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Art Basel 2022

Art Basel Sonia Gomes - Sem título, 2004. Foto: divulgação/Mendes Wood DM
Sonia Gomes - Sem título, 2004. Foto: divulgação/Mendes Wood DM

Art Basel 2022 volta a acontecer no mês de junho, dos dias 16 a 19, na cidade suíça da Basileia. Seis galerias brasileiras se encontram entre os mais de 200 participantes internacionais da feira deste ano, sendo elas: A Gentil Carioca, Fortes D’Aloia & Gabriel, Galeria Luisa Strina, Gomide & Co, Mendes Wood DM e Nara Roesler.

A galeria A Gentil Carioca apresenta uma seleção de obras inéditas de seus artistas sob o conceito de flutuação. Os trabalhos suspensos convidam os espectadores a contemplar o estande em oposição à gravidade. Entre os artistas presentes estão Agrade Camíz, Aleta Valente, Ana Linnemann, Arjan Martins, Cabelo, Jarbas Lopes, João Modé, José Bento, Laura Lima, Marcela Cantuária, Maria Laet, Maria Nepomuceno, Maxwell Alexandre, Novíssimo Edgar, OPAVIVARÁ!, Renata Lucas, Rodrigo Torres, Vinicius Gerheim and Vivian Caccuri.

Já a Fortes D’Aloia & Gabriel exibe uma seleção de obras históricas inéditas de alguns de seus artistas representados, incluindo nomes conhecidos como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Ernesto Neto, Erika Verzutti, Iran do Espírito Santo, Janaina Tschäpe, Jac Leirner, Lucia Laguna, Marcia Falcão, Marina Rheingantz, Nuno Ramos, Rivane Neuenschwander, Sheroanawe Hakihiiwe, Valeska Soares e Yuli Yamagata.

A Galeria Luisa Strina leva para a seção principal da feira uma coleção de obras de artistas latino-americanos e europeus, com destaque para os brasileiros Tonico Lemos Auad, Panmela Castro, Alexandre da Cunha, Marcius Galan, Fernanda Gomes, Laura Lima, Renata Lucas, Cinthia Marcelle, Marepe, Cildo Meireles, Lygia Pape, Clarissa Tossin e uma apresentação solo da artista Anna Maria Maiolino no setor Unlimited.

Enquanto isso, a galeria Gomide & Co expõe trabalhos de diferentes épocas e contextos da arte brasileira, incluindo os artistas Luciano Lorenzato, Chico da Silva, Francisco Brennand, Hercules Barsotti, Jaider Esbell, Lenora de Barros, Lygia Clark, Maria Lira Marques, Max Bill, Mira Schendel, Norberto Nicola, entre outros.

A Mendes Wood DM inclui uma seleção de destaques do seu programa, seguindo a intenção de expor artistas internacionais e brasileiros em um contexto propício ao diálogo. Entre eles estão Lucas Arruda, Sonia Gomes, Heidi Bucher, Neïl Beloufa, Paloma Bosquê, Paulo Monteiro, Nina Canell, Michael Dean, Varda Caivano, Mariana Castillo Deball, Guglielmo Castelli, Eleonore Koch, Patricia Leite, Paulo Nazareth, Rosana Paulino, Solange Pessoa, Paulo Nimer Pjota, Maaike Schoorel, Luiz Roque & Erika Verzutti, Amadeo Luciano Lorenzato, Paula Siebra, Marina Perez Simão, Kishio Suga, Rubem Valentim e Alma Allen.

Por fim, a galeria Nara Roesler exibe uma apresentação solo de Carlito Carvalhosa, artista que atuou no Brasil desde o início dos anos 1980, e cujo trabalho está atualmente em exposição no local da galeria em Nova York. A apresentação centra-se na utilização contínua da Carvalhosa de superfícies reflexivas e materiais brancos opacos – de cera a cerâmica e gesso.

Inhotim: instituto recebe doação de mais de 300 obras de arte

Cildo Meireles, 'Desvio Para o Vermelho', 1967-1984, Inhotim
Cildo Meireles, 'Desvio Para o Vermelho', 1967-1984

O Instituto Inhotim, em Minas Gerais, anunciou que seu fundador, o colecionador de arte e ex-magnata da mineração Bernardo Paz, vai transferir cerca de 330 obras de sua coleção para a instituição privada. O parque de esculturas e jardim botânico, que se estende por mais de 5.000 acres, foi fundado por Paz como um centro sem fins lucrativos em 2006, e já contém uma coleção que abrange mais de 1.000 obras. Em 2008, foi reconhecido como organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) pelo governo mineiro. O Inhotim compreende 23 galerias, incluindo quatro galerias rotativas, e 19 grandes instalações permanentes de Cildo Meireles, Rivane Neuenschwander, Hélio Oiticica, Lygia Pape, William Kentridge, Tunga e outros, que foram incluídas na doação.

“A coleção foi doada e incorporada ao acervo do Instituto. A partir dessa nova governança foi criado um comitê consultivo com membros do Conselho, da Direção Artística e o Allan Schwartzman para opinar sobre a incorporação de obras ao acervo e mobilizar recursos para novas doações, mantendo o Inhotim com um colecionismo ativo fundamental à sua tipologia de museu de arte contemporânea”, afirma Lucas Pessôa, diretor presidente do instituto. Deste conselho, Bernardo Paz será o presidente e o empresário mineiro Eugênio Mattar o vice. Fazem parte dele outras 18 pessoas, entre executivos de diversos setores e agentes culturais.

O grupo ainda será ampliado com mais 10 integrantes, responsáveis por deliberações administrativas e financeiras do Inhotim, mas não terá papel decisório na programação cultural do museu. “A intenção é que esse comitê possa desenvolver no futuro uma política de aquisições que organize esse processo a partir de eixos programáticos, observando eventuais lacunas na coleção, e incorporando trabalhos que possibilitem a ampliação das visadas críticas com o acervo existente”, complementa Pessôa.

Já a diretora artística Julieta González coloca que: “No caso das inaugurações atuais, trabalhamos muito para dar uma forma mais específica ao projeto de Abdias Nascimento e convertê-lo no eixo norteador do programa até o final de 2023, quando finaliza esta parceria com IPEAFRO, que realmente inaugura uma virada epistêmica no pensamento, programa e coleção do Inhotim, e uma relação mais permanente e estável com diversas comunidades, entre elas, a Afro-brasileira”.

