A artista carioca discute a poética do espaço sobre as imagens desencadeadas a partir de diferentes espaços. FOTO: Divulgação
A artista carioca discute a poética do espaço sobre as imagens desencadeadas a partir de diferentes espaços. FOTO: Divulgação

Os artistas habitam formas culturais e sociais. Os ateliês se convertem em fenômenos da memória e provocam reflexões sobre o espaço. Regina Vater é uma das pioneiras da vídeo arte e instalações no Brasil, mas se manifesta por meio da fotografia e da poesia visual para criar X-Range, reedição do livro publicado em 1977, em Nova York. A artista irrompe segredos por meio dos objetos espalhados ou organizados no espaço doméstico de quatro artistas: Hélio Oiticica, John Cage, Lygia Clark e Vito Acconci, todos seus amigos e, na época, morando no exterior.

A artista toma o espaço “como um instrumento de análise para a alma humana” como diz Gaston Bachelard, conceito que tangência X-Range. Tudo casual, porque Vater criou o livro muito antes de ter lido o pensador francês. A artista carioca discute a poética do espaço sobre as imagens desencadeadas a partir de diferentes espaços. Busca a origem e chega a uma fenomenologia da imaginação, ao visitar dezenas de casas de artistas, ateliês e escolher entre eles quatro para compor esse livro de formato inusual, feito em papel craft.

Regina tenta encontrar a presença na ausência, assim como em outros de seus trabalhos. “Ao longo de X-Range, procuro registrar, de maneira poética, como um indivíduo ou grupos de indivíduos lida com o espaço doméstico”. A artista não se prende a territórios e, onde quer que esteja, aborda o tempo e a temporalidade dos espaços como material poético. “O que me interessa é essa poesia cotidiana que o ser humano imprime ao seu entorno por meio de gestos, exposição de seu modo de ser e viver”.

Cada artista visitado recebeu um poema criado pela artista, com a impressão de partes de seu corpo e intervenções como rasgos, dobras ou pedaços de papel colados com fita adesiva. Dos 30 exemplares editados em 1977, resta apenas um, guardado por ela. O poema visual dedicado a Hélio Oiticica se transforma em performance gráfica ao mostrar uma espécie de “ninho”, com a impressão do corpo de Regina, rasgado e colado sobre ele. A nova edição mantém a performance nos 1.500 exemplares.

Paralelamente à edição do livro, produzido pela Ikrek, Regina realizou a retrospectiva Oxalá que dê Bom Tempo no MAC, de Niterói, com 70 obras, entre instalações, desenhos, séries fotográficas e vídeos. O conjunto aborda temas ligados à mulher, corpo, natureza, com curadoria de Pablo León de La Barra e Raphael Fonseca. O destaque fica para Tina América, de 1976, um dos trabalhos com forte referencial frente ao posicionamento da mulher na sociedade. A mostra é um resgate importante da obra de uma das artistas representativas da arte contemporânea brasileira.

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