Page 19 - ARTE!Brasileiros #42
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gerações e origens, os caminhos tri- finais deve ocorrer em breve mas ele
lhados por cada um deles são únicos e adianta que sua seleção é extremamente
diversificados. ampla, indo de um filme inédito a algu-
Enquanto Waltércio Caldas tem lidado mas pontuações históricas. Dentre elas,
com obras que já existem, propondo um destacam-se obras da série Césio, de
trabalho mais próximo de uma curadoria Siron Franco. Criado em 1987, o trabalho ALEJANDRO CESARCO, ARTISTA URUGUAIO,
de museu (em maneira semelhante ao faz uma ácida crítica ao acidente radio- VIVE EM NOVA YORK
que já havia desenvolvido na 6 Bienal ativo ocorrido em Goiânia pouco tempo
a
do Mercosul, também curada por Pérez- antes. No total, a Bienal terá cerca de 80
-Barreiro, em 2007), Wura Ogunji e Clau- participantes, número que ele considera
dia Fortes – que já tem uma tradição satisfatório para conseguir viabilizar uma
de trabalho em rede – se voltaram para exposição leve, sem que o visitante se
a comunidade de artistas, horizontali- sinta exausto após a visita. ANTONIO BALLESTER, ARTISTA ESPANHOL,
VIVE EM MADRI
zando o sistema e incorporando traba- A ideia é exercitar no público o exercício
lhos novos, comissionados especialmente do olhar, que ele possa realizar suas
para a 33 Bienal. próprias escolhas, entender-se afetiva-
a
“São sete aulas de curadoria”, diz. mente e não racionalmente com a obra
“Olhei para eles mais pela diferença, de arte. O título escolhido, que mescla
pela diversidade formal e de processo, referências à Goethe e Mário Pedrosa
do que pela semelhança”, acrescenta o – sobre quem Pérez-Barreiro acaba de CLAUDIA FONTES, ARTISTA ARGENTINA,
VIVE EM BRIGHTON, INGLATERRA
curador. “É uma herança do modernismo fazer uma exposição, no museu espanhol
pensar que que existam versões corre- Reina Sofía –, reitera esse caminho. A
tas e incorretas”, explica ele. A neces- noção de atenção, de interação com os
sidade de expandir seus horizontes de trabalhos, também é essencial nesse
forma não tão controlada e de assumir projeto. “O que mudou radicalmente nos
riscos que o tirassem da posição con- últimos anos é a introdução das redes KARIN MAMMA ANDERSSON, ARTISTA SUÉCA,
fortável de repetir o que já sabe fazer sociais, a invasão da tecnologia na vida VIVE EM ESTOCOLMO
levou Pérez-Barreiro a evitar fazer mais das pessoas. Isso nos leva a pensar em
do mesmo. Dos sete curadores-artistas como criar a possibilidade de um espaço
convidados, conhecia anteriormente autêntico, de pensamento sobre a rea-
apenas dois deles (Waltércio Caldas e lidade que nos envolve e a arte é um
Alejandro Cesarco). Outras regras que o espaço altamente privilegiado para isso,
curador estabeleceu para suas escolhas porque fala de relação, fala da ambigui- SOFIA BORGES, ARTISTA BRASILEIRA,
VIVE EM SÃO PAULO
foram a do equilíbrio entre os gêneros e dade”, explica.
o respeito a uma certa balança geopo- Esse desenvolver do foco, de troca entre
lítica tradicionalmente seguida para a o espectador e a obra, ganha um peso
Bienal, de garantir uma maior represen- grande no projeto educativo. Aliás, este
tatividade de artistas brasileiros e latino- também apresenta uma mudança de
-americanos (com cada um desses grupos foco em relação às outras edições, indica WALTERCIO CALDAS, ARTISTA BRASILEIRO,
correspondendo a cerca de um terço da Pérez-Barreiro, na medida em que privi- VIVE NO RIO DE JANEIRO
mostra). Não necessariamente os co- legiará um material com uma vida mais
-curadores se aterão a esses critérios. longa, sem vínculo estrito com o conteúdo
Entremeando cada uma das sete ilhas de da Bienal para que possa tornar-se um
cada um dos artistas-curadores, o visi- instrumento mais amplo e despertar a
tante encontrará as escolhas do próprio consciência da própria atenção para além
Pérez-Barreiro. A divulgação dos nomes dos limites temporais do evento. WURA-NATASHA OGUNJI, ARTISTA VISUAL,
AMERICANA, VIVE EM LAGOS, NIGÉRIA
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Book_ARTE42.indb 19 3/22/18 6:08 PM