EM TEMPOS NOS QUAIS A ARTE tem sofrido com reações caluniosas ao se mostrar política, algumas instituições optaram por isentar suas mostras de qualquer tipo de militância. Outras, corajosas, dão aos curadores e artistas a voz necessária para propagar a mensagem desejada. É o caso da curadora Júlia Rebouças, que buscou obras de arte que se encaixassem no que ela define como “estratégia de hackeamento para pensar o nosso momento político”.   

Convidada para fazer a curadoria, Júlia teve pouco tempo para preparar a mostra MitoMotim, que fica em cartaz no Galpão VB até 28 de julho. Essa limitação de prazo fez com que ela optasse por focar sua pesquisa no próprio Acervo Histórico da Associação Videobrasil, o qual já conhece há algum tempo, tendo trabalhado várias vezes com a instituição. “Eu disse ‘vamos fazer um motim com o que temos aqui’”, conta a curadora. A partir daí, todo o processo da exposição foi construído com os braços e os recursos do Videobrasil.

Escolheu um momento específico da história do País para articular sua ideia. Quis, então, olhar para o momento do processo de redemocratização do Brasil, passando pelas décadas de 80 e 90. Para ela, a construção desse período reflete na realidade atual. A insurgência de um grito de resistência diante do que ela considera “tempos difíceis” levou à palavra “motim”: “Motim é levante contra uma institucionalidade. É sempre um desejo de contestação”, declara.

Luiz Roque, Geometria Descritiva, 2012, videoinstalação

Já a palavra “mito” surgiu da contestação sobre os mitos criados no decorrer da história do País, como o do “homem cordial” e o das “harmonia entre três raças”. Desta forma, o palíndromo criado na união das duas palavras se referem, de acordo com ela, a um motim do mito: “É no sentido de pensar que é preciso desconstruir os clichês identitários”.

Utilizando muito da linguagem da televisão, meio muito mais utilizado pela massa na época que nos dias de hoje, buscou também discutir o papel do discurso televisivo nas questões políticas e sociais: “Também é uma discussão sobre comunicação e mídia. Vamos descobrindo quem está representado na mídia”, acrescenta.   

Além das obras do acervo, Júlia convidou outros artistas para participar da exposição, com instalações. “É um conjunto de artistas pelos quais me interesso e acompanho. Eles são os nossos aliados nesse contexto todo”, explica. Para ela, ao mesmo tempo que eles criam diálogos também criam contrastes, mas não se opõem, e considera: “São artistas importantes para o País e que têm uma arte disruptiva e contestadora”. O grupo de convidados é formado por Artur Barrio, Marilá Dardot, Randolpho Lamonier, Rivane Neuenschwander, Sara Ramo e Traplev.


MitoMotim
Até 28 de julho
Galpão VB

Av. Imperatriz Leopoldina, 1150 – Vila Leopoldina, São Paulo


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