Cataratas do Iguaçu. Foto: Divulgação

Dentro do plano de internacionalização promovido pelo Centro Georges Pompidou de Paris para formar parcerias em outros países, pode ser criada agora sua primeira plataforma na América Latina, mais precisamente na cidade de Foz do Iguaçu, na região Oeste do estado do Paraná, aproveitando o imenso fluxo turístico para as belezas naturais das Cataratas do Iguaçu. Desde os anos 1980, museus de alguns países vêm se tornando pontas de lança de arte e cultura para se reafirmar em diferentes lugares do mundo, socializar seus acervos e, ao mesmo tempo, equilibrar suas receitas. Não por acaso, em 1981, Jack Lang, ministro da Cultura do presidente francês François Mitterrand, sentenciou: “A cultura é o petróleo da França”.

A iniciativa de buscar a cooperação com o Pompidou foi do governo do Paraná pelas características da instituição francesa, fundada em 1977.  A assinatura de protocolo de intenções ocorreu no Centro Executivo da Itaipu Binacional. A empresa é parceira da iniciativa. O evento teve presença do governador do Paraná, Ratinho Júnior, e do diretor-geral brasileiro de Itaipu, Anatalício Risden Junior.

As conversas começaram há dois anos. A arquiteta Luciana Casagrande Pereira, superintendente de Cultura do Estado do Paraná, lembra que foram feitas muitas reuniões virtuais por conta da pandemia, sendo a única presencial quando ela viajou a Paris. “O Pompidou foi escolhido por seu caráter multidisciplinar voltado às artes visuais, mas também ao cinema, teatro, dança e música”.

O museu internacional será construído na Foz do Iguaçu, a 17 quilômetros das Cataratas, na mesma região onde estão instaladas cinco das 15 maiores cooperativas de alimentos do mundo. “Foz do Iguaçu recebe cerca de dois milhões de turistas por ano. Se metade deste contingente ficar mais um dia para fazer turismo cultural, a estimativa é que sejam injetados mais de R$ 400 milhões anuais na economia local. Cultura e desenvolvimento andam juntos”, afirma o governador do Paraná.

Centre Pompidou
Centre Georges Pompidou. Foto: Steven Zucker / Creative Commons

Foz do Iguaçu surgiu como destino natural do museu por estar na região da tríplice fronteira Brasil-Paraguai-Argentina e por contar com as Cataratas do Iguaçu, atrativo que motivou há muito tempo o desenvolvimento de considerável infraestrutura turística no local. “A rede hoteleira funciona há décadas, e a região ainda conta com três aeroportos internacionais: o de Foz do Iguaçu, o de Ciudad del Este (Paraguai) e o de Puerto Iguazu (Argentina), por onde entra a maior parte dos turistas europeus”, afirma Luciana.

Há semelhanças entre os programas de descentralização cultural do Paraná e do Centro Pompidou. “O Museu Oscar Niemeyer, que completa 20 anos, tem uma plataforma estendida na cidade de Cascavel, além de promover exposições itinerantes pelo estado. O Museu Paranaense, de 1876, um dos mais antigos do Brasil, terá uma extensão em todas as regiões do Estado até o final deste ano”. Arte e gestão são a praia de Luciana, que se dedica às artes visuais desde sempre. Ela presidiu a Bienal Internacional de Arte de Curitiba por dez anos, e com isso pôde acompanhar de perto a evolução da arte contemporânea. “A arte está no meu DNA, e para mim este projeto é uma ideia encantadora. A parceria do Pompidou em Foz do Iguaçu certamente será diferente da formada com outras cidades, devido a peculiaridades culturais e pelas circunstâncias locais e temporais.” O Pompidou tem algumas antenas espalhadas pelo mundo: Xangai (China), Málaga (Espanha), Bruxelas (Bélgica) e Metz (França). Com isso, pode fazer circular seu expressivo acervo de mais de 120 mil obras, das quais apenas 10% estão expostas nas paredes de sua sede em Paris. Há algum tempo, o museu francês estuda a instalação de uma plataforma na América Latina. E, ao que tudo indica, esse momento chegou.
O museu de Foz de Iguaçu ainda não tem nome e a ideia inicial é que a construção tenha 10 mil metros quadrados, mas como diz Luciana, tudo pode mudar. “Quando começarmos a definir o conceito, pode ser que o espaço tenha que ser ampliado. Estamos iniciando o processo de escolha do local, que somente se efetivará, e de comum acordo, quando nossos parceiros conhecerem esses lugares”.

As reuniões devem prosseguir entre as equipes paranaense e francesa pelos próximos dez meses. Após a execução da primeira fase de conceituação e planejamento, será lançado um concurso de arquitetura para escolher o projeto do museu internacional, no primeiro semestre de 2023. “O que nos interessa é que o projeto tenha relação com o local”, ressalta Luciana. “Ainda não definimos os critérios do concurso que irá escolher o projeto, mas o Brasil está na vanguarda da arquitetura mundial e temos certeza de que conseguiremos eleger um projeto à altura dessa iniciativa. Tudo isso vamos definir em acordo com o nosso parceiro”.

A expectativa no Paraná é de que a presença do Pompidou em Foz do Iguaçu não se resuma a uma iniciativa isolada. A superintendente Luciana diz que ele potencializará seu entorno, incentivando toda a cadeia de produção cultural. No futuro, prevê-se inclusive a criação de um museu ao ar livre, envolvendo os municípios lindeiros ao lago de Itaipu.

DO EDIFÍCIO AO ACERVO, O POMPIDOU ATRAI

Assim como a Torre Eiffel, no final do século 19, o edifício do Centro Georges Pompidou provocou intensa polêmica entre os franceses ao ser inaugurado no histórico bairro do Marrais, em 1977, bem próximo à Rua Rivoli. O projeto dos arquitetos italianos Renzo Piano e Gianfranco Franchini e do britânico Richard Rogers – uma caixa retangular, com estrutura de aço e vidro, tubulações e escadas rolantes aparentes – contrasta em tudo com o entorno haussmanniano do centro de Paris.

Foi o tempo que encarregou-se de absorver tanta ousadia e mesmo de elevá-la: hoje, o Centro Pompidou é considerado como um dos ícones da arquitetura high-tech, tendência dos anos 1970, inspirada na arquitetura industrial. Trata-se de um lugar efervescente, por onde circulam artistas, pesquisadores e turistas de todos os continentes.

O tempo também demonstrou que o Centro Pompidou é mais do que um simples museu. Seu conceito multidisciplinar hospeda o Museu Nacional de Arte Moderna, a Biblioteca Pública de Informação e o Ircam (Centro para Música e Pesquisas Acústicas), esse último fundado pelo renomado compositor e maestro francês Pierre Boulez (1925-2016). A principal coleção de arte moderna e contemporânea da Europa está no Centro Pompidou, hoje com mais de 120 mil obras. Entre nomes importantes, despontam os de Joseph Beuys, Louise Bourgeois, Marc Chagall, Robert e Sonia Delaunay, Jean Dubuffet, Marcel Duchamp, Frida Kahlo, Wassily Kandinsky, Yves Klein, Fernand Léger, Henri Matisse, Joan Miro e Piet Mondrian.

Presidida por Laurent Le Bon, a instituição tem visto suas coleções crescerem ao longo de seus 45 anos, tanto por novas aquisições como por doações. O acervo de monografias sobre arte e as exposições temporárias que realiza também fazem do Centro Pompidou um destino no mundo da arte, com mais de três milhões de visitas por ano. Por tudo isso, ultimamente o museu se expande para além das fronteiras da França levando esse imenso repertório de arte e cultura para outros povos.

PARCERIA DEVE POTENCIALIZAR BIENAL DE CURITIBA

Para o diretor geral da Bienal Internacional de Arte de Curitiba, Luiz Ernesto Meyer Pereira, a parceria para a implantação de um museu internacional de arte em Foz do Iguaçu vai fortalecer e potencializar as ações de descentralização que a Bienal e o Governo do Paraná já estão realizando. “A Bienal, além de acontecer na capital paranaense, também leva exposições de forma itinerante para outras cidades do estado, descentralizando o acesso à arte e contribuindo para a formação de público.”

A Bienal de Curitiba acontece desde 1993 no Paraná e em outros estados e países, como o Paraguai, a Argentina, o Uruguai, a França, Itália, China e Bélgica. A cada edição, reúne centenas de artistas em espaços diversificados, que não se restringem a museus, centros culturais e galerias, mas também invadem locais a céu aberto com intervenções urbanas e performances. Nomes icônicos como Marina Abramovic, Bruce Nauman, Dan Flavin, Louise Bourgeois, Julio Le Parc, Ai Weiwei, Richard Serra, entre outros, já passaram pela mostra, assim como artistas emergentes.

Para Meyer Pereira, esse empreendimento inédito com
o Centro Georges Pompidou, instituição também voltada
à formação de artistas e à educação do público,
irá dinamizar uma prática que a Bienal já desenvolve.
“Temos um importante projeto educativo dentro de cada edição, que abrange desde medidas de ação inclusiva,
cursos de capacitação de professores, visitas monitoradas nos espaços expositivos até publicações voltadas a professores e monitores. Tudo isso deve ser potencializado por essa parceria.”

 

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