A Cavalo tem o prazer de apresentar ‘Rasga Mortalha’, primeira individual de Thiago Martins de Melo no Rio de Janeiro. Na galeria o artista maranhense apresenta trabalhos inéditos de pintura e escultura além de seu novo filme em animação, o curta-metragem que nomeia a exposição. Feito com mais de mil desenhos em stopmotion, “Rasga Mortalha” parte da lenda da coruja “Suindara” — muito contada no folclore do Norte e Nordeste — para abordar as urgências sociopolíticas do país. Crê-se que o aparecimento de seu vulto branco, seguido do grito selvagem — que lembra o som de um pano sendo rasgado ao meio —, traz consigo o signo da morte. Como vetor metafórico para pensar, e também transcender, uma visão fatalista da história do Brasil, o artista se vale dessa tradição popular para cruzar séculos de acontecimentos públicos com memórias, referências e imaginações pessoais, criando uma narrativa carregada e cortante.
As referências na obra de Martins de Melo partem de sua pesquisa em diversas fontes. Da poesia de Gonçalves Dias ao gesto de Tuíra Kayapó, do messianismo de Glauber Rocha ao conceito de necropolítica cunhado pelo pensador camaronês Achilles Mbembe, da mitologia Tupinambá à atual luta do povo Gamela no Maranhão, da literatura de cordel às guerrilhas armadas nas selvas latino-americanas, o artista constrói panoramas intrincados e simbólicos da América Latina contemporânea. Ao som de tambores e fuzis, gestos marcantes e cores fortes jorram para encenar uma voragem de cenários, personagens e acontecimentos.