A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo apresenta, de 15 de junho de 2019 a 3 de fevereiro de 2020, a exposição A linha como direção, que ocupa o segundo andar da Pinacoteca Estação. Com curadoria do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do museu, a mostra apresenta 12 esculturas e relevos, pertencentes ao acervo da Pinacoteca, que tem em comum o fato de apoiarem-se no elemento geométrico da linha para criar sua espacialidade, retendo, de maneira direta ou indireta, alguns dos questionamentos propostos pelo construtivismo no início do século XX. A realização dessa exposição foi possível graças ao apoio da Lei de Incentivo à Cultura.
Em 1920, os construtivistas russos conceberam o Manifesto Realista no qual defendiam “a linha como direção”. O grupo entendia esse elemento geométrico, não como sua representação gráfica, mas como forma de pontuação das forças e dos ritmos escondidos nos objetos. Também buscavam combater o preconceito secular da impossibilidade de se separar o volume da massa de um objeto. Propunham também rejeitar “o volume como forma plástica do espaço” e “a massa como elemento escultórico”.
Eles tinham em mente os exemplos da engenharia – o trilho, a viga, o arco, o contraforte – e sua capacidade de aguentar cargas e tensões sem a necessidade de quantidades enormes de material; a forma como o espaço poderia ser ocupado e os possíveis vazios gerados. Refletiam sobre a ideia de uma escultura que se afastasse da imperiosidade do monumento para proclamar — como novos valores plásticos — a leveza, a transparência, os ritmos cinéticos, o movimento e o dinamismo.
Os trabalhos reunidos nesta exposição aludem alguns pontos defendidos dentro dessa proposta construtivista. Macaparana e Joaquim Tenreiro, por exemplo, criam volumes a partir do cruzamento das linhas ortogonais ou diagonais e formam tramas e grades que transformam a planaridade da linha em tridimensionalidade, por sua aproximação e adensamento.
Willys de Castro e Luiz Hermano também operam com a modulação da linha e com ela sugerem volumes sucessivos ou alternados. Todos eles ocupam o espaço, tanto com cheios como com vazios, numa quase demonstração da possibilidade de separar o volume da massa de que também falavam os construtivistas. Sérvulo Esmeraldo joga com a nossa percepção virtual ao transformar a linha em plano e o uso da cor para sugerir cheios e vazios. Sérgio Sister, por sua vez, conhecido por seu trabalho em pintura, também aplica o elemento da cor para enfatizar as mudanças de ritmo na modulação das linhas retangulares de seus relevos.
Foram incluídos também na seleção curatorial, artistas que jogaram nova luz sobre a linhagem construtivista. Mari Yoshimoto utiliza-se das linhas quebradas e ásperas do arame farpado para construir esferas perfeitas. Ignez Turazza, Iole de Freitas e Erika Verzutti operam com a noção de uma linha que não pretende delimitar o espaço ou as forças nele atuantes, mas que se associa à especulação das coisas informes. “Essas artistas retiram sua graça justamente de seu caráter de risco, de quase-objeto – que pode ser completado pela vontade e fantasia, ou que se mantém para sempre em potência, no estado de esboço ou como vestígio, resto ou memória”, finaliza Fernanda Pitta, uma das curadoras do núcleo.