No dia 28 de maio foram inauguradas no Inhotim novas obras e exposições temporárias, incluindo Isaac Julien, importante nome nos campos da instalação e do cinema, convidado a expor um de seus trabalhos mais emblemáticos na Galeria Praça. Já o Acervo em Movimento, programa criado para compartilhar com o público as obras recém-integradas à coleção, inaugurou a nova temporada com trabalhos dos artistas brasileiros Arjan Martins e Laura Belém, ambos instalados em áreas externas do Instituto. Jaime Lauriano também integrou a lista dos artistas participantes da programação, abrindo o projeto Inhotim Biblioteca e mantendo relação direta com o Segundo Ato do projeto Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra (MAN), ao propor a curadoria de uma nova bibliografia que contempla autores negros para integrar o acervo da biblioteca do Inhotim. Por último, o Segundo Ato do MAN ocupa a Galeria da Mata e é realizado em curadoria conjunta entre Inhotim e IPEAFRO para abordar o Teatro Experimental do Negro, movimento encabeçado por Abdias Nascimento, e que está nas origens do Museu de Arte Negra.

As inaugurações são parte do Território Específico, eixo de pesquisa que norteia a programação do Instituto no biênio de 2021 e 2022 (saiba mais aqui).

As novidades marcam uma nova trajetória esperada do Inhotim que passou por períodos de instabilidade há cinco anos quando problemas judiciais da Itaminas, conglomerado formado por 29 empresas da qual Paz foi dono até ser vendida em 2010. Em 2021, a Itaminas assinou acordo com a Procuradoria-geral da Fazenda Nacional em torno de seu passivo tributário, cerca de R$ 1,6 bilhão. A União pediu o empenho de todos os imóveis do grupo, incluindo Inhotim. O museu acabou ficando livre da penhora, embora um acordo anterior incluísse 20 obras do museu como pagamento da dívida. Em 2020, o mesmo acordo foi tido como ilegal na Primeira Vara de Feitos Tributários do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Bienal de Berlim busca estratégias decoloniais para o futuro

The School of Mutants,
The School of Mutants, "All Fragments of the Word Will Come Back Here to Mend Each Other", exposta na Akademie der Künste em Pariser Platz como parte da 12ª Bienal de Berlim. Foto: dotgain.info

Cerca de 70 artistas e coletivos de diferentes países compõem o programa de exposições da 12ª Bienal de Berlim, que abre as portas para o público neste sábado, 11 de junho. Apresentando projetos artísticos e programas de mediação em diversos locais da capital alemã, o evento busca contribuir com novas perspectivas para o discurso cultural contemporâneo. Neste ano, a curadoria de Kader Attia – feita em colaboração com a equipe artística – enfoca os impactos da herança colonial e imperialista e as possibilidades de resistência e reparação a partir da decolonialidade.

O curador Kader Attia junto à equipe artística da da 12ª Bienal de Berlim; da esq. para a dir., Ana Teixeira Pinto, Noam Segal, Kader Attia, Đỗ Tường Linh, Rasha Salti, Marie Helene Pereira. Foto: Silke Briel

“A sociedade distópica que herdamos produz caos, mas nega a responsabilidade por isso. Na verdade, o mundo atual é da forma que é porque carrega todas as feridas acumuladas ao longo da história da modernidade ocidental. Não reparadas, elas continuam a assombrar sociedades”, afirma Kader Attia em seu texto curatorial.

Frente a isso, a Bienal de Berlim apresenta artistas de todo o mundo que se envolveram com os legados da modernidade e seu resultante estado de emergência planetário para desenvolver seus trabalhos, e traz documentos históricos, incluindo publicações políticas e ativistas do Archiv der Avantgarden – Egidio Marzona. As contribuições revelam conexões entre colonialismo, fascismo e imperialismo, propondo estratégias para o futuro e levantando uma série de questões que orientam o evento: “Como pode ser moldada uma ecologia decolonial? Quais papéis os movimentos feministas não ocidentais assumem na reapropriação de narrativas históricas? Como o debate da restituição pode ser reinventado para além da devolução de bens saqueados? Pode o campo da emoção ser recuperado através da arte?”, explicita o texto oficial da mostra.

Como pensar a reparação no capitalismo?

O relatório de 2018 de Bénédicte Savoy e Felwine Sarr sobre a restituição do patrimônio cultural africano desencadeou uma conversa ampla sobre o colonialismo na Europa. Instituições começaram a se envolver com sua herança colonial e rever os objetos saqueados presentes em suas coleções; os governos se comprometeram com a restituição. “Estes são os primeiros passos para a reapropriação do patrimônio cultural e a descolonização. Mas como essa disposição de enfrentar o passado colonial pode ser usada para intervir em um presente que está firmemente nas garras do que Cedric J. Robinson chamou de capitalismo racial – descrevendo o capitalismo como um sistema baseado na exploração de um Outro racialmente construído?”, compartilha a equipe da bienal..

A fim de se aprofundar nessa discussão, as visitas guiadas, oficinas, performances, exibições de filmes e conferências que acontecem paralelamente à mostra tomam o debate convocam estudiosos, ativistas e artistas para explorar como o colonialismo e o imperialismo continuam a operar no presente. Nessas atividades, os participantes abordam o impacto da expansão imperial da Europa nos ecossistemas da Terra, discutem lutas e estratégias contemporâneas em torno dos feminismos do Sul Global e analisam como o racismo é apoiado pelas tecnologias culturais. Veja a programação completa no site da bienal alemã (clique aqui).

A escolha dos espaços expositivos para as mostras também buscou ecoar essas reflexões. A arte!brasileiros preparou uma lista com informações importantes das seis instituições que sediam a bienal alemã. Confira:

KW Institute for Contemporary Art

Foi neste espaço que, em 1998, a Bienal de Berlim foi inaugurada. Desde então, a instituição – que visa abordar as questões prementes dos nossos tempos através da produção, exibição e mediação da arte contemporânea – tem sediado a exposição principal da mostra.

Onde: Auguststraße 69, 10117 – Berlim, Alemanha
Quando: Quarta a segunda, das 11h às 19h

Akademie der Künste

Pela primeira vez, a Bienal de Berlim ocupa as duas sedes da Akademie der Künste, na Pariser Platz e em Hanseatenweg. Fundada em 1696, a instituição passou por uma cisão após a Segunda Guerra Mundial, ao que se estabeleceu uma unidade no Oriente e outra no Ocidente, que voltaram a atuar conjuntamente após a queda do Muro de Berlim. Na 12ª edição da mostra alemã, cada espaço recebe uma exposição coletiva.

Sede de Hanseatenweg
Onde: Hanseatenweg 10, 10557 – Berlim, Alemanha
Quando: Quarta a segunda, das 11h às 19h

Sede de Pariser Platz
Onde: Pariser Platz 4, 10117 – Berlim, Alemanha
Quando: Quarta a segunda, das 11h às 19h

Dekoloniale Memory Culture in the City

A individual do artista Nil Yalter ocupa a sede do projeto piloto Dekoloniale Memory Culture in the City, que busca identificar efeitos pós-coloniais presentes na metrópole. O espaço está localizado entre os antigos prédios da Chancelaria do Reich e do Ministério das Relações Exteriores, onde enviados das potências europeias, dos Estados Unidos e do Império Otomano se reuniram para a Conferência de Berlim (1884) e firmaram acordo sobre as regras para a partilha colonial da África, criando as condições necessárias para a sua exploração.

Onde: Wilhelmstraße 92, 10117 – Berlim, Alemanha
Quando: Pode ser visitado a qualquer momento (vitrine da fachada)
Entrada franca

Quartel General Stasi. Campus da Democracia

A antiga sede do Ministério da Segurança do Estado (Stasi) de Berlim foi o espaço onde funcionários do estado organizaram a vigilância e perseguição de cidadãos da República Democrática Alemã e conduziram as operações de espionagem estrangeira – ambas para sustentar o governo do Partido Comunista da Alemanha Oriental. Em janeiro de 1990, os manifestantes invadiram o espaço ocasionando no fim da Stasi e na destruição de seus arquivos. Hoje, este antigo bastião da polícia secreta é um centro educacional sobre ditadura, resistência e democracia e recebe uma das exposições coletivas da bienal.

Onde: Ruschestraße 103, Haus 7 and 22, 10365 – Berlim, Alemanha
Quando: Quarta a segunda, das 11h às 18h
Entrada franca

Hamburger Bahnhof – Museum für Gegenwart

Atualmente, a instituição abriga uma das maiores e mais significativas coleções de arte contemporânea do mundo. Os cerca 10 mil metros quadrados de edifício contam com trabalhos da Galeria Nacional e de outras importantes coleções internacionais, além de receberem exposições temáticas eventuais, como é o caso da coletiva da bienal.

Onde: Invalidenstraße 50–51, 10557 – Berlim, Alemanha
Quando: terça, quarta e sexta, das 10h às 18h; quinta, das 10h às 20h; sábado e domingo, das 11h às 18h

Podendo ser adiquiridos online ou presencialmente (no KW Institute for Contemporary Art, na Akademie der Künste – Pariser Platz, ou no Hamburger Bahnhof – Museum für Gegenwart – Berlin), os ingressos permitem entrada individual nos diferentes espaços expositivos e são válidos durante toda a duração da bienal.

Individual: 18 €
Grupos de 10 ou mais pessoas: 16 € por pessoa
Ingresso com valor reduzido*: 9 €
Ingresso com valor reduzido* (grupos): 7 € por pessoa
Entrada gratuita para menores de 18 anos, pessoas com berlinpass, membros de Freunde of KW e Berlin Biennale, e no primeiro domingo de todo mês.

*Valor reduzido é válido para estudantes, pessoas em serviço voluntário federal, membros BBK, pessoas desempregadas e pessoas com deficiência (especificações sobre PcDs no site do evento) mediante apresentação de identificação válida.

Dani Tranchesi percorre o país em novo projeto

Dani Tranchesi
Em ação, a fotógrafa Dani Tranchesi, que está viajando o país para fazer registros de religiosidade e brasilidade. Foto: Cortesia da artista

Entre o fim de 2019 e o início de 2020, a fotógrafa Dani Tranchesi havia iniciado um novo projeto, sobre festas religiosas no Brasil. Chegara a registrar as comemorações em torno de Santa Bárbara, em 4 de dezembro de 2019, em Salvador, onde o sincretismo também comemora, nesse dia, a orixá Iansã. E, em 2 de fevereiro, fotografara as homenagens a Iemanjá, também na capital baiana. Já havia programado, entre outras, uma viagem a Nova Jerusalém, em Pernambuco. Veio a pandemia, e os planos foram interrompidos.

A quarentena imposta pela crise sanitária acabou fazendo com que Dani e o curador Diógenes Moura, colaborador recorrente dela, repensassem parcialmente os planos. “Eu me perguntei se o foco deste novo livro deveriam mesmo ser as festas, ou se a religiosidade no Brasil é muito maior e vai além delas. Será que minha fotografia de rua e estas pessoas que registro não têm também a ver com o tema?”, questiona a fotógrafa que, no entanto, não abriu mão das festividades religiosas, agora que a pandemia permite viajar, ao menos.

“Ampliamos o projeto. Obviamente vou para algumas festas, como o São João no interior do Maranhão, aonde irei acompanhada do Márcio Vasconcelos, um fotógrafo maranhense, que por sua vez convidou um antropólogo local para nos ajudar. Em setembro, também vou a uma procissão de caminhões enfeitados que acontece em Juazeiro do Norte, no Ceará. O trabalho passará a incluir registros do interior do Brasil, seus costumes, suas casas, retratos das pessoas. E Diógenes Moura, que também é escritor, fará crônicas sobre os lugares”, conta Dani.

Batizado de Seja o Que Deus Quiser, o livro em gestação será lançado no primeiro semestre de 2023. O título, afirma Dani, reflete um pouco de seu processo de criação na fotografia. “Não há uma programação rígida, ninguém sabe o que vai acontecer ao longo do caminho”.

Um dos registros que deve constar de “Seja o Que Deus Quiser”: a estátua de Padre Cícero, em Juazeiro do Norte. Foto: Cortesia da artista

Nascida em Concórdia (SC), Dani Tranchesi se mudou ainda criança para São Paulo, em 1974. Quando estava por completar 15 anos, em vez de uma festa de debutante, pediu à mãe dois presentes: passagens para Curitiba, onde havia estudado e mantinha amigos de infância e adolescência, e uma câmera. “Olhando para trás, vejo que estavam ali as minhas duas grandes paixões: as viagens – tanto faz se pelo Brasil ou pelo mundo, para conhecer pessoas e outras culturas – e a fotografia. Ela, então, sempre esteve presente”, afirma.

