação de uma Escola Imperial de Belas Artes   modernização nacional.
                               e também de um Liceu das Artes — que só viria   Mario de Andrade, Vilanova Artigas e Flávio Motta,
                               a existir décadas depois. Ele defende a necessi-  os autores dos ensaios subsequentes, adotam
                               dade de estimular, ao mesmo tempo, a ciência do   pontos de vista diferenciados e complementares. O
                               desenho como base da arte e como técnica vital   que fascina Mubarac no ensaio de Andrade sobre
                               para a formação de uma mão de obra capacitada.   Lasar Segall é seu tom poético, sua ousadia na
                               Questões semelhantes perpassam os textos subse-  tentativa de esmiuçar a relação entre obra visual
                               quentes. Os escritos de Ruy Barbosa e Lucio Costa,   e escritura. “Se para Lucio Costa rabisco não é
                               relacionados com projetos de reforma educacional   desenho, para Mario de Andrade é”, exemplifica o
                               iniciados nos anos 1880 e 1930, respectivamente,   artista e professor da Escola de Comunicações e
                               também enfatizam a necessidade de incorporar   Artes (ECA-USP), que há muito tempo garimpa tex-
                               a arte e a ferramenta da ilustração, do esboço     tos e reflexões sobre o tema. “Não sou um teórico,
                                                                           sou um desenhista que gosta de estudar”, brinca.
                                                                           O apreço à diversidade, à importância de se consi-
                                                                           derar as diferentes formas de pensar/fazer/traçar
                                                                           imagens dá a tônica ao ensaio de conclusão, de
                                                                           sua autoria, que tem como ponto de partida o
                                                     SOBRE O DESENHO NO BRASIL  esforço de síntese para uma aula sobre o dese-
                                                       CLAUDIO MUBARAC (ORG.)
                                                      EDITORA ESCOLA DA CIDADE  nho, proferida em 2017 na Escola da Cidade. No
                                                                260 PÁGINAS  caso deste texto de encerramento, a seleção de
                                                              PREÇO R$70,00  trabalhos gráficos com os quais se relaciona é
                                                                           ainda mais ampla. Contempla ensaios visuais de
                                                                           oito artistas contemporâneos, com os quais o
                                                                           artista e professor vem mantendo há décadas
                                                                           uma troca intensa sobre o fazer gráfico. São eles
                                                                           Alberto Martins, Elisa Bracher, Ester Grinspum,
                                                                           José Spaniol, Madalena Hashimoto, Marco Buti,
                                                                           Paulo Monteiro e Paulo Pasta. A diversidade e
                                                                           complementariedade entre eles só faz reforçar
                                                                           a ideia expressa pelo autor, relativa à complexi-
                                                                           dade, centralidade e diversidade do tema, que não
                                                                           pode nem deve ser reduzido a um único ponto
                                                                           de vista, nem tampouco considerada como algo
                                                                           em decadência, vítima inexorável das profundas
                                                                           transformações na nossa cultura visual.
                                                                           Apesar de diagnosticar que na segunda metade do
                                                                           século 20 houve um descenso da produção teórica
                                                                           sobre o desenho (a tarefa de reunir reflexões sobre
                                                                           a questão não revelou-se fácil), o século 21 aparece,
                                                                           segundo ele, com uma visão renovada. “Quando
                                                                           olho para os cursos e discursos da arte, arquitetura
                                                                           e design, vejo que o desenho continua firme e forte,
                                                                           como práxis e como reflexão”, conclui.


                                                                                                                    105




         Book_ARTEBrasileiros_49.indb   105                                                                      14/11/19   01:00
   100   101   102   103   104   105   106   107   108   109   110