A escultura "Cadeira Cativa". FOTO: Ding Musa

Com exposições marcadas nas cidades europeias de Hamburgo e da Antuérpia, respectivamente em fevereiro e abril, o artista brasileiro Matheus Rocha Pitta exibe obras no auroras, espaço de arte em São Paulo. Até 12 de outubro, as obras do artista estão em exposição junto a trabalhos de Débora Bolsoni e G. T. Pellizzi.

Matheus agora passa apenas um terço do ano no Brasil. No auroras, ficou pouco mais de duas semanas, em uma espécie de residência artística, produzindo o tríptico da série Toque de Recolher  e a escultura Cadeira Cativa. A utilização do espaço como uma residência tornou-se algo costumeiro. Ainda neste ano, fizeram o mesmo os artistas Melvin Edwards e Tom Burr.

As três peças da mostra que compõem a série Toque de Recolher já vinham sido pensadas por Matheus há algum tempo, sendo essas as primeiras a serem mostradas. São formadas por placas de cimento quadradas, recortes de jornal que o artista coleciona há alguns anos e têm as inscrições “say something”, “hear something” e “see something”. A série “busca investigar questões em torno da liberdade de expressão, da opinião e das redes sociais”, conta Matheus.

O artista comenta seu trabalho relacionado a gestos e diz que a ideia de “toque de recolher” se tornou um gesto para ele: “Eu comecei a pesquisar e vi que a origem do toque de recolher é uma coisa que vem da Idade Média… Era o toque de um sino que pedia para as pessoas apagarem o fogo antes de dormir, para que o fogo não causasse algum tipo de acidente”. Foi então que percebeu que a expressão surge com uma conotação de “cuidado”, e não uma conotação repressiva, como é comum ser associada. “Eu comecei a olhar para esse gesto muito mais num sentido de cuidado com a linguagem do que exatamente uma repressão”.

Durante esse processo, Matheus lembrou-se dos “Três Macacos Sábios”, imagem da cultura japonesa na qual macacos não veem, falam e ouvem. “A gente também associa esses macaquinhos com uma coisa cínica. Finjo que não vejo, não falo ou não ouço. E depois descobri que tem uma questão ética, de cuidado com a linguagem”, diz. “Portanto, se você ver o mal, você não fala sobre o mal. Então você não propaga ele”, complementa. Existe nisso uma ideia de que a linguagem em si carrega uma violência, então os macacos estariam “tentando cortar uma cadeia de violência que pode entrar dentro da linguagem”.

Para Cadeira Cativa, ele achou importante que as estruturas fossem todas montadas de metal. “Queria que tivesse essa coisa do metal que funciona como um esqueleto. Achei importante que esses elementos fossem, num certo sentido, sem carne”. Ele explica que existe um corpo que não está ocupando aquele espaço, ao qual ele se refere como um “fantasma do autoritarismo”. Ao mesmo tempo, demonstra, esse fantasma estaria a ponto de ser deposto, já que com a ausência dos celulares que compõem a instalação a cadeira viraria, derrubando o corpo que estivesse nela. Sendo assim, os celulares seriam o que dá holofotes para o autoritarismo.

 

 

 

Na exposição na cidade alemã, Matheus deve mostrar mais obras da série Toque de Recolher. A individual acontecerá no Kunstverein, instituição que completou 200 anos em 2017. Já na Antuérpia, na Bélgica, a exposição será num espaço sem fins lucrativos chamado C A S S T L. Para esta última, o artista ainda não tem certeza se continuará a mostrar trabalhos da nova série. Além disso, ele também produzirá uma escultura para a Usina de Arte, instituição localizada no município de Água Preta, no Pernambuco: “É um trabalho que vai lidar com uma herança de cultura popular nordestina muito forte”, ele conta, confessando bastante alegria em realizá-lo mesmo ainda em fase de pesquisa.


Débora Bolsoni, G. T. Pellizzi e Matheus Rocha Pitta
auroras: Av. São Valério, 426 – Morumbi, São Paulo
até 12 de outubro

 

 

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