A primeira câmera de Dani Tranchesi foi uma Canon, marca que se tornou sua preferida ao longo dos anos. Hoje, ela tem duas grandes – “uma delas tem 50 megapixels, algo muito importante, porque faço impressões grandes” -, mas mantém também à mão uma pequena. “É muito boa para a rua. Traz agilidade e sobretudo discrição. Se eu estou num lugar que imagino ser mais perigoso, prefiro levá-la, porque aí ninguém percebe muito. Quando eu sinto tranquilidade, pego uma das maiores”.

Depois de ganhar a primeira Canon, Dani fez cursos livres de fotografia e levava uma câmera sempre consigo. Formou-se em Comunicação na Escola Superior de Propaganda e Marketing, mas não desistiu de sua vocação artística. “Eu sabia que me faltavam técnica e conhecimento. Daí fui para a Escola Panamericana, onde aprendi a fazer projetos. Eu era obrigada a sair de casa, conceber e executar um projeto, em São Paulo mesmo. E o último trabalho que fiz para o curso foi justamente sobre as feiras livres, uma ideia que acabei recuperando no livro e na exposição 3 é 5 [apresentada na Galeria Nara Roesler do Rio, entre fevereiro e março deste ano]”.

Em 3 é 5, Dani mostrou registros do dia a dia das feiras públicas em São Paulo. Também foi um projeto afetado pela pandemia, até o momento em que a fotógrafa descobriu que justamente as feiras haviam recebido a permissão de continuarem abertas. A primeira que registrou foi no bairro de Campos Elíseos, e que ocorre sempre aos sábados. Depois vieram as de Santa Cecília e do Bexiga.

“Fiquei encantada com aquele mundo, o colorido, aquelas pessoas, eu ia nas madrugadas acompanhar as montagens, voltava à tarde para ver a limpeza e fui me relacionando com as pessoas, porque muitos daqueles trabalhadores estão nas mesmas feiras. Ter essa relação me permitiu chamá-los para fazer os retratos que mostro também no livro. Eu levava painéis, punha tecidos, era algo bem mambembe, parecido com algo que fotógrafos africanos faziam maravilhosamente bem”, conta.

Entre fevereiro e março de 2020, Dani havia levado à Galeria Estação, que a representou de 2016 a 2021, sua primeira colaboração com Diógenes Moura: o livro e a exposição Lindo Sonho Delirante, com imagens produzidas entre 2018 e 2019. “Eram como dípticos, paralelos entre o centro de São Paulo, do morador de rua aos viadutos, e o interior das casas da Ilha de Marajó. O lado cinzento da cidade em contraste com a beleza, do colorido dos tecidos, das panelas brilhantes daquelas moradas”, explica.

Após sair da Estação, Dani se viu diante de uma oportunidade: uma sala contígua a seu espaço de trabalho, no Itaim Bibi, ficou vaga, e ela criou ali o Estúdio 41, onde voltou a apresentar a mostra 3 é 5, entre agosto e setembro do ano passado. Em 31 de maio, ela abriu no espaço a exposição Lugares, do fotógrafo piauiense Luiz Fernando Dantas e com curadoria de Rosely Nakagawa. A mostra fica em cartaz até 16 de julho e Dani faz questão de ressaltar que o lugar não se trata de uma galeria convencional.

“Eu jamais quis ter uma galeria e lidar com artistas permanentemente, representá-los, cuidar de acervos, apresentar sua produção a instituições etc. Mas queria poder fazer trocas, especialmente com pessoas que não têm galeria. Algo mais leve, que trouxesse a oportunidade de mostrar coisas novas para as pessoas”, conta. “Então achamos este modelo, em que o Diógenes faz a direção artística, tudo passa pelo crivo dele. E abrigamos mostras por um período de dois meses”.

Uma “fotógrafa de rua” por excelência, como gosta de salientar, Dani carrega sempre consigo uma câmera e também faz eventuais registros com seu celular, esteja ela num carro ou andando. Os fotógrafos que a inspiram são muitos: do trabalho contundente do brasileiro Miguel Rio Branco às “coisas gigantes” produzidas pelo alemão Andreas Gursky. As viagens continuam ser uma grande fonte de inspiração também, claro, mas Dani está sempre atenta às mostras de artes visuais e fotografia, onde quer que esteja.

“Elas me trazem novas ideias. Eu adoraria, por exemplo, um dia pintar sobre minhas fotos. Já tentei fazer algumas intervenções com velas. Mas não tenho muito, ainda, habilidades manuais. Uma vez fui fazer um curso com a Pinky Wainer chamado ‘Aprendendo a Machucar Imagens’. Foi muito difícil para mim, porque eu não conseguia. E a Pinky falava para mim que eu precisava ser um pouco menos certinha, menos limpinha, menos elegante”, conta. “Pode ser que eu me volte um pouco para isso, para usar na fotografia”.

Testemunha Ocular: IMS lança site dedicado ao fotojornalismo

Gilberto Gil no III Festival de Música Popular - São Paulo, SP, 1967 Crédito: Walter Firmo / Acervo Instituto Moreira Salles
Gilberto Gil no III Festival de Música Popular - São Paulo, SP, 1967 Crédito: Walter Firmo / Acervo Instituto Moreira Salles

Novo site lançado pelo Instituto Moreira Salles, o Testemunha Ocular, procura ressaltar a importância do fotojornalismo na documentação da realidade brasileira e na construção da memória nacional. Projeto parte da forte presença do fotojornalismo no acervo do IMS, que reúne desde coleções autorais até o acervo fotográfico dos jornais dos Diários Associados do Rio de Janeiro, adquirido em 2016.

O portal recém-lançado é destinado tanto a pesquisadores quanto ao público em geral, que pode navegar pelas histórias, imagens e reflexões ali reunidas, por exemplo dossiês, ensaios críticos, depoimentos em vídeo. 

A concepção do projeto é do jornalista Flávio Pinheiro, que atuou como superintendente-executivo do IMS entre 2008 e 2020. O jornalista Mauro Ventura assina a edição do site, e o fotógrafo Leo Aversa, por sua vez, foi responsável pela edição de imagens durante a criação do projeto.

Testemunha Ocular está dividido em seis seções. A primeira apresenta a produção e trajetória de fotojornalistas cujos acervos estão sob a guarda do IMS. Inicialmente, estarão presentes seis nomes: José Medeiros, Luciano Carneiro e Henri Ballot, todos profissionais que pertenceram aos quadros da revista O Cruzeiro, Evandro Teixeira, Custodio Coimbra e Walter Firmo, cuja obra atualmente está em cartaz em exposição no IMS Paulista. Para cada um, há uma página no site, contendo sua biografia, uma amostra de 50 imagens e dossiês bibliográficos.

Já a seção seguinte, intitulada “Em Foco”, traz o trabalho de 44 fotojornalistas de diversas regiões do Brasil, com idades, trajetórias e perspectivas distintas, que não integram o acervo do IMS. A seleção inclui dois grandes nomes da imprensa brasileira que faleceram neste ano: Orlando Brito, que atuou por mais de cinco décadas registrando o cotidiano do poder em Brasília, e Erno Schneider, conhecido especialmente pela popular foto de Jânio Quadros com as pernas enroscadas. No conjunto, estão tanto tanto fotojornalistas veteranos, como Reginaldo Manente, Rosa Gauditano e Hélio Campos Mello, quanto jovens em ascensão, como Gabriela Biló, Júlio César, Felipe Dana e Victor Moriyama. Há também profissionais de diferentes estados, incluindo o gaúcho Ricardo Chaves, as pernambucanas Hélia Scheppa e Ana Araújo, a mineira Isis Medeiros e o baiano Renan Benedito, entre outros. Todos os contemplados têm uma página no site, com a biografia e uma seleção de 20 imagens.

Confira mais aqui.

Um encontro entre xilogravura e graffiti

Vista da exposição Xilograffiti, no Sesc Consolação. Foto: Evelson de Freitas
Vista da exposição Xilograffiti, no Sesc Consolação. Foto: Evelson de Freitas

De um lado, cordéis; do outro, zines. Enquanto acontece um duelo de repentistas em uma praça, na quebrada rola uma batalha de slam. Ao que a goiva sulca a madeira, o estilete corta a máscara do stencil. “Mais do que linguagens artísticas, a xilo e o graffiti transformaram-se em símbolos culturais que atraem artistas e públicos engajados na sua perpetuação”, explica Baixo Ribeiro, curador de Xilograffiti, exposição que busca mostrar como apesar de aparentemente distantes por seus contextos de origem, graffiti e xilogravura fazem parte de culturas que se conectam.

Organizada em seis núcleos temáticos – cordel raiz, cordel contemporâneo, xilo urbana, lambegrafia, tipograffiti e graffiti xilográfico – a seleção de obras contempla uma diversidade no que diz respeito a territorialidade, técnicas, dimensões e processos. Porém, os trabalhos apresentam muitos pontos convergentes, em especial pelo caráter colaborativo de suas criações.

A arte!brasileiros visitou a mostra, em cartaz no Sesc Consolação, e conversou com o curador. Confira:

Participam da exposição J. Borges (PE); Lira Nordestina (CE); Samuel Casal (RS); Atelier Piratininga (SP); Turenko (AM); Paulestinos (SP); Oficina Tipográfica (SP); Romildo Rocha (MA); Derlon (PE); Xicra convida soupixo; Andréa Sobreiro e Carol Piene (CE); 23ª edição do Projeto Armazém – Mulher Artista Resiste (SC) e Lau Guimarães (SP).

“Muitos desses artistas e coletivos ainda fazem trabalho com a colaboração de outros artistas. Então, na verdade, é uma exposição de redes. São vários coletivos que se intersectam e se ampliam. Então se você me perguntar quantos artistas têm na exposição, direi que são cerca de 150 e mais você – o público”, diz Baixo Ribeiro. Isso, porque Xilograffiti traz uma série de ações interativas, onde o visitante pode utilizar carimbos, matrizes, cartazes e outros materiais para criar suas próprias obras e integrá-las à mostra.

Conforme explica o curador, essa articulação em rede se deu não só nos trabalhos expostos, mas também na elaboração da própria mostra. “Não é a exposição de um curador, nem de um artista, mas de muitas redes reunidas. Fomos desde a base da criação fazendo esse processo de articulação de redes”, compartilha.

Xilograffiti fica em cartaz no Sesc Consolação até 31 de julho de 2022 e pode ser visitada gratuitamente de terça a sábado, das 10h às 21h, e aos domingos e feriados, das 10h às 18h.

O grito das florestas, a eloquência das imagens

Indígena do povo Guarani, caminha em meio a floresta durante a noite, para combater o incêndio próximo a Aldeia Tekoa Itakupe na Terra Indígena Jaraguá, na zono oeste de São Paulo capital, 2020. Foto: Felipe Beltrame.
Indígena do povo Guarani, caminha em meio a floresta durante a noite, para combater o incêndio próximo a Aldeia Tekoa Itakupe na Terra Indígena Jaraguá, na zono oeste de São Paulo capital, 2020. Foto: Felipe Beltrame.

É inegável, mesmo para aqueles que fingem não ver, que o fotojornalismo está cada vez mais reassumindo seu lugar de destaque no mundo midiático e contemporâneo, como uma linguagem fundamental para a compreensão e reflexão do mundo. Passada a fase das “modinhas” estéticas, o fotojornalismo na sua aparente mudez se reapresenta e apresenta sua eloquência e sua força avassaladora. 

A fotografia como evidência histórica, como afirma o pesquisador Boris Kossoy: “Dentre as diferentes modalidades de informação transmitida pelas mídias, as imagens, em geral, constituem um dos sustentáculos da memória”. A fotografia jornalística traz para a história o conhecimento do cotidiano, da experiência das pessoas comuns. Se torna crítica da sociedade e, sem dúvida, causa impacto na reconstrução histórica. Elas são criadas para comunicar, querem nos contar alguma história. 

Um exemplo disso que estamos refletindo é a exposição TURI, sobre as queimadas que vem sistematicamente destruindo nossas florestas e biomas.

Imagens que se fazem necessárias neste mundo tão devastado, tão ferido e, por que não, desesperado. A Terra pede socorro! Nesta terra onde o meio ambiente, o habitat é cada vez mais desrespeitado, onde a cada dia somos inundados por notícias de tragédias climáticas, a ARFOC (Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado de São Paulo) nos traz uma exposição que, de forma sensorial, nos apresenta o desastre anunciado: as queimadas e a devastação das nossas florestas.

A ideia começou a ser desenvolvida quando a ARFOC foi convidada a participar do Festival de Fotografia de 2021, em Paranapiacaba. O tema daquele ano era água, mas eles ofereceram a outra ponta do problema, as queimadas, conforme nos contou o presidente da Associação Toni Pires. Tomaram conta de uma das casas da cidade e montaram uma exposição onde várias linguagens se misturavam, de fotografias, a vídeos, até gravações de sons: “A ideia era que as pessoas mergulhassem na tragédia desta devastação.”, relata Pires. É trazer para a visibilidade sensorial o que permanece muitas vezes distante, mediado por uma tela de computador ou televisão. Sair das imagens que escorregam para enfrentarmos imagens que nos tocam, que nos desafiam.

O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em seu livro A Salvação do Belo, nos propõe este desafio de sairmos de uma estética lisa, sem rugosidades, sem sobressaltos, sem ruídos, ou seja plana e sem afetividade para recuperamos as imperfeições, o espanto, a indignação. Sairmos dos likes das redes sociais para recuperar o valor da experiência. 

Assim é a exposição TURI, que em tupi-guarani significa fogo e todo seu saber ancestral. Nela, apresenta-se uma coletiva de 24 fotógrafos que, em diferentes épocas, registraram a destruição do ecossistema brasileiro: Amazônia Legal, Pantanal, Mata Atlântica. Profissionais da imprensa, agências internacionais, ativistas, documentaristas e fotógrafos independentes. Olhares com intencionalidades diversas. Narrativas históricas que se complementam e que se tornam, de certa forma, uma narrativa única.

A mostra teve a curadoria da própria ARFOC, que trouxe para o centro de São Paulo, na Odisseia Casa Cultural, luzes, cores, gritos, que de alguma forma nos tiram da anestesia para nos ajudar a entrar em outro universo. As fotografias de jornalismo que abandonam seu lugar de sagrado e se misturam – ampliadas em papel, tecido, ou qualquer outro suporte que se faça necessário – para uma comunicação mais efetiva. Como nos lembrava a pesquisadora francesa Martine Joly: “Somos consumidores de imagens; daí a necessidade de compreendermos como a imagem comunica e transmite suas mensagens; de fato não podemos ficar indiferentes a uma das ferramentas que mais dominam a comunicação contemporânea”. 

Serviço

Onde: Odisseia Casa de Cultura 
- Alameda Min. Rocha Azevedo, 463 – Cerqueira César
Quando: Até 5 de junho de 2022
Aberto para visitação: quintas e sextas-feiras – das 16h às 20h; sábados e domingos – das 14h às 19h
Entrada franca

 

Projeto maranhense propõe mergulho na multiplicidade da cena artística local

Foto de Genilson Guajajara que esteve na mostra do primeiro ciclo de ações do PREAMAR
Foto de Genilson Guajajara. Crédito: Divulgação

O vai e vem das marés faz parte do cotidiano de São Luís do Maranhão. Os ventos fortes e a abundância das águas são seguidos da retração do mar, permitindo que diferentes paisagens se mostrem em um só dia. A variação das marés maranhense é uma das maiores do mundo e se apresenta como símbolo de uma multiplicidade de cenários, fluxos, produções e dinâmicas espirituais que envolvem o estado. “Então o que é essa abundância? O que é essa potência, essa força desse lugar com tantas diversidades?”, provoca Samantha Moreira, uma das organizadoras do PREAMAR, novo projeto artístico da região. 

São essas algumas das questões que desaguam na iniciativa, que busca fomentar e dar foco à produção de artes visuais do estado nordestino a partir de uma articulação em rede. “É nesse mesmo sentido de força, continuidade e transformação, tão próprio das marés, que encontramos um elo para traduzir a longa e constante trajetória da produção maranhense. Um território potente, caracterizado pela riqueza das singularidades que se espraia, invade, transborda e torna-se global”, definem os articuladores. Mesmo a escolha da palavra que dá título ao projeto remete a esse movimento natural: preamar é sinônimo de ‘maré alta’. É na força dessa imagem que a iniciativa se constrói. 

Imersão coletiva

O início, em abril deste ano, se deu a partir de uma parceria entre quatro frentes: “o Chão SLZ, enquanto esse polo que sempre abria laboratórios [artísticos], experimentações e processos de formação; a Casa do Sereio, que é um espaço de residências em Alcântara (MA); a Lima Galeria, que é uma galeria privada, mas que tem um processo e um caráter muito experimental; e o curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Maranhão, entendendo a necessidade de trazer o corpo de professores para a discussão desses projetos e os alunos para atuação e vivência”, explica Samantha. A idealização em coletivo permitiu uma conversa entre diferentes propostas, percepções e contextos, propondo que a diversidade maranhense se transpusesse no desenvolvimento do primeiro ciclo de ações.

Foi nele que as redes passaram a se expandir. Nas residências, vividas na Casa do Sereio, nos ciclos de conversa online e na exposição coletiva novos mergulhos passaram a compor PREAMAR. Um deles se deu junto às ceramistas de Itamatatiua, ao que as artistas Silvana Mendes e Tassila Custodes desenvolveram uma pesquisa com a comunidade maranhense, que fica a 50km de Alcântara e tem uma produção de cerâmica praticada há mais de 300 anos com peças que evidenciam o modo de vida quilombola “com sua resistência, ancestralidade e subjetividades”, explica o release. Os frutos dessas experiências foram expostos na primeira exposição do PREAMAR, junto a outros projetos.

A mostra se construiu simultaneamente no Chão SLZ, no centro histórico de São Luís, e na Lima Galeria, na Cidade Nova. Em ambas as sedes, a mostra conversa suportes e linguagens distintos, reunindo diferentes gerações de artistas, buscando compor um primeiro panorama da contemporaneidade no Maranhão. Nesses espaços, outras redes passaram a se estabelecer: de artistas e de públicos. Com curadoria dos organizadores do PREAMAR Frederico Silva, coordenador do Departamento de Artes Visuais da UFMA; Yuri Logrado, fundador da Casa do Sereio; Marco Lima, diretor da Lima Galeria; e Samantha Moreira, coordenadora Chão SLZ, a exposição reuniu trabalhos das Ceramistas de Itamatatiua e de Cláudio Costa, Dinho Araújo, Gê Viana, Genilson Guajajara, Ingrid Barros, Márcio Vasconcelos, Marcos Ferreira, Marlene Barros, Pablo Monteiro, Romana Maria, Silvana Mendes, Thiago Fonseca, Thiago Martins de Melo, Tassila Custodes, Tieta Macau, Ton Bezerra, Vicente Martins Jr. 

Baixa-mar

Esse primeiro ciclo se encerra no dia 3 de junho, com o fim da mostra coletiva. Porém, é desse momento de maré baixa que emergem as próximas ações. As residências, conversas e exposições já realizadas assumem forma de pesquisa; é de seus processos, das trocas com os artistas, das falas do público, das percepções geradas e do pensamento dessas redes já expandidas que passam a se desenhar os próximos passos do PREAMAR.

No segundo semestre de 2022 será lançada a plataforma online do projeto. O ambiente vem sendo pensando de forma a articular um processo de documentação dessa primeira ação e abrigar novas mostras, voltadas a uma produção audiovisual. Nesse aspecto, já está prevista uma individual virtual do cineasta maranhense Beto Matuck. Em paralelo, começa-se a desenhar uma exposição coletiva presencial com outros artistas. “A ideia é que periodicamente a gente tenha ações acontecendo no Chão SLZ, assim como dentro da universidade, na Lima Galeria e na Casa do Sereio. Então, seguem, na verdade, articulações de processos de formação contínuos”, conta Samantha Moreira.

Uma das principais frentes desse processo de formação são as residências. “A ideia é que, no segundo semestre, a gente abra outras residências para artistas do Maranhão e, a partir do ano que vem, comece a desenvolver essas atividades de forma ampliada, recebendo artistas de fora do estado”, declara Samantha. E complementa: “Entendendo que é muito importante que esse fluxo de artistas, pesquisadores e curadores de fora sempre esteja focado no processo de formação local”.

Para a organizadora, essa é uma demanda latente na cena artística maranhense. “A gente precisa desses processos de troca e de articulação local e também com o que acontece fora da ilha – que tem uma potência muito grande, mas tem necessidade de um processo de formação contínua tanto de uma poética de trabalho, como de formação e finalização de trabalho, como de processo de crítica, de curadoria, de produção, de montagem.” Assim, as marés de PREAMAR se encaminham a fluxos de fomento da potência local, a partir de uma rede de formação, e de inter-relação com outras cenas artísticas brasileiras e internacionais.

Inhotim: confira novas aberturas no museu mineiro

Raízes nº1: Tributo a Aguinaldo Camargo, 1987. Museu de Arte Negra - IPEAFRO. Divulgação Inhotim.
Raízes nº1: Tributo a Aguinaldo Camargo, 1987. Museu de Arte Negra - IPEAFRO. Divulgação Inhotim.

Inhotim inaugura no dia 28 de maio novas obras e exposições temporárias que trazem Isaac Julien, importante nome nos campos da instalação e do cinema, convidado a expor um de seus trabalhos mais emblemáticos na Galeria Praça. Já o Acervo em Movimento, programa criado para compartilhar com o público as obras recém-integradas à coleção, inaugura com trabalhos dos artistas brasileiros Arjan Martins e Laura Belém, ambos instalados em áreas externas do Instituto.

Jaime Lauriano também integra a lista dos artistas participantes da programação, e abre o projeto Inhotim Biblioteca. A instalação do artista mantém relação direta com o Segundo Ato do projeto Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra (MAN), ao propor a curadoria de uma nova bibliografia que contempla autores negros para integrar o acervo da biblioteca do Inhotim. Por último, instalado na Galeria Mata, o Segundo Ato do projeto, realizado em curadoria conjunta entre Inhotim e IPEAFRO, aborda o Teatro Experimental do Negro, movimento encabeçado por Abdias Nascimento, e que está nas origens do Museu de Arte Negra.

As inaugurações são parte do Território Específico, eixo de pesquisa que norteia a programação do Instituto no biênio de 2021 e 2022, pensada para debater e refletir a função da arte nos territórios a níveis local e global, e também a relação das instituições com seu entorno.

Confira os detalhes de cada abertura abaixo:

Looking for Langston, de Issac Julien

Em Looking for Langston um trabalho que une poesia e imagem, Isaac Julien parte de uma exploração lírica sobre o mundo privado do poeta, ativista social, romancista, dramaturgo e colunista afro-americano Langston Hughes (1902 – 1967) e seus colegas artistas e escritores negros que formaram o Renascimento do Harlem – movimento cultural baseado nas expressões culturais afro-americanas que ocorreu ao longo da década de 1920.

“Em 1954, Langston Hughes trocou correspondências com Abdias Nascimento, autorizando o Teatro Experimental do Negro a encenar suas peças. Nesse sentido, tanto Hughes, Abdias e Isaac Julien, cada um à sua época, buscavam representatividade e reconhecimento da produção artística e intelectual negra”, diz Julieta González, diretora artística do Inhotim.

Acervo em movimento: Arjan Martins e Laura Belém

São latentes nas obras de Arjan Martins conceitos sobre migrações e outros deslocamentos de corpos e presenças entre espaços de luta e poder, e ainda as diásporas e os movimentos coloniais que se deram em territórios afro-atlânticos.

Na instalação de Birutas (2021), Arjan expõe aparelhos destinados a indicar a direção dos ventos, que se fundem às bandeiras marítimas e seus códigos internacionais para transmitir mensagens entre embarcações e portos.

“Na fusão desses dois elementos, birutas e bandeiras náuticas, Arjan trata do trânsito de corpos através dos oceanos, do tráfico de pessoas escravizadas e das diásporas causadas pelos movimentos coloniais”, explica Douglas de Freitas, Curador do Inhotim.

No lago entre as Galerias Mata e True Rouge, o visitante vai se deparar com dois barcos a remo equipados com holofotes que se iluminam, frente a frente, na água. As luzes de um dos barcos se acendem, enquanto as do outro permanecem apagadas. Após 20 segundos, eles invertem. As luzes de ambos os barcos são então acesas simultaneamente e, ao final, todas se apagam até o ciclo se reiniciar automaticamente. Trata-se de Enamorados (2004), trabalho da artista mineira Laura Belém, exibido na 51ª Bienal de Veneza e que entra, então, em diálogo com a obra de Martins.

Segundo Ato do Museu de Arte Negra Abdias do Nascimento

Emanoel Araújo, Mulher com frutas na cabeça, 1966. Museu de Arte Negra - IPEAFRO. Divulgação Inhotim.
Emanoel Araújo, Mulher com frutas na cabeça, 1966. Museu de Arte Negra – IPEAFRO. Divulgação Inhotim.

O Museu de Arte Negra é um museu próprio dentro do espaço do Inhotim que traz a iniciativa sonhada por Abdias Nascimento (1914-2011) no início da década de 1950. O projeto parte do legado multidisciplinar de Abdias, poeta, escritor, dramaturgo, curador, artista plástico, professor universitário e parlamentar com uma longa trajetória trilhada no ativismo e na luta contra o racismo. Apresentado em quatro exposições temporárias, renovadas a cada cinco meses -, a realização do projeto no Inhotim se constrói com base nos aspectos de quatro Orixás, presenças constantes nas pinturas do artista, e na história e desdobramentos do Museu. Sob o signo de Oxóssi, guardião das matas e Orixá do trono do conhecimento, o Segundo Ato do projeto, intitulado Dramas para negros e prólogo para brancos, abarca um período marcado pelo teatro na formação artística e política de Abdias Nascimento, e na concepção inicial da coleção do Museu de Arte Negra, de 1941 até 1968 – ano em que Abdias iniciou o exílio nos Estados Unidos e na Nigéria.

Exibida na Galeria Mata, a mostra aborda o Teatro Experimental do Negro (TEN) – uma iniciativa da qual nasceu o Museu de Arte Negra, criado por Abdias Nascimento em 1944 -, que tinha como propósito central conquistar espaço para pessoas negras nas artes cênicas. A exposição traz ao público documentos sobre a trajetória do Teatro Experimental do Negro, pinturas de Abdias e trabalhos de artistas como Anna Bella Geiger, Heitor dos Prazeres, Iara Rosa, José Heitor da Silva, Sebastião Januário, Octávio Araújo e Yêdamaria, que integram a coleção do Museu de Arte Negra do IPEAFRO. As atividades do Teatro Experimental do Negro perduraram até 1968 e foi dentro de uma delas, o 1º Congresso do Negro Brasileiro, realizado na cidade do Rio de Janeiro em 1950, que surgiu o projeto Museu de Arte Negra.

Confira lista de artistas da 37ª edição do Panorama da Arte Brasileira do MAM SP

Artista integrantes do 37º Panorama de Arte Brasileira do MAM SP. Foto: Divulgação.
Artista integrantes do 37º Panorama de Arte Brasileira do MAM SP. Foto: Divulgação.

O Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM SP recebe a partir do dia 23 de julho o 37º Panorama da Arte Brasileira, “Sob as cinzas, brasa”, cuja comissão curatorial é composta por Claudinei Roberto da Silva, Vanessa Davidson, Cristiana Tejo e Cauê Alves. A exposição contará com trabalhos de 26 artistas e coletivos de diferentes regiões do Brasil, sobre essa seleção Claudinei Roberto da Silva afirma: “Acredito que o elenco de artistas selecionados espelha a diversidade das experiências do grupo curatorial”, segundo ele “as distinções de gênero, raça e classe que podem ser observadas nesta pequena comunidade de curadores criou uma fricção, que ao invés de promover divergências, foi importante à formatação dos conceitos que orientaram a seleção dos artistas”. Da mesma forma, a necessidade de rever a história brasileira a partir de novas análises políticas e sociais, da pluralidade de identidades de gênero, das lutas antirracistas e da relação humana com o meio ambiente são alguns dos temas recorrentes nas instalações, fotografias, pinturas, vídeos, esculturas e projetos do 37º panorama.

Para a curadora Cristiana Tejo, procurou-se “trazer nomes que não estão atualmente nos holofotes (ou pelo menos não estavam quando fechamos nossa pesquisa), para que o público possa conferir o Panorama com um certo frescor ao conjunto. Conseguimos reunir um grupo de artistas forte, potente e honesto. Acima de tudo estou muito feliz em poder fazer parte dessa jornada.”

Confira abaixo a lista de artistas que integram o 37º Panorama da Arte Brasileira – “Sob as cinzas, brasa”:

Ana Mazzei (São Paulo, SP, 1980 – vive em São Paulo)

André Ricardo (São Paulo, SP, 1985 – vive em São Paulo)

Bel Falleiros (São Paulo, SP, 1983 – vive em Nova York, EUA)

Camila Sposati (São Paulo, SP, 1972 – vive em Viena, Áustria)

Celeida Tostes (Rio de Janeiro, RJ, 1929 – idem, 1995)

davi de jesus do nascimento (Pirapora, MG, 1997 – vive em Pirapora)

Éder Oliveira (Timboteua, PA, 1983 – vive em Belém)

Eneida Sanches (Salvador, BA, 1962 – vive em São Paulo, SP) e Tracy Collins (Nova York, EUA, 1963 – vive em Nova York)  (LAZYGOATWORKS)

Erica Ferrari (São Paulo, SP, 1981 – vive em São Paulo)

Giselle Beiguelman (São Paulo, SP, 1962 – vive em São Paulo)

Glauco Rodrigues (Bagé, RS, 1929 – Rio de Janeiro, RJ, 2004)

Gustavo Torrezan (Piracicaba, SP, 1984 – vive entre Piracicaba, São Paulo e Castanho, AM)

Jaime Lauriano (São Paulo, SP, 1985 – vive entre São Paulo e Porto, Portugal)

Lais Myrrha (Belo Horizonte, MG,1974 – vive em São Paulo)

Laryssa Machada (Porto Alegre, RS, 1983 – vive em Salvador, BA)

Lidia Lisbôa (Guaíra, PR, 1970 – vive em São Paulo)

Luiz 83 (São Paulo, SP, 1983 – vive em São Paulo)

Marcelo D’Salete (São Paulo, SP, 1979 – vive em São Paulo)

Maria Laet (Rio de Janeiro, RJ, 1982 – vive no Rio de Janeiro)

Marina Camargo (Maceió, AL, 1980 – vive em Berlim)

Nô Martins (São Paulo, SP, 1987– vive em São Paulo)

RODRIGUEZREMOR (Denis Rodriguez [São Paulo, SP, 1977 – vive em Igatu, BA] e Leonardo Remor [Estação, RS, 1987 – vive em Igatu, BA])

Sérgio Lucena (João Pessoa, PB, 1963 – vive em São Paulo)

Sidney Amaral (São Paulo, SP, 1973 – idem, 2017)

Tadáskía (Rio de Janeiro, RJ, 1993 – vive entre o Rio de Janeiro e São Paulo, SP)

Xadalu Tupã Jekupé (Alegrete, RS, 1985 – vive em Porto Alegre, RS)

Sobre o Panorama da Arte Brasileira do MAM São Paulo

A série de mostras Panorama da Arte Brasileira foi iniciada em 1969 e coincidiu com a instalação do MAM São Paulo em sua sede na marquise do Parque do Ibirapuera. As primeiras edições do Panorama marcaram a história do museu por terem contribuído direta e efetivamente na formação de seu acervo de arte contemporânea.