Page 10 - ARTE!Brasileiros #40
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CAMINHOS PARA
SAIR DA EXCLUSÃO
POR PATRICIA ROUSSEAUX, DIRETORA EDITORIAL
JAIME LAURIANO, um dos artistas ganhadores do Prêmio Marcanto-
nio Vilaça, conta sua historia, nesta edição, para Mariana Tessitore, a
história de um jovem negro brasileiro: “Eu morava com a minha mãe
de favor na casa de um tio. Ela trabalhava muito. A imagem que mais
tenho desse periodo é dela cansada”... “Tudo que eu queria era sair
dessa situação. E para isso havia duas saídas: o estudo ou o crime”.
Lauriano começou a frequentar museus e entre suas visitas, viu uma
obra do Artur Barrio, o Livro de Carne, que o marcou profundamente.
Ele resolveu estudar arte. Entrou em contato com artistas e teóricos.
Cursou a faculdade de Belas Artes e hoje, quinze anos, depois é um
artista reconhecido e que usa seu trabalho para contar a historia da
escravidão no Brasil, entre outros temas.
Longe de ser melodramática, essa historia confirma que a arte é
mediadora no sintoma do mal-estar social.
Como lembra a curadora Michelle Sommer que, junto ao Gabriel
Pérez-Barreiro, são responsáveis em Madri, pela mostra sobre Mario
Pedrosa, um dos maiores críticos de arte e intelectuais brasileiros (leia
materia na pág. 40). Pedrosa dedicou seus esforços na formulação de
ideias sobre a função social da arte ao longo de toda sua produção
intelectual... Está em Pedrosa uma aspiração social libertária que
busca uma revolução da sensibilidade para a revolução dos homens,
de forma experimental e livre, estruturada a partir da fluidez dos vasos
comunicantes entre arte e política, conectadas para um porvir plural”.
Esta edição está marcada pela presença da arte, tanto no Brasil como
no mundo inteiro, como veículo de expressão da repetição da violencia
contra as diferenças e o quanto o odio racial está colocado na ordem
do dia no mundo inteiro.
Bienais, a dOCUMENTA 14 em Kassel e Atenas, a mostra A terra
inquieta em Milão, Frestas no Sesc, trazem em uníssono a questão
da luta do homem pela defesa de territórios, contra a cegueira frente
ao outro, ao diferente.
Produzir esses gritos não resolve mas, sem dúvida, ajuda a cerzir um
espaço de liberdade e especial beleza, que o diga a instalação de Francis
Alys, Don’t cross the Bridge Before You Get to the River (2008), onde
o artista criou, numa colaboração com crianças de Tanger, no Marro-
cos, e Tarifa, na Espanha – os dos dois lados do estreito de Gibraltar,
o canal que separa África e Europa por apenas 13 quilômetros em seu DETALHE DE OBRA DA SÉRIE ACEITA, DE MOISÉS PATRICIO
ponto mais curto –, barcos de sandália de plástico com o objetivo de
construir uma ponte humana entre os dois continentes, “uma ação
que trata mais de esperança do que realidade”, nas palavras do nosso
colaborador Fabio Cypriano.
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