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35ª BIENAL DE SÃO PAULO
com 121 artistas e mais de mil obras ocupando por esse princípio agregador, sendo assinada con-
uma área de 30 mil metros quadrados, a 35ª Bienal de juntamente por Diane Lima, Grada Kilomba e Manuel
São Paulo concentrará ao longo dos próximos meses Borja-Villel, num cuidadoso equilíbrio entre gêneros,
as atenções do circuito das artes no país. Esse poder origens e formações.
imantador se dá pela atração de milhares de visitantes ao Alguns elementos parecem pontuar toda a mostra,
Pavilhão, mas sobretudo pela enorme capilaridade desse revelando afinidades entre os mais diferentes autores.
processo, capaz de transformar as questões centrais A forma circular ou serpenteada, que remete à ideia de
discutidas na mostra em elementos centrais do debate, tempo espiralar e à critica ao pensamento modernista
da produção e da disseminação do pensamento sobre ocidental e ao conceito linear de progresso – derivado
arte. Sob o tema Coreografias do impossível, a mostra do pensamento de Leda Maria Martins –, pontua toda a
agrupa uma quantidade recorde de artistas não bran- mostra. Compreender a história como campo aberto de
cos, cujas poéticas desafiam uma noção eurocêntrica possibilidades é uma estratégia comum dos convidados
e linear da história, resgatam tradições, jogam luz sobre da 35ª Bienal e seu conceito de tempo espiralar. São
questões e comunidades invizibilizadas. Predominam muitos os trabalhos que ilustram essa relação, como
com grande intensidade as estratégias comunitárias, Uma voz para Erauso. Epílogo para um tempo trans, de
a combinação de diferentes linguagens e técnicas e Helena Cabello e Ana Carceller. Ou a potente instalação
uma permanente sedução dos sentidos. de Ayrson Heráclito e Tiganá Santana, que conduz o
Quem abre a mostra é Ibrahim Mahama, artista de visitante numa viagem imersiva e sensorial pela mata.
Gana que já foi destaque na Bienal de Veneza, com A terra, as ânforas, vasos e alguidares são também
uma amplíssima instalação composta por elementos materiais constantes, indícios de culturas milenares,
como um trilho de trem, uma série de vasos de cerâmica de pertencimento a tradições massacradas, mas que
que pontuam o espaço e uma grande arquibancada de permanecem de pé, a exemplo das obras de Castiel
tijolos, que deve receber uma série de ações ligadas Vitorino Brasileiro, Daniel Lie, M’Barek Bouhchichi,
ao programa público do evento, que conta com uma entre outros.
extensa programação de performances, debates e O tom não é de urgência, apesar de já termos pas-
conversas. (disponível em 35.bienal.org.br/agenda). sado da hora de superar as questões políticas, sociais,
A sensação inicial de amplitude se prolonga ao longo ambientais ali abordadas. Não impera tampouco a
de praticamente toda a exposição, graças à expografia resignação, mas uma certa sabedoria em entender os
projetada pelo escritório Vão, que propôs o fechamento múltiplos tempos entrecruzados. O tempo do horror
parcial das aberturas que conectam a lateral do segundo da escravidão e o da sabedoria dos habitantes da flo-
andar ao vão central, criando espaços mais livres para resta, o tempo do drama dos imigrantes abandonados
os vários núcleos expositivos e possibilitando uma à própria sorte e aquele das vítimas da lgbtfobia, da
quebra da ideia já consolidada de que o terceiro andar brutalidade colonial e do sofrimento psíquico. São
funcionaria quase que naturalmente como um espaço trabalhos que, na maioria das vezes, oscilam entre
mais museológico dentro da Bienal. “esperança e desespero”, como sintetiza Carles Guerra
A transdisciplinaridade, em termos de conceito e no texto de apresentação da artista filipina Geraldine
linguagem, é uma das marcas dessa edição. O herme- Javier. Ou que possuem, na definição de Diane Lima,
tismo prenunciado nos primeiros textos curatoriais deu “uma beleza terrível”.
lugar a um conjunto leve e fluido, em que a diversidade A ideia de coreografia, presente no título da mos-
poética e o espírito coletivista parecem predominar. tra, ecoa por toda a mostra. São muitos os trabalhos
Chamam atenção a recorrência de trabalhos realizados que parecem flutuar no espaço, expandir-se de forma
em parceria e o grande número de coletivos, artísticos e invisível, como Pulmão da mina: o ar também alaga,
políticos. Movimentos como o coletivo Ayllu, a cozinha de Luana Vitra. Obras como a instalação de Niño de FOTO: LEVI FANAN / FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO
da Ocupação 9 de julho (que assume o restaurante), a Elche fazem literalmente o público dançar; Pauline
Frente 3 de Fevereiro, o Giap (Grupo de Investigación Boudry e Renate Lorenz investigam o movimento do
em arte y política) ou ainda o Zumví Arquivo Afro, apenas corpo e fundem de forma desconcertante o espaço do
para citar alguns, têm presença marcante na mostra. vídeo e o espaço físico da exposição; isso sem falar nas
Convém lembrar que a própria curadoria responde referências históricas como Katherine Dunham. Mas